Primeiro brasileiro a comandar uma maison internacional

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Estilista Ocimar Versolato foi o primeiro brasileiro a assumir a direção criativa de uma maison internacional

 

 

Ocimar Versolato foi o primeiro brasileiro a assumir a direção criativa de uma maison internacional – (Foto: Marco Antônio Teixeira / Marco Antônio Teixeira)

 

 

Ocimar Versolato: auge na moda, autoexílio, estilista experimentou a fama na alta costura de Paris

 

Ocimar Versolato em foto publicada em 2014 (Foto: Reprodução/Facebook)

 

 

“A moda passa, o estilo fica”, sentenciou Coco Chanel.

Ocimar Versolato (São Bernardo do Campo, 1° de abril de 1961 – São Paulo, 8 de dezembro de 2017), estilista paulista, destaque no mundo internacional da moda, foi o primeiro brasileiro a comandar uma maison internacional, a Lanvin, em Paris.

Ocimar Versolato experimentou o ápice na carreira: foi o estilista de uma grande casa de moda parisiense, a Lanvin. Mas a parceria terminou em frustração.

Mesmo assim, a visibilidade internacional conquistada na década de 1990 o colocou em patamar superior ao ocupado pela maioria dos designers brasileiros.

Conhecido por seu perfeccionismo, o designer despontou na moda na primeira metade da década de 1990. Dirigiu a linha feminina da Lanvin, desfilou na semana de alta-costura (sendo aceito pela Chambre Syndicale de la Haute Couture, maior entidade da moda francesa), lançou o livro “Vestido em Chamas” e assinou figurinos para espetáculos de Ney Matogrosso.

Versolato, saído de São Bernardo do Campo, cidade industrial do ABC paulista, atingiu tamanha badalação em seu auge que mereceu capas de ‘Caras’ – tipo de futilidade tão desejada quanto desprezada no mundo fashion.

Assediado por celebridades, vestiu Tônia Carrero, Naomi Campbell, Ney Matogrosso, Luiza Brunet, Betty Lago, Edson Cordeiro e Sonia Braga, para quem criou o figurino de Tieta no filme homônimo de Cacá Diegues, em 1996.

Nascido em São Bernardo do Campo, em abril de 1961, Ocimar Versolato desembarcou em Paris, em 1987, para estudar Moda no Studio Berçot. Passou um período trabalhando no ateliê do estilista francês Hervé Léger e inaugurou o seu próprio espaço, em 1994, na capital francesa. Fez fama com vestidos criados a partir da técnica moulage, em que a roupa é construída direto no manequim. No fim da década de 1990, com a ajuda do grupo Pessoa de Queiroz, abriu um ateliê na Place Vendôme. A sociedade acabou não dando certo e Ocimar retornou ao Brasil e começou uma expansão, no anos 2000, com novos sócios. Abriu lojas em São Paulo e no Rio, que fecharam as portas em 2005. Em 2009, ele lançou a Ocimar Versolato Cosmetics, marca de maquiagem e perfumes.

Para ele, desfilaram as tops Gisele Bündchen, Fernanda Tavares, Shirley Mallmann, Silvia Pintor, Karen Mulder e a atriz sueca Emma Sjöberg.

Adepto do hollywoodianismo, criava vestidos para divas: brilho, volume, decote, dramaticidade, volúpia. “O meu trabalho é realizar o sonho das pessoas”, disse em entrevista no ‘Roda Viva’, da TV Cultura, em 1995.

O estilista costumava dizer que o luxo mora nos detalhes e que um bom profissional tem que saber vestir qualquer mulher, independentemente do número de seu manequim. “Já vesti cantora de ópera de 140 quilos, uma diva egípcia que ia se apresentar no Théâtre de la Ville. Ela gostou tanto do vestido que depois mandou cortar a cauda e fez cortinas para o apartamento dela em Paris”, disse Ocimar em entrevista a Sonia Braga, publicada pelo O GLOBO, em outubro de 2004. Sonia foi uma das maiores entusiastas do designer. Os dois se conhecerem quando o paulista criou o figurino de “Tieta do Agreste”, filme de Cacá Diegues baseado no romance homônimo de Jorge Amado.

Crise financeira e decadência da imagem fizeram Ocimar afastar-se dos holofotes. O sucesso inicial jamais foi repetido. “Fui melhor estilista do que empresário”, admitiu.

Nos últimos anos, raramente aparecia em eventos públicos e evitava contato com a imprensa. Trabalhava no mercado financeiro, longe do glamour das passarelas.

No Instagram, ele registrava encontros frequentes com amigos igualmente estelares, como o premiado fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, com quem esteve na última viagem a Paris, em outubro de 2017.

Versolato, que também trabalhou com Gianni Versace e teve sua própria grife, foi prova viva de uma sabedoria popular: o difícil não é conquistar a fama, e sim mantê-la por muito tempo.

Em 2001, entrevistado pela revista ‘IstoÉ’, fez uma autoanálise. “Tive o meu momento. A grande sacada é não deslumbrar. Porque a moda é um meio muito efêmero.”

Aproveitou a ocasião para alfinetar os estilistas da São Paulo Fashion Week que faziam questão de desprezar sua história: “Ocimar Versolato é criação, não é cópia”.

Versolato morreu dia 8 de dezembro de 2017, em São Paulo, aos 56 anos, vítima de um aneurisma, no Hospital São Paulo.

 

— A moda perde um grande e polêmico talento. Denner e Clodovil pareceriam ingênuos diante de todas as controvérsias que pontuaram a vida de Ocimar, que era tecnicamente brilhante e foi o primeiro brasileiro a assumir a direção criativa de uma maison internacional, a Lanvin — comenta a editora de moda Lilian Pacce — Tinha muito domínio da técnica, era muito sedutor com as pessoas.

 

Ocimar Versolato para a Lanvin, inverno 1997/1998 – (Foto: AP)

 

 

— Ocimar estava repleto de planos, como a abertura de uma nova empresa, e pensava numa exposição de fotografias feitas por ele — conta o arquiteto e paisagista Alex Hanazaki, amigo do estilista por mais de 20 anos. — Ocimar era brilhante, engraçado, dono de um humor sarcástico e inteligente que fará uma grande falta.

— Acompanhei toda a ascensão do Ocimar, em Paris — aponta Mario Canivello, que trabalhou ao lado do paulista por 13 anos (1993-2006), o ajudando na construção da imagem da marca. — Durante os anos mais recentes, a imprensa brasileira especializada em moda passou a ignorar o nome do Ocimar como se ele jamais tivesse existido, muito por conta dos embates que ele travou com jornalistas enquanto estava no auge. Mas um dia ainda irão reconhecer que ele foi o maior estilista que o país produziu. Ocimar esteve para a criação assim como Gisele está para as passarelas.

 

 

Sonia Braga e Ocimar Versolato: inauguração da loja do estilista, em 2004, em Ipanema – (Foto: Marcos Ramos/ O Globo)

 

 

— Sabia que ele estava chegando em São Paulo e tinha combinado de encontrá-lo hoje, possivelmente. Seria o nosso reencontro depois de tantos anos. Antes de sair do Rio, estive com um amigo em comum, falamos muito de Ocimar, vimos fotos nossas dos anos 90 e combinamos de vê-lo. Sempre tive muito carinho por ele. Era incrivelmente criativo. Quando fui a Paris para fazer a prova do figurino de “Tieta”, entendi todo o seu talento ao vivo. Ainda não consigo entender esse nosso desencontro — diz Sonia.

Com Ney Matogrosso, o estilista manteve uma longa parceria criativa, iniciada em 1994.

 

— Fazíamos tudo juntos. Às vezes, eu vinha com uma ideia. Não tinha limite. Éramos pessoas bem diferentes, mas existia liberdade. Ele foi longe. Estava em Paris quando ele assumiu a Lanvin e pude ver que o reconhecimento era, de fato, internacional — destaca Ney.

Entre os colegas de profissão, Ocimar era tido como genial e difícil.

— Nos conhecemos quando ele ainda estava em Paris, tinha um enorme respeito e admiração por Ocimar. Sempre que vinha ao Brasil, nos encontrávamos. Muito triste. Perdemos um dos maiores talentos da moda brasileira — destaca a ex-modelo Betty Prado.

 

 

 

Ney Matogrosso com look assinado por Ocimar Versolato – (Foto: Marcos Ramos)

 

 

 

— Ele foi um grande criador, mas foi também um grande criador de confusão, né? Se tivesse tido um outro temperamento, poderia ter ido ainda mais longe, ao topo da montanha mais alta do mundo, porque era extremamente genial.Quando nos conhecemos, ele não foi muito delicado comigo, mas são águas passadas, perdoei. Sempre vou o considerar um dos estilistas mais bacanas que já tivemos no Brasil — observa a ex-modelo e empresária Luiza Brunet.

 

— Seu temperamento realmente não era fácil, mas Ocimar tinha um coração doce. Era leal aos amigos. Era extremamente ciumento. Mas não era uma coisa ruim. Era brando, do bem — comenta a relações públicas Mônica Mendes, que conheceu o estilista ainda nos 1980, na época em que ele era um estudante do Studio Berçot. — Ocimar era genial. Já o vi pegando uma musseline e transformá-la num look lindo no corpo da modelo.

— Havia essa questão do temperamento, sim! O que o salvava era o talento. Isso era indiscutível. Ele era maravilhoso. Mas quando se é amigo de alguém, tem que se admitir a opinião do outro. Tínhamos conversas francas sobre esse tema — acrescenta Ney Matogrosso, continuando: — Estou perdendo um grande amigo.

O enterro do estilista foi no Cemitério Municipal da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.

 

 

Confira imagens da carreira de Ocimar Versolato

Relembramos a trajetória do estilista paulista:

 

Na imagem, o inverno 1998/1999, apresentado na capital francesa (Foto: REUTERS)

 

 

Ocimar Versolato

Inverno 1998/1999, em Paris Foto: REUTERS

 

 

Ocimar Versolato

A coleção de verão 1999 de alta-costura Ocimar Versolato Foto: AP

 

 

 

Ocimar Versolato, verão 1999, desfile em Paris (Foto: AP)

 

 

 

Ocimar Versolato, verão 2000, em Paris (Foto: AP)

 

 

Em 2002, a supermodelo inglesa Naomi Campbell amostrou criação do estilista Ocimar Versolato, em São Paulo (Foto: REUTERS)

 

 

 

Em 2002, Naomi e Fernanda Tavares em apresentação de Ocimar Versolato, em São Paulo (Foto: Paulo Whitaker / REUTERS)

 

(Fonte: https://oglobo.globo.com/ela/moda – ELA / MODA / POR O GLOBO – 09/12/2017)

(Fonte: https://www.terra.com.br/diversao/tv/blog-sala-de-tv – DIVERSÃO – SATA DE TV / Por Jeff Benício – 9 DEZ 2017)

Blog Sala de TV – Todo o conteúdo deste blog é de responsabilidade do blogueiro que o assina.

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