Pauline Kael, uma das mais influentes e respeitadas críticas de cinema dos Estados Unidos.

0
Powered by Rock Convert

Kael estabeleceu os padrões americanos de crítica de cinema, a crítica mais influente do cinema americano

Pauline Kael (Petaluma, Califórnia, 19 de junho de 1919 – Barrington, Massachussetts, 3 de setembro de 2001), crítica de cinema e da polêmica, uma das mais influentes e respeitadas críticas de cinema dos Estados Unidos.

Kael era famosa principalmente graças às críticas implacáveis publicadas entre 1968 e 1991 na revista The New Yorker.

Durante este período, Kael tornou a seção de cinema em uma das mais populares da influente revista americana.

De 1968 a 1991, ela escreveu para a revista “The New Yorker”, com uma breve interrupção, entre 1979 e 1980. Antes, trabalhara para a “Life” (1965), para a “McCall´s” (1965 e 66) e a “The New Republic” (1966 e 67). No Brasil, foram publicadas, recentemente, duas coletâneas de artigos seus: “1.001 Noites de Cinema” (Companhia das Letras, 1994) e “Criando Kane” (Record 2000). “Criando Kane”, principal artigo do livro mais recente ajuda a entender o método e a forma que transformaram Pauline numa referência obrigatória, ainda que não seja necessário concordar sempre com ela. 

Nele, Pauline discute a importância de Herman Mankiewicz na elaboração do roteiro de “Cidadão Kane”, de Orson Welles, talvez o nome que mais costuma receber o aposto de “o maior gênio da história do cinema”. O texto saiu em duas partes, publicadas em edições consecutivas da “New Yorker”, em 1971. Provocou uma reação irada de Welles, publicada no jornal britânico “The Times”. Além de relativizar o papel do cineasta, ela considera o “macete de rosebud” (a palavra que Kane pronuncia antes de morrer e que se transforma no fio condutor da obra) de um freudismo primário.

Também percebe que há uma falha na construção do roteiro: quando Kane morre, não há ninguém no quarto – portanto, não se poderia saber da existência do tal rosebud. Os problemas que aponta, no entanto, não fazem com que ela deixe de considerar “Cidadão Kane” uma grande obra de arte.

A polêmica nasce especialmente porque Pauline argumenta que, sem a mão de Herman Mankiewicz, um escritor que terminou esquecido e morreu cedo, vítima de alcoolismo, Kane não existiria. Porque apenas ele conhecia o milionário William Randolph Hearst o suficiente para construir uma história multifacetada de um grande proprietário de veículos de comunicação. Pauline foi estudante de filosofia e essa formação parece ter influenciado profundamente seu modo de pensar os filmes e escrever sobre eles.

As artes não se bastavam nelas próprias. Sobre “O Último Tango em Paris” (1973), de Bernardo Bertolucci, ela escreveu, por exemplo, que este fora um evento comparável à primeira execução de “Sagração da Primavera”, de Stravinski, em 1913. Referências literárias como Normam Mailer, Saul Bellow e Jean Genet. Analisava os filmes como fatos culturais, não apenas como diversão de cinéfilos. Sabia quando devia ser mais agressiva e quando seu papel era outro. “Tento não ser dura com filmes menores. Geralmente, sou de fato dura quando sei que algo vai ser um estouro, e todos vão vê-lo, e o acho uma atrocidade.”

Veja, por exemplo, o que disse sobre o recente “Gladiador”, após o Oscar: “Fiquei chocada como ´Gladiador´ é tecnicamente ruim. Tem a pior edição e é absurda a escolha daquele ator – qual é seu nome? – como gladiador: você olha para ele flexionando os músculos e tem vontade de rir. Parece um dos três patetas.” Seu estilo, duro e ao mesmo tempo engraçado, gerou uma legião de seguidores, nomeados pauletes.

“Acho que minha influência foi maior no estilo, não na substância. Outros críticos se parecem comigo porque minha maneira de escrever os influenciou. Raramente eles concordam comigo sobre os filmes”, afirmou ela, certa vez. O interesse de Pauline pelo cinema começou na infância. Nascida em 1919, em Petaluma, Califórnia, sua família se mudou para São Francisco quando ela tinha 8 anos.

Pauline contava que, mais tarde, teria problemas com os namorados porque costumava discordar deles depois de sair das salas de cinema: “Um garoto ficou tão irritado porque ri em ´Kentucky Moonshine´ que nunca mais fomos ver um filme novamente.” Apesar disso, apenas aos 35 anos escreveu sua primeira crítica. Sua carreira na “New Yorker” começou quando ela chegava aos 50 anos.

Já se disse que Pauline Kael é, hoje, menos importante pelo que disse do que pela maneira como disse.

Com efeito, o que caracterizou a crítica da “The New Yorker”, foi antes de tudo a maneira desabusada de formular suas opiniões, assim como a arte de mostrá-las incisivas e, não raro, em choque com o pensamento geral.

Não é qualquer um que detona um filme de prestígio como “Rain Man” a um exemplar “kitsch”. Nem, muito menos, que acusa um Michelangelo Antonioni de saturar seus filmes com um “simbolismo confuso”.

No absurdo da última formulação (pode-se acusar Antonioni de tudo, menos de simbolista) encontra-se, de certa forma, o limite dessa que alguns chegaram a considerar a mais importante crítica de cinema da história.

Pauline Kael não teve ideias especialmente fortes a respeito do cinema. Seria absurdo colocá-la lado a lado com um André Bazin, por exemplo. A capacidade de gerar polêmica, ao contrário, foi o ponto forte de seu trabalho.

Ninguém dirá que faltava a Kael inteligência e cultura. Isso é o que mais esbanjou em seus escritos. No entanto, até sua aposentadoria, em 1991, pesou a seu favor o fato de não ter dado curso à distinção entre alto e baixo cinema.

O centro de seu pensamento, nesse sentido, talvez seja o combate à “teoria do autor” de seu colega Andrew Sarris, que adaptava para o contexto norte-americano a política dos autores da revista “Cahiers du Cinéma”.

Sarris e Kael polemizaram não poucas vezes, e talvez esse combate tenha ajudado a consagrar a ambos como os mais carismáticos críticos de cinema dos Estados Unidos.

Se de certa forma ajudou, com sua influência, a consagrar cineastas como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Bernardo Bertolucci, se fez justiça -retrospectivamente- ao trabalho de um Preston Sturges, suas mancadas são da mesma estatura (ou ainda maiores) e denunciam o problema maior de sua visada: o hábito de olhar o cinema filme a filme.

A mais célebre consiste na tentativa de reduzir a importância do trabalho de Orson Welles em “Cidadão Kane”, atribuindo o essencial de seus méritos ao roteirista Herman Mankiewicz.

Ninguém nunca pôs em dúvida a importância do trabalho do irmão de Joseph L. Mankiewicz para “Cidadão Kane”. Mas o que seria de “Kane” sem os planos-sequência ou a profundidade de campo que colocava em foco todas as partes de uma cena?
A empreitada de Kael, nesse sentido, padece de sua recusa em observar o trabalho de um artista em continuidade -a coerência da obra de Welles persiste em cada um de seus filmes.

Se algumas de suas opiniões não sobrevivem ao tempo, Pauline Kael é uma escritora que ainda se deixa com prazer, tanto pelo estilo e pela veia polêmica, como pela coragem de não se deixar levar pela opinião geral.

Este o essencial de seu legado: a força do caráter, a combatividade, a recusa de se deixar levar por publicidade ou reputação prévia, o gosto de formular opiniões que, concorde-se ou não, sempre foram extremamente pessoais.

Suas críticas ajudaram a firmar as reputações de cineastas como Martin Scorcese, Robert Altman e Steven Spielberg.

Ela também escreveu 10 livros, entre eles a elogiada coletânea de resenhas Lost it at the Movies.

Kael nasceu na Califórnia, e passou a infância em uma fazenda.

Filosofia

Ela estudou filosofia na Universidade da Califórnia e escreveu sua primeira crítica em 1953, para uma revista de São Francisco.

Kael trabalhou para publicações como Film Quarterly, Mademoiselle, Vogue, New Republic e McCalls, antes de se fixar no New Yorker.

Ela ficou conhecida pelo estilo irônico e pela mania de não seguir a opinião da maioria.

Entre suas resenhas mais famosas está o seu ácido comentário sobre o filme The Sound of Music (A Noviça Rebelde), que ela intitulou The Sound of Money (O Som do Dinheiro).

Ela atacou o filme Dança com Lobos de Kevin Costner, dizendo que seu diretor, Kevin Costner, “tinha penas nos cabelos e na cabeça também”.

Kael não poupava filmes considerados clássicos, que muitas vezes ela chamava de “pretensiosos”, como O Ano Passado em Marienbad e Blow Up.

Entre os filmes favoritos dela estavam Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas, O Poderoso Chefão e O Último Tango em Paris.

Seus atores preferidos eram Marlon Brando, James Mason, Barbra Streisand e Jane Fonda.

Pauline morreu aos 82 anos em 3 de setembro de 2001, do mal de Parkinson, em sua casa em Barrington, no estado americano de Massachussetts.

Pauline sofria do mal de Parkinson e, por causa da doença, afastou-se, em 1991, do trabalho cotidiano.

(Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010904 – NOTÍCIAS – 4 de setembro, 2001)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0509200111 – CINEMA – Por INÁCIO ARAUJO/ CRÍTICO DA FOLHA – FOLHA DE S.PAULO – 5 de setembro de 2001)

(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema – CINEMA – GUIA DE CINEMA – CULTURA – Agencia Estado, 4 Setembro 2001)

Powered by Rock Convert
Share.