Marc Riboud, fotógrafo e repórter francês, conhecido por imagens como a da jovem com uma flor diante de fuzis em Washington, ou a do pintor da Torre Eiffel

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Histórico do fotojornalismo francês, notabilizou-se pela cobertura da revolução cultural chinesa e das independências africanas.

Artista ficou conhecido por fotos como a da jovem com uma flor diante de fuzis em Washington, em protesto contra a Guerra do Vietnã, em 1967

 

Uma das mais icônicas fotografias de Riboud foi tirada em Washington, em 1967, numa marcha contra a Guerra do Vietname (Foto: REUTERS/MARC RIBOUD/HANDOUT VIA SONY WORLD PHOTOGRAPHY AWARDS)

Uma das mais icônicas fotografias de Riboud foi tirada em Washington, em 1967, numa marcha contra a Guerra do Vietname (Foto: REUTERS/MARC RIBOUD/HANDOUT VIA SONY WORLD PHOTOGRAPHY AWARDS)

 

Marc Riboud (Saint-Genis-Laval, Lyon, 24 de junho de 1923 – Paris, 30 de agosto de 2016), fotógrafo e repórter francês, conhecido por imagens como a da jovem com uma flor diante de fuzis em Washington, fazia parte do grupo de fotógrafos cujas imagens são mundialmente conhecidas, como a “Fille à la fleur” (Menina com flor), que mostra uma militante contra a guerra do Vietnã enfrentando as baionetas dos soldados, ou a do pintor da Torre Eiffel

Mais fotógrafo do que fotojornalista, ele gostava de capturar, em preto e branco, imagens de momentos cruciais em um mundo em mudança. Seu olhar era capaz de captar instantes de graça e fotos como “Peintre de la Tour Eiffel” (Pintor da Torre Eiffel) viraram ícone no século XX.

 

Pintor da Torre Eiffel em 1953, sem nenhuma proteção virou ícone no século XX. (Foto: manigna.blogspot.com/Divulgação)

Pintor da Torre Eiffel em 1953, sem nenhuma proteção virou ícone no século XX. (Foto: manigna.blogspot.com/Divulgação)

 

Riboud nasceu em Saint-Genis-Laval, comuna de Lyon (Leste), em 24 de junho de 1923, em uma família de 7 filhos, irmão de Antoine, futuro fundador e presidente do gigante do setor agroalimentício Danone, e de Jean, que presidiria a Schlumberger (empresa de serviços petroleiros), e tirou suas primeiras fotografias na Exposição Universal de Paris de 1937 com uma câmera Vest-Pocket, presente do seu pai quando completou 14 anos.

Em 60 anos de carreira, suas fotos foram publicas em inúmeras revistas, como Life, Geo, National Geographic, Paris Match e Stern.

Em 1944, ele participou das lutas da resistência francesa contra a ocupação do país pela Alemanha nazista e no ano seguinte começou a estudar engenharia, carreira que abandonou no início dos anos 1950 para se dedicar à fotografia. Foi quando entrou na agência Magnum — da qual chegou a ser presidente — pelas mãos de Henri Cartier-Bresson e de Robert Capa, que em sua primeira missão o enviou para Londres.

Nos anos seguintes, passou longos períodos na Ásia: foi de carro para a Índia em 1955, passando pelo Oriente Médio e pelo Afeganistão, e chegando na China dois anos depois. Após uma estadia de três meses na União Soviética, em 1960, cobriu as independências da Argélia e de muitos países do África negra, e no final desse ano foi um dos poucos fotógrafos ocidentais que conseguiram entrar no norte do Vietnã em pleno conflito.

Desde os anos 1980, são organizadas exposições de sua obra em cidades como Paris, Londres, Nova York, Pequim, Hong Kong, entre outras.

Marc Riboud, um dos históricos do fotojornalismo francês

Marc Riboud (Foto: Philippe Vermès/Divulgação)

Marc Riboud (Foto: Philippe Vermès/Divulgação)

Recebeu a sua primeira máquina fotográfica, uma Kodak Vest Pocket, quando tinha 14 anos. Foi um presente do pai, o mesmo que insistiu para que estudasse engenharia, curso que nunca lhe interessou.

Mesmo os que não conhecem o seu trabalho, é muito provável que já se tenham cruzado com alguma das suas fotografias da China de Mao, do Vietnã ou do Camboja. Mesmo os que nunca viram as suas reportagens no Extremo Oriente e no continente africano – fotografou intensamente o Japão e os processos independentistas – é natural que já tenham sido confrontados com uma das suas imagens mais celebradas, a de uma jovem americana chamada Jan Rose Kasmir que, segurando apenas uma flor, enfrenta a Guarda Nacional Americana durante uma manifestação no Pentágono em 1967, um protesto que viria a ser fundamental para colocar a opinião pública definitivamente contra a Guerra do Vietnã.

Trabalhando para importantes publicações ao longo de mais de 60 anos de carreira – LifeGeoNational GeographicParis-MatchSternThe Observer,The Times -, chegando mesmo a assinar alguns dos textos que acompanhavam as suas grandes reportagens fotográficas, Riboud deu-nos sempre a sua visão humanista do mundo. É essa abordagem sensível à realidade, sublinhada por críticos e historiadores da fotografia a cada nova exposição sua, a cada novo livro, que os obituários que os jornais e revistas agora lhe dedicam evocam. Isto a par da mestria com que dominava o preto-e-branco e a cor, criando imagens que ficavam impressas na memória, cristalizando momentos da história através de lugares e protagonistas, como o Presidente da Polônia Lech Walesa, o líder comunista vietnamita Ho Chi Minh, o fundador da República Popular da China Mao Tse-tung, o histórico revolucionário cubano Fidel Castro ou o oficial nazista Klaus Barbie, o “carniceiro de Lyon”, condenado por crimes contra a humanidade na década de 1980.

“Marc foi o homem que mais fotografias históricas fez durante a vida”, disse ao diário francês Le Monde Jean-François Leroy, diretor do festival de fotojornalismo Visa pour l’image, em Perpignan, que nesta edição consagra uma das exposições a Riboud, centrando-se na sua reportagem em Cuba, em 1963. “Muitos fotógrafos se inspiraram nele sem jamais o igualar.” É também o seu talento para se aproximar das pessoas e captar a realidade em momentos-chave que Alain Genestar, diretor da revista Polka, especializada em fotojornalismo, destaca: “Marc Riboud era um fotógrafo-andarilho […]. Sabia captar tão bem momentos singulares, com grande figuras mundiais, como cenas de rua.”

Colocado perante momentos que ficariam para a história, Marc Riboud não foge às figuras que são notícia, mas também não se concentra exclusivamente nelas. Das centenas e centenas de fotografias que tirou em países como a China, o Camboja, o Bangladesh, a Índia, o Tibete, o Paquistão, a Turquia ou o Japão, apenas um punhado se centra em pessoas, sobretudo líderes políticos, que viriam a merecer a atenção de historiadores e outros acadêmicos, escreve o New York Times, num texto em que noticia a sua morte e em que lembra, entre outras coisas, que o fotojornalista francês sempre soube encontrar “momentos de graça” nas situações mais duras com que se foi cruzando em todo o mundo, muitas delas em cenários de conflito.

Imagens da exposição Marc Riboud 'Gazes: 50 Years of Photography na Galeria Hermes, Nova Iorque, em 2005 (Foto: PATRICK MCMULLAN/GETTY IMAGES)

Riboud fotografa os incontornáveis – de Charles de Gaulle ao ayatollah Ruollah Khomeini, de Mikhail Gorbachev a Indira Gandhi, passando por Willy Brandt, Winston Churchill, Jawaharlal Nehru e Deng Xiaoping – mas também os miúdos que parecem brincar aos polícias e ladrões nas ruas de Xangai, as mulheres rodeadas de crianças numa fonte de Istambul, as festas de aristocratas na Irlanda do final dos anos 70 ou dois homens que param, à conversa, numa esquina de Argel, em 1963, um ano depois de declarada a independência da ex-colônia francesa.

Nascido em 1923, perto de Lyon, numa família de banqueiros e industriais, Marc Riboud recebeu do pai, fotógrafo amador, a primeira câmara, um instrumento com que este esperava compensar a timidez do quinto dos seus sete filhos: “Se não sabes falar, talvez saibas olhar”, ter-lhe-á dito, escreve esta quarta-feira o jornal Libération.

No começo a fotografia é apenas o passatempo de um rapaz burguês que mostrara algumas imagens na Exposição Universal de Paris, em 1937, e que em 1944 se iria juntar à resistência francesa para combater os alemães. Só nove anos mais tarde, e depois de completado o curso de Engenharia Mecânica em 1948, passa a ser uma ocupação a tempo inteiro e a título oficial, quando Riboud entra para a prestigiada agência Magnum, a convite de dois dos homens que a tinha fundado em 1947, Henri Cartier-Bresson e Robert Capa. Os dois fotojornalistas tinham visto nas páginas da revista Life aquela que viria a ser uma das suas fotografias mais reproduzidas – conhecida como “Pintor da Torre Eiffel”, mostra um operário em equilíbrio, de cigarro na boca, que parece saído de um filme de Chaplin.

Cartier-Bresson, aliás, fora-lhe apresentado pouco tempo depois de Riboud se ter mudado para Paris, em 1952, passando a ser o seu mentor. Dizia-lhe que livros ler e que exposições visitar, lembrou o fotojornalista ao New York Times: “Ensinou-me coisas sobre a vida e sobre a arte da fotografia.”

Com a chegada à Magnum, Marc Riboud transforma-se no viajante incansável que seria praticamente durante toda a sua vida. Em 1957 é um dos primeiro europeus a percorrer, fotografando, a China comunista, território que troca pelo Japão, primeiro, e depois pela URSS. Era lá que estava há três meses quando é chamado para cobrir os movimentos independentistas na Argélia e na África subsariana. Estava-se em 1960. O final dessa década – 1968/1969 – encontra-o no Vietnam, território hostil, em guerra, onde poucos fotógrafos eram autorizados a entrar e ainda menos eram capazes de se movimentar sem dificuldades de maior entre o Norte e o Sul.

Riboud fotografa intensamente para a agência até 1979, quando decide sair por não lhe agradar, explicou, a “luta pela glória” que ali se promovia. Nas décadas de 1980 e 90 regressa com frequência à Ásia, em particular à China, cujas mutações acompanha durante 40 anos.

Escreve o diário norte-americano que, ao contrário de alguns fotógrafos, que temem ver o seu trabalho reduzido a duas ou três imagens, Marc Riboud não se importava de explicar, uma e outra vez, em que circunstâncias tirara a fotografia do pintor na Torre Eiffel ou da “jovem da flor”, garantindo que a nenhum deles pedira para posar. “Sempre fui tímido e sempre tentei ignorar as pessoas que fotografava para que elas também me ignorassem”, dizia o homem que em 2000, num ensaio a que deu o título de Pleasures of the Eye, resume assim a sua relação com a fotografia: “A minha obsessão é fotografar a vida naquilo que tem de mais intenso e o mais intensamente possível. É uma mania, um vírus tão forte como o meu instinto de liberdade.”

Marc Riboud morreu em 30 de agosto de 2016, em Paris, aos 93 anos de idade, na sequência de uma longa doença de Alzheimer. A morte foi anunciada no site oficial de Riboud, com uma imagem do fotógrafo com uma câmera fotográfica na mão e a frase de um papa da Idade Média: “Ver é o paraíso da alma”.

(Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia – CULTURA ÍPSILON/ Por  – 31/08/2016)

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