Foi a primeira criança a quebrar a segregação racial escolar nos EUA

0
Powered by Rock Convert

Linda Brown, foi a primeira criança a quebrar a segregação racial escolar nos EUA, ícone da luta contra a segregação racial nas escolas dos EUA

 

Recusa de escola em a aceitar como aluna provocou histórica decisão do fim da doutrina de segregação racial na educação pública americana.

 

Linda Brown com seus dois filhos, em imagem de abril de 1974 (Foto: AP Photo, File)

 

Em 1951, uma escola frequentada exclusivamente por brancos recusou matricular Linda Brown. Oliver, o pai, levou o caso à justiça. Três anos depois, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos legislava a proibição de segregação racial nas escolas do país, abrindo caminho para a luta pelos Direitos Civis. Linda Brown tornou-se um símbolo dessa luta.

 

Portrait of nine-year-old African-American student Linda Brown as she poses outside Sumner Elementary School, Topkea, Kansas, 1953. When her enrollment in the racially segregated school was blocked, her family initiated the landmark Civil Rights lawsuit 'Brown V. Board of Education,' that led to the beginning of integration in the US education system. (Photo by Carl Iwasaki/The LIFE Images Collection/Getty Images)

Em 1951, Linda Brown não foi aceite na escola de Topeka, no Texas. Três anos depois era considerada inconstitucional a segregação racial nas escolas públicas americanas (Foto: CARL IWASAKI/THE LIFE IMAGES COLLECTION/GETTY IMAGES)

 

Luta contra o preconceito

Linda Brown (Topeka, capital do Kansas, 1941 – 25 de março de 2018) , foi uma americana negra que quando criança motivou o julgamento que proibiu a segregação racial nas escolas de seu país, uma mulher do Kansas que na década de 1950 ficou famosa por um processo que proibiu a segregação racial nas escolas dos Estados Unidos.

 

Nascida em Topeka, capital do Kansas, Brown tinha 9 anos quando o seu pai, o reverendo Oliver Brown, tentou inscrevê-la em 1950 na escola pública primária mais próxima à casa da família.

 

A recusa da escola Summer School a aceitá-la por ser negra provocou quatro anos mais tarde a histórica decisão do litígio “Brown vs. Board of Education”, com o qual o Tribunal Supremo pôs fim à doutrina “segregada, mas igual” que regia na educação pública americana desde 1896.

 

Oliver Brown não estava descontente com a escola em que a filha estudava, mas preocupava-o o longo caminho que ela tinha que percorrer, não isento de perigos para uma menina de oito anos – Linda, assim se chamava a filha, tinha que caminhar por uma linha de caminho-de-ferro e atravessar uma estrada bastante concorrida antes de apanhar o autocarro escolar. Oliver decidiu então matriculá-la noutra escola, mais próxima da casa da família. Acontece que Oliver e Linda eram negros, que a escola mais próxima era frequentada por brancos e que estávamos em Topeka, no Texas, em 1951, quando a segregação racial era ainda uma realidade nos Estados Unidos. O que seguiu à recusa da escola em aceitar Linda Brown – tornou a menina um símbolo da luta pelos Direitos Civis da população negra americana.

 

 

Foto de 1945, mostra Linda Brown (Foto: AP Photo, File)

 

“Era um dia luminoso, ensolarado, caminhamos rapidamente e lembro-me de chegar junto de uns grandes degraus”, recordou Linda Brown em 1987. “Percebi que algo tinha corrido mal. Ele [o pai]saiu [do edifício], pegou-me pela mão e caminhamos de volta a casa. Caminhamos ainda mais rápido, e eu conseguia sentir a tensão a transferir-se da sua mão para a minha.”

 

O Supremo determinou que “separar (as crianças negras) de outras de idade e qualificações similares unicamente pela sua raça gera um sentimento de inferioridade quanto à sua posição na comunidade que pode afetar seus corações e mentes de um modo improvável de reverter”.

 

Três anos depois, a 17 de maio de 1954, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos declarava por unanimidade a inconstitucionalidade da segregação racial nas escolas públicas americanas. Chegava ao fim o caso “Brown vs Conselho Educativo”, cujo desfecho abriu caminho para as batalhas que se seguiram naquela década e na seguinte.

 

Não se tratou de uma ação isolada por parte de Oliver e Leona Brown, os pais de Linda. Oliver surgiu no processo como o principal queixoso, mas a ação legal, idealizada pela Associação Para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP), reuniu casos apresentados por treze pais de vinte crianças dos estados do Texas, Delaware, Carolina do Sul, Virginia e Washington.

 

Além disso, concluiu que a segregação era uma prática que violava a cláusula de “proteção igualitária” prevista na Constituição.

 

Embora Brown tivesse dado o nome, o litígio agrupava vários casos recompilados pela Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, em inglês) de estudantes afro-americanos rechaçados em instituições educativas ao redor do país. A causa recebeu, inclusive, ajuda de Thurgood Marshall, primeiro advogado negro a ser membro Suprema Corte americana.

 

“No campo da educação pública, não tem lugar a doutrina ‘separados, mas iguais’. Instalações educativas diferentes são inerentemente desiguais”, escreveu então o líder do conjunto de juízes, Earl Waren (1891-1974). A expressão entre aspas era uma referência à decisão que fazia lei desde 1896, quando Homer Plessy (1862-1925), de Nova Orleans, interpôs um processo contra o Estado do Louisiana após ter sido preso por se recusar a abandonar uma carruagem de comboio reservada a brancos.

 

Plessy alegava que a separação dos passageiros por cor de pele era inconstitucional, mas o Supremo Tribunal não lhe deu razão. Ainda que desmentida diariamente pela diferença de qualidade e investimentos nas estruturas disponíveis a brancos e a negros, o ideia “separados, mas iguais” manteve-se a doutrina oficial, em todas as dimensões da vida americana, até 1954.

 

A resistência à decisão do Supremo Tribunal manifestou-se de várias formas. Na Virginia, um senador iniciou um movimento de protesto que preferia encerrar ou destruir as escolas a abri-las a todos os alunos. No Arkansas, em 1957, o governador convocou a Guarda Nacional estadual para impedir a entrada de estudantes negros na escola, obrigando o presidente Dwight Eisenhower a enviar o Exército para repor a legalidade no estado.

 

No Mississipi, a luta pelos direitos civis ganharia um mártir em 1963, ano do assassinato do influente ativista negro Medgar Evers (1925- 1963), baleado por um membro do White Citizens Council, organização supremacista branca criada precisamente em 1954 – pouco antes da sua morte, Evers ameaçara iniciar um processo legal para obrigar as escolas de Jackson, capital do Mississipi, a cumprirem a lei anti-segregação que, ali, não saíra do papel.

 

“Há 64 anos, uma pequena rapariga de Topeka, Kansas, espoletou um caso que acabou com a segregação nas escolas públicas da América. A vida de Linda Brown recorda-nos que, batendo-nos pelos nossos princípios e servindo as nossas comunidades, podemos realmente mudar o mundo”, escreveu em comunicado o Governador do Kansas, Jeff Collyer. “O legado de Linda é uma parte crucial da história da América e continua a inspirar os milhões que, por causa dela, conseguiram tornar real o sonho americano.”

 

Linda Brown e a irmã, Cheryl Brown Anderson, fundaram em 1988 a Fundação Brown para a Equidade, Excelência e Pesquisa Educativa, dedicada a homenagear os queixosos do caso de 1954 e a continuar a lutar pelos seus ideais. O pai de Linda não chegou a assistir ao nascimento da fundação. Vitimado por um ataque cardíaco em 1961, quando servia como pastor de uma igreja em Springfield, no Missouri, não chegou sequer a assistir ao corolário da luta que ajudara a iniciar: em 1964 foi aprovada a lei dos direitos civis que proibiu qualquer tipo de discriminação baseada na cor, religião, sexo ou país de origem.

 

Sherrilyn Ifill, da NAACP, emitiu um comunicado em que prestou homenagem a Linda Brown como uma das jovens heroicas que, juntamente com as suas famílias, “lutaram corajosamente para acabar com o símbolo máximo do supremacismo branco – a segregação racial nas escolas”. Acrescentou ainda: “Fica como exemplo de como alunos comuns podem ocupar o centro do palco na transformação deste país.” Palavras que ressoam de forma particularmente forte dias depois das grandes manifestações, lideradas por estudantes liceais, exigindo soluções para a questão da posse de armas nos Estados Unidos.

 

Em entrevista à emissora “PBS” em 1985, por ocasião do aniversário de 30 anos da sentença, Brown disse sentir que a decisão do Supremo tinha tido “um impacto em todas as facetas da vida das minorias em todo o país”.

 

“Eu penso em termos do que fez para nossos jovens, na eliminação desse sentimento de cidadania de segunda classe. Acho que fez com que os sonhos, as esperanças e as aspirações de nossos jovens sejam hoje maiores”, acrescentou.

Embora ela tenha se tornado um ícone dos direitos civis, o “Brown” da sentença ” Brown vs. Board of Education” pertence ao seu pai, que foi quem apresentou o processo e que morreu em 1961.

Linda Brown faleceu em 25 de março de 2018, aos 76 anos.

(Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia – EDUCAÇÃO / Por Agencia EFE – 26/03/2018)

(Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2018/03/26 – ÚLTIMA NOTÍCIAS / AFP Washington – 26/03/2018)

(Fonte: Zero Hora – ANO 54 – Nº 19.047 – 28 de março de 2018 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 33)

(Fonte: https://www.publico.pt/2018/03/27/mundo/noticia – MUNDO – NOTÍCIA – EUA / POR MÁRIO LOPES – 27 de Março de 2018)

Powered by Rock Convert
Share.