Judy Holliday, atriz vencedora do Oscar
Judy Holliday redime as “lôraburras”
Judy Holliday (Nova Iorque, Nova York, 21 de junho de 1921 – Nova Iorque, Nova York, 7 de junho de 1965), atriz norte-americana cuja interpretação do doxy de um traficante de lixo em “Born Yesterday” criou um novo tipo de loira bonita, mas burra.
Judy teve problemas com o macartismo, foi mulher do saxofonista Gerry Mulligan.
“Nascida Ontem” é o filme com que Judy Holliday tirou o Oscar de melhor atriz de 1951 das mãos de Bette Davis em “A Malvada” e de Gloria Swanson em “Crepúsculo dos Deuses”. O eleitorado de Bette Davis até hoje não se conformou com isso e os fãs de Gloria Swanson, entre uma e outra dispneia pré-agônica, também continuam achando um desaforo.
Talvez porque não tenham prestado atenção a “Nascida Ontem”. Pois é só rever o filme para se concluir que poucas vezes o Oscar fez tanta justiça a uma atriz. Judy dá um show de voz, maneirismos e expressões, e passa da deslavada canastrice à interpretação “séria” com uma delicadeza que, olhe, não sei se Davis ou Swanson fizeram igual em suas carreiras.
Judy Holliday faz desse filme a redenção de todas as “lôraburras”, das quais, depois de Marilyn, ela foi a maior. Ela interpreta a mulher tapada que seu “noivo”, um milionário e violento rei da sucata (genial interpretação de Broderick Crawford) precisa educar para que ela não dê vexame em Washington, onde ele está fazendo seus negócios escusos.
O encarregado de dar-lhe umas lições de língua e etiqueta é um repórter boa-pinta (William Holden), que, na verdade, quer descobrir as tramoias de Crawford. No processo, ele inocula noções de direito e justiça na cabecinha de Holliday e esta se rebela contra o seu homem. É “Pigmalião” com consciência social, para se aprender que não se deve fazer pouco de uma “lôraburra”.
“Nascida Ontem” veio à luz como uma peça de Garson Kenin para a Broadway em 1946. Ficou em cartaz por 1.642 noites e matinês, ganhou todos os prêmios da época e revelou a desconhecida Judy Holliday. Pois, quando a Columbia resolveu filmar a peça, onze atrizes foram cogitadas para o papel. Foi preciso que o diretor George Cukor chamasse a Columbia à razão e desse o papel à atriz que parecia nascida para ele.
O próprio Cukor teve o bom senso de seguir a peça à risca. Com personagens e diálogos como aqueles, quem precisa sentir-se “no cinema”? Poucas vezes uma comédia americana foi tão sofisticada, inclusive politicamente, e, ao mesmo tempo, tão engraçada. Ponto para as plateias de 1951, porque o cinema fazia fé na inteligência delas.
Alto e brilhante
Judy ganhou um Oscar e um nicho na história do teatro por sua atuação como a namorada de voz esganiçada do traficante em “Born Yesterday”.
“Born Yesterday” foi seu primeiro papel importante e ela conseguiu da maneira clássica. Jean Arthur, escolhido para o papel, ficou doente três dias antes do show estrear na Filadélfia. Miss Holliday aprendeu o papel em três dias e chegou ao estrelato.
A aclamação que ela ganhou ao interpretar Billie Dawn tanto na Broadway quanto nas produções cinematográficas de “Born Yesterday” foi um tributo à sua habilidade de atuação. Enquanto Miss Holliday era uma garota alta (1,70m) com um QI alto (172), ela fazia Billie Dawn parecer pequena e estúpida.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas concedeu-lhe o Oscar em 1951 como melhor atriz.
Nasceu em 1921
Nascida em 21 de junho de 1921, era filha de Abraham e Helen Tuvim. “Holliday” é uma tradução livre da palavra hebraica Tuvium. Seu pai era um arrecadador de fundos.
Aos 4 anos, Judy estava tendo aulas de balé e, após a formatura do ensino médio, estudou no Mercury Theatre de Orson Welles.
A fama veio lentamente. Ela tocou farsas no circuito de borscht da Eastern Seaboard e depois mais do mesmo no Village Vanguard, uma boate de Nova York.
Depois de shows em boates no Spivy’s Roof e no Blue Angel, ambos em Nova York, e no Trocadero, em Hollywood, ela ganhou pequenos papéis em dois filmes – “Winged Victory” e “Something for the Boys”.
Na Broadway, ela apareceu em “Kiss Them for Me” antes de fazer “Born Yesterday”.
Durante a execução de seu maior sucesso, ela se casou com o músico David Oppenheim em 4 de janeiro de 1948. Em 1957, eles obtiveram o divórcio mexicano depois de um filho, Jonathan.
Aparece na Audiência
Na época de seu divórcio, ela estava tocando em “Bells Are Ringing”, outro sucesso na Broadway e no cinema.
Em 1952, ela compareceu perante o subcomitê de segurança interna do Senado, negando que fosse comunista ou que alguma vez tivesse sido.
Ela emprestou seu nome e fez contribuições para causas esquerdistas. Ela disse então: “Acordei para a percepção de que fui irresponsável e um pouco – mais do que levemente – estúpida. Quando me pediam, sempre dizia: ‘Ah, não é tão ruim assim. Claro, use meu nome’”.
Título: Nascida Ontem
Direção: George Cukor
Elenco: Judy Holliday, William Holden, Broderick Crawford
Produção: EUA, 1950, preto-e-branco
Hollywood, que a “descobrira” quando ela tinha 28, nunca soube o que fazer com ela depois de “Nascida Ontem”.
Judy Holliday faleceu de câncer em 7 de junho de 1965. Ela tinha 43 anos.
A atriz loira estava doente há vários anos e passou por uma cirurgia de câncer em 1961.
Ela deu entrada no Hospital Sr. Sinai em 26 de maio.
Arnold R. Krakower, seu advogado, que anunciou a morte, disse: “Até o fim ela lutou bravamente para viver. . . Com sua passagem, o mundo perdeu um grande e belo talento, e aqueles que a conheceram perderam um amigo insubstituível.”
(Fonte: https://www.latimes.com/local/arts/la- Los Angeles Times / ARTES / Reportagem de NOVA YORK (AP) — 8 DE JUNHO DE 1965)
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(Fonte: https://www.nytimes.com/1965/06/08/archives – New York Times Company / ARQUIVOS – 8 de junho de 1965)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/6/15/ilustrada – ILUSTRADA / por RUY CASTRO / ESPECIAL PARA A FOLHA – São Paulo, 15 de junho de 1994)
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