Roberto Campos, economista, diplomata e político, foi um dos expoentes do pensamento liberal no Brasil

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O HOMEM QUE TINHA RAZÃO

 

Roberto Campos, dos anos 40 aos 2000, expoente do pensamento liberal no país

 

Liberal. Roberto Campos, economista, diplomata, político e escritor: na foto, aos 77 anos, faz referência ao livro “A Lanterna na Popa” (Foto: Leonardo Aversa/ 12/09/1994/ Agência O Globo)

 

Economista e diplomata participa da criação da Petrobras na era Vargas, do Plano de Metas de JK e do governo Castelo, quando cria FGTS.

 

 

Deixou um mundo muito parecido com os ideais liberais que defendeu por toda a vida

 

Roberto Campos: Elegância e senso de humor na defesa de ideias que ganharam inúmeros adeptos nos últimos anos: “Ao contrário de Eugênio Gudin, tive a sorte de ser reconhecido em vida”.

 

 

Roberto de Oliveira Campos (Cuiabá, 17 de abril de 1917 – Rio de Janeiro, 9 de outubro de 2001), senador, deputado, economista, diplomata e político brasileiro.

 

Em pleno clima de “O petróleo é nosso”, no governo Vargas, defendia capital estrangeiro na Petrobras. Em 1963, rompeu com João Goulart por discordar de sua política nacionalista. A defesa da abertura da economia valeu-lhe o sarcástico apelido de “Bob Fields”. Poucos intelectuais brasileiros angariaram tantos adversários quanto o economista, embaixador, ministro, senador, deputado e acadêmico Roberto Campos.

 

E talvez nenhum outro tenha previsto tão precisamente o futuro do país. Menino pobre de Cuiabá, Campos teve uma carreira brilhante. Colaborou com os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart. Como ministro do Planejamento de Castello Branco operou, com Octavio Gouvêa de Bulhões (1906-1990), ministro da Fazenda, a maior reforma econômica já ocorrida no Brasil.

 

Pertenceu à uma brilhante geração de economistas, liderada por Eugênio Gudin e completada por Bulhões e Mario Henrique Simonsen.

 

Campos foi imbatível propagador de ideias. Mas soube rever posições. Ajudou a criar as estatais que produziram boa parte do rombo atual nas contas públicas e depois passou a atacar a estatização. “O imbecil é aquele que não muda. Mudei e aprendei”, justificava-se. Na verdade, o que diferencia Roberto Campos de boa parte dos indivíduos que pensam à frente de seu tempo é ter sido reconhecido em vida. “Tive o prazer de me provar correto”, dizia, indisfarçavelmente satisfeito com a aprovação de boa parte da intelectualidade que antes o criticava.

 

 

 

O ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, era economista e diplomata e também assinava a coluna “Lanterna na Popa”, na Folha de S.Paulo. Ocupava a cadeira número 21 da Academia Brasileira de Letras, que havia sido ocupada pelo dramaturgo Dias Gomes.

 

Na vida política, Campos foi senador pelo PDS-MT, deputado federal pelo PPB-RJ e ministro do Planejamento durante o governo Castello Branco.

 

O economista nasceu em Cuiabá no dia 17 de abril de 1917. Era filho do professor Waldomiro de Campos e Honorina de Campos.

 

Roberto Campos atuou em diferentes áreas durante a sua vida pública. Foi economista, professor, diplomata, embaixador, colunista, ministro, senador e deputado, sendo um dos expoentes do pensamento liberal no Brasil. De origem humilde, Roberto de Oliveira Campos era filho de um professor e uma costureira e nasceu em 17 de abril de 1917, em Cuiabá, no Mato Grosso, ficando órfão de pai aos 5 anos. A família mudou-se para Minas Gerais e ele, já rapaz, seguiu para Belo Horizonte, onde foi estudar Filosofia, em 1934.

 

Três anos depois, iniciou o curso de Teologia, mas desistiu de ser padre. “Menos mal. Não daria um bom religioso por causa da rebeldia intelectual”, disse mais tarde. Estudou Economia na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, fazendo pós-graduação em Harvard e Columbia.

 

Em julho de 1944, participou da delegação brasileira na Conferência de Bretton Woods, série de reuniões que aconteceram nos Estados Unidos, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, das quais participaram 730 delegados de 44 nações aliadas, com o objetivo de reconstruir o capitalismo, estabelecendo regras financeiras e comerciais e evitando crises. Os encontros resultaram na criação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird, o Banco Mundial) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em meio às diretrizes de uma nova ordem econômica global sob a hegemonia do dólar. Como diplomata, também participou da criação da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Na década de 50, Roberto Campos colaborou com o presidente Getúlio Vargas (1951-1954). Em 1951, assessorou Vargas na elaboração do anteprojeto para a criação da Petrobras (fundada em 1953). Ele também foi um dos criadores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (instituído em 1952 como BNDE, que ganhou o “S” de social na sigla em 1982, no governo de João Figueiredo). O economista também se notabilizou por ser um dos coordenadores, durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), da formulação do Plano de Metas, tendo sido presidente do BNDES de agosto de 1958 a julho de 1959. Foi ainda embaixador do Brasil em Washington durante o governo de João Goulart (1961-1964).

 

Após o golpe militar de 64, Roberto Campos tornou-se ministro do Planejamento do general-presidente Castello Branco e, junto com Octávio Gouvêa de Bulhões, titular da pasta da Fazenda, promoveu reformas na economia e no Estado brasileiros. Ações foram tomadas para o país voltar a crescer com taxas semelhantes às da segunda metade dos anos 50, ao mesmo tempo em que se pretendia equilibrar as contas públicas e reduzir a inflação. Entre as medidas, foram criados o Banco Central (BC), o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o FGTS, e organizados o mercado de capitais e o sistema de arrecadação federal. Também foi adotada uma política salarial para segurar a inflação, além de ter sido instituída a correção monetária.

 

Na ocasião, Roberto Campos também participou da criação Instituto Nacional do Cinema. Durante o governo do general-presidente Ernesto Geisel (1974-1979), ele foi embaixador em Londres e, na volta, iniciou sua carreira parlamentar, elegendo-se em 1982 senador de Mato Grosso pelo PDS (1983-1990). Fiel ao seu partido, de sustentação do governo Figueiredo, votou em Paulo Maluf (PDS-SP) no Colégio Eleitoral, na escolha indireta que levou Tancredo Neves, o candidato da oposição a se tornar presidente eleito do Brasil. Depois, Roberto Campos, que viu suas teses liberais serem derrotadas na Assembleia Constituinte de 1988, elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro, em 1990, sendo reeleito em 1994.

 

Roberto Campos foi ex-ministro e ex-deputado, que aos 82 anos, após deixar o Congresso Nacional, retomou as palestras e reabriu sua empresa de consultoria, mantendo uma bem fornida carteira de clientes.

 

O maior deles na época foi a prefeitura do Rio de Janeiro, que lhe encomendou um plano de controle de gastos. Sua rotina de trabalho era tão intensa que Campos adiou os planos de escrever um novo livro de análise da economia brasileira.

 

Defensor apaixonado do liberalismo. Economista, diplomata e político também se revelou um intelectual brilhante. De sua intensa produção, resultaram inúmeros artigos e obras como o livro A Lanterna na Popa, uma autobiografia que logo se transformou em best-seller. Foi ministro do Planejamento, senador por Mato Grosso, deputado federal e embaixador em Washington e Londres.

 

Sua carreira começou em 1939, quando prestou concurso para o Itamaraty. Logo foi servir na embaixada brasileira em Washington, e, cinco anos depois, participou da Conferência de Bretton Woods, responsável por desenhar o sistema monetário internacional do pós-guerra.

 

Ocupou cargos importantes em governos como os de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Castelo Branco. No Congresso, se destacou como parlamentar com atuação voltada principalmente para a área econômica e foi um defensor intransigente das privatizações.

 

Os seus projetos abordavam principalmente economia de mercado, abertura econômica e sistema tributário. Teve atuação destacada na aprovação das emendas constitucionais que quebraram os monopólios públicos da Telebrás e da Petrobras, que chamava de Petrossauro.

 

No processo de impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, o parlamentar, conhecido por seus críticos de esquerda como “Bob Fields”, votou numa cadeira de rodas a favor do afastamento da Presidência daquele que se intitulara “caçador de marajás de Alagoas”. Primeiro a votar por motivos de saúde na sessão histórica do dia 29 de outubro, o deputado foi festejado pelos parlamentares da oposição, que o abraçaram. Ele sorriu e não conseguiu disfarçar a emoção.

 

Roberto Campos era conhecido pelo humor corrosivo e por escrever bem. Em 1990, começou a assinar uma coluna no GLOBO. Ele era defensor do liberalismo, da economia de mercado, da inserção do Brasil no contexto da economia internacional, da globalização e da modernização das relações entre o Estado e a sociedade. Em 1994, lançou “A lanterna na popa”, autobiografia com 1.500 páginas em que conta detalhes da convivência com John Kennedy, Margareth Thatcher, além dos presidentes brasileiros com os quais trabalhou.

 

Em outubro de 1999, Campos tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), e em seu discurso abordou temas como a defesa do liberalismo, do capitalismo democrático, além de ter criticado o estatismo e o comunismo. Para o ex-ministro da Fazenda Francisco Dornelles (atual governador interino do Rio de Janeiro), Roberto Campos foi o maior expoente do pensamento liberal que o Brasil conheceu:

Viveu toda a vida pensando no bem comum. Ocupou todos os postos que alguém pode ocupar no setor público, e em todos os lugares deixou uma marca profunda do seu trabalho e personalidade“, disse ao GLOBO, na edição do dia 10 de outubro de 2001, um dia após a morte do economista, que se casou com Stella, teve três filhos e cinco netos.

 

No fim da vida, voltou a ter sua persistência posta à prova. Depois de um acidente vascular cerebral em fevereiro de 2000, enfrentou sessões de fonoaudiologia com garra comparável à de Demóstenes, o orador grego que venceu a gagueira discursando à beira do mar com pedras na boca. Foi internado no fim de julho e, contra todos os prognósticos, voltou para casa.

 

Com sua morte, causada por um infarto agudo do miocárdio, morreu sem ver o ajuste nas contas públicas, que tanto defendeu. Mas constatou bons resultados nos programas de privatização e festejou a quebra do monopólio do petróleo. É claro que não acertou tudo. Mas o fato é que até ferrenhos opositores lhe reconhecem o direito a uma vaidade: “O mundo ficou mais parecido com minhas ideias”, dizia.

 

 

 

 

Veja a lista completa dos livros publicados por Roberto Campos

 

O economista Roberto Campos escreveu artigos técnicos, relatórios sobre desenvolvimento e economia internacional, publicados em revistas e jornais, além de romances, ensaios e memórias.

Veja a bibliografia completa de Campos:

– Economia, Planejamento e Nacionalismo – APEC Editora S.A. (1963).

– Ensaios de História Econômica e Sociologia – APEC Editora S.A. (1964).

– A Moeda, o Governo e o Tempo – APEC Editora S.A. (1964).

– Política Econômica e Mitos Políticos – APEC Editora S.A (1965).

– A Técnica e o Riso – APEC Editora S.A (1967).

– Reflections on Latin American Development – University of Texas Press (1967).

– Do Outro Lado da Cerca – APEC Editora S.A (1968).

– Ensaios Contra a Maré – APEC Editora S.A (1969)

– Temas e Sistemas – APEC Editora S.A (1970).

– Função da Empresa Privada – Gráfica Editora Rainha Lescal Ltda. (1971).

– O Mundo que Vejo e não Desejo – José Olympio Editora (1976).

– Além do cotidiano – Editora Record (1985).

– Ensaios Imprudentes – Editora Record (1987).

– Guia para os Perplexos – Editora Nórdica (1988).

– O Século Esquisito – Editora Topbooks (1990).

– Reflexões do Crepúsculo – Editora Topbooks (1991).

– A Lanterna na Popa (Memórias) – Editora Topbooks (1994).

– Antologia do Bom Senso – Editora Topbooks (1996).

– Na virada do Milênio (Ensaios) – Editora Topbooks (1998).

 

Co-autor:

 

– Trends in International Trade (Relatório do GATT).

– Partners in Progress (Relatório do Comitê Pearson do Banco Mundial).

– A Nova Economia Brasileira (com M.H. Simonsen) – José Olympio Editora (1974).

– Formas Criativas no Desenvolvimento Brasileiro (com M.H. Simonsen) – APEC Editora S.A. (1975).

(Fonte: Academia Brasileira de Letras)

 

 

 

 

 

 

Conheça a trajetória de Roberto Campos

 

O economista Roberto de Oliveira Campos, era tido por admiradores como intelectual notável e por adversários como ícone da direita e sempre despertava reações. “Sou um homem controverso, não sou homem de unanimidades”, costumava dizer.

 

Escreveu mais de 20 livros. Em 1994, lançou “Lanterna na Popa”, livro de memórias, e, em 1996, “Antologia do Bom Senso”, obra que lhe valeu o prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não-Ficção (1997). Era colunista da Folha desde dezembro de 1994.

 

Aos nove anos, entrou para um seminário em Guaxupé (MG), de onde saiu em 1937, por não ter dinheiro e idade para continuar a carreira eclesiástica.

 

No mesmo ano, mudou-se para Batatais (SP), onde conheceu Estela, com quem se casaria três anos depois e teria três filhos.

 

É a partir de 1939 que a vida de Roberto Campos começa a se misturar com a história do Brasil.

 

Após ser rejeitado para um emprego de escriturário no Ministério do Trabalho e para inspetor de ensino, prestou concurso para o Itamaraty e passou em primeiro.

 

Como adido comercial da embaixada em Washington, em 1942, Campos tomou gosto pela economia, concluindo seu doutorado pela Universidade de Columbia, em Nova York, em 1949.

 

Na doutrina econômica, adotou como guru _assim como a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher_ o austríaco Friedrich von Hayek (1899-1992), ultraliberal e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1974.

 

Campos começou sua participação mais efetiva na política na década de 50. No governo Getúlio Vargas (1951-1954), participou da criação da Petrobras – seu projeto original previa uma empresa mista sob controle majoritário do Estado, não uma estatal.

 

Depois de um ano como presidente do BNDES, foi nomeado, em 1959, embaixador nos EUA.

 

Em abril de 1964, após a instauração do regime militar, tornou-se ministro do Planejamento do governo Castello Branco.

 

Em 1992, notabilizou-se por ter dado o primeiro voto favorável na sessão que definiu a abertura de processo de impeachment de Fernando Collor. Campos foi a Brasília especialmente para a sessão, preso a uma cadeira de rodas devido a uma septicemia (infecção generalizada).

 

Em outubro de 1999, causou nova polêmica ou se candidatar à vaga de Dias Gomes na Academia Brasileira de Letras. A mulher do dramaturgo, Bernadeth Lyzio, ameaçou transferir o corpo do marido do mausoléu da ABL por causa da candidatura, e um grupo, entre eles Barbosa Lima Sobrinho, Celso Furtado e João Ubaldo Ribeiro, se opôs ao nome de Campos. Sobre a polêmica, Campos falou: “As esquerdas queriam criar uma reserva de mercado” para as vagas que surgissem na academia. Foi eleito.

 

Roberto Campos morreu aos 84 anos, em sua casa, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, devido a um infarto agudo do miocárdio, quando estava dormindo em seu apartamento em Ipanema, na Zona Sul do Rio. O estado de saúde de Campos vinha se deteriorando desde que sofrera uma isquemia cerebral, em fevereiro de 2000. O sepultamento do economista foi no mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

 

De acordo com o médico Roberto Zani, da equipe médica que atendia Campos, a causa da morte foi infarto agudo do miocárdio, ocorrido quando Campos estava dormindo.

 

Segundo o neurologista Sergio Novis, outro integrante da equipe médica, a morte foi inesperada, já que o ex-ministro vinha se recuperando bem dos problemas de saúde que o levaram a ser internado na clínica São Vicente, na Gávea (zona sul), no final de julho. “Ele estava lúcido e com a diabetes sob controle”, disse.

 

Roberto Campos passou 29 dias na clínica, em consequência de uma pneumonia e de distúrbios gastrointestinais. Nesse período, foi submetido a uma tomografia computadorizada, na qual os médicos constataram que ele não teve nenhum dano neurológico posterior à isquemia (redução ou suspensão do fluxo sanguíneo) cerebral que sofreu em fevereiro de 2000.

 

“Foi um homem que esteve presente em todos os momentos importantes da história do Brasil no pós-guerra. Sempre polêmico, lutou pelos seus sonhos e se manteve coerente com seus princípios”, disse o então presidente Fernando Henrique Cardoso ao GLOBO, na edição de 11 de outubro de 2001.

(Fonte: Revista Veja, 17 de outubro de 2001 – ANO 34 – Nº 41 – Edição 1722 – Memória / O HOMEM QUE TINHA RAZÃO / Por Lucila Soares – Pág: 116/123)

(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com – EM DESTAQUE – CULTURA/ Por Adriana Lima* – 04/10/16)

* com edição de Matilde Silveira

Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil FOLHA DE S.PAULO – BRASIL – PODER / da sucursal do Rio e da Folha Online – 09/10/2001)

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. 
(Fonte: Correio do Povo – ANO 116 – Nº 199 – CRONOLOGIA – 17 de abril de 2011)

(Fonte: Veja, 14 de julho de 1999 – ANO 22 – Nº 28 – Edição 1606 – HOLOFOTE – Pág: 33)

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