José Lins do Rego, jornalista, romancista, cronista e memorialista brasileiro

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Pioneiro do romance social nordestino

 

José Lins do Rego Cavalcanti (Pilar, Paraíba, 3 de junho de 1901 – Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1957), jornalista, romancista, cronista e memorialista brasileiro, que ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional.

 

 

Apareceram todos na mesma época. Rachel de Queiroz, em 1931, com “O Quinze”; Jorge Amado, também em 1931, com “O País do Carnaval”; Graciliano Ramos, em 1933, com “Caetés”, e José Lins do Rego, em 1932, com “Menino de Engenho”. Todos, com exceção de Jorge Amado, traziam histórias do nordeste, linguagem do nordeste, personagens do nordeste, romances inteiros de revelações para o leitor.

 

 

De todos, José Lins do Rego era o que vinha com uma obra mais pessoal, de lembranças da infância e da adolescência passadas entre os ricos e os pobres, as dores e as alegrias, as secas e as enchentes dos engenhos nordestinos. “Menino de Engenho”, além de resumir esse mundo em oito anos (dos quatro aos doze) do personagem principal e narrador, apresenta esboços de personagens e temas de livros futuros. Fala do “Moleque Ricardo” (1935), de “Cangaceiros” (1953), da “Usina” (1936).

 

 

Apresenta, já com encanto e emoção, alguns dos personagens de seu romance principal, “Fogo Morto” (1943): lobisomens, o sapateiro José Amaro (“Morava numa casa melhor… não plantava nada”), o engenho Santa Fé (“Coitado…já o conheci de fogo morto”).

 

 

Seu romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade, todavia logo foi elogiado pela crítica. Admirável e digno – O crítico carioca João Ribeiro, ainda em 1932, foi o primeiro a chamar a atenção para “Menino de Engenho”, um romance que ele não aconselhava a todos os leitores: “É um livro de naturalismo feroz, que talvez repugne às almas tímidas e às leitoras da “Bibliothèque Rose”.

 

 

Feita essa restrição… devemos dizer que … achamos o livro admirável e digno do entusiasmo que vai despertar entre os leitores circunspectos sem antiquados preconceitos, um tanto deslocados do nosso tempo”. “Recebi em Maceió a crítica de João Ribeiro como um presente do céu”, escreveria Lins do Rego em 1953.

 

 

A crítica, no entanto, apenas registrava uma importância que o próprio Lins do Rego desconhecia (“Nunca podia imaginar que valesse a novela tudo aquilo que o mestre lhe atribuía”). O sucesso imediato de “Menino de Engenho” não se deveria a ela, mas à força do escritor e à riqueza da história.

 

 

Até hoje, essa força e essa riqueza permitem que a novela resista a novas leituras e a novos leitores. A linguagem regional, sozinha, tem atrações que garantiriam um livro que não apresentasse mais nada, com seus verbos (safrejar, desapear), substantivos (panavueiro, cópia) e até frases inteiras (“O bogaris das biqueiras cheiravam no ar frio”) de novidades.

 

 

O erotismo, sozinho, poderia caracterizar a novela, com a professora de beijos ardentes, a criada de intenções lascivas, a coleção de fotografias do tio, as experiências com a prostituta de beira de estrada. José Lins do Rego, no entanto, não se demora no exótico, no regional, no erótico, na novidade.

 

 

Seco, raras vezes emocional (quando comenta algumas das injustiças da vida nos engenhos), ele vai da primeira à última página narrando e descrevendo pessoas e lugares que o “menino de engenho” vai conhecendo. E, proeza maior, em momento algum resvala para o pieguismo, apesar de estar contando a história de um menino que “tinha uns quatro anos” quando a mãe foi morta pelo pai.

 

Quando morreu, em setembro de 1957, no Rio de Janeiro, aos 56 anos, José Lins do Rego deixou doze romances, um livro de memórias, um de literatura infantil, seis de crônicas, um de viagens (que fez por vários países, como diretor do Flamengo, do qual era torcedor “fanático”) e dois de conferências (destes, um trazia o seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1956). Mas o primeiro livro, “Menino de Engenho”, continuava como um dos melhores, dentro de obra tão vasta.

(Fonte: Veja, 15 de março de 1972 – Edição 184 – LITERATURA – Menino de sempre – Pág; 84)

 

 

 

 

 

 

 

 

Lins do Rego e o “país sem dinheiro e sem homens”

A correspondência de um pensador (Gilberto Freyre) que ensinou um novo modo de olhar o país, num pacote com lembranças de amigos, confidências de autoridades e relatos da juventude

O amigo José Lins do Rego, autor de “Menino de Engenho”, surge em 1923, com uma letra pontuda, para contar que rompeu um antigo noivado, casou-se com outra moça e considera-se em “fase de experiência” sentimental.

Amigo de todas as horas, José Lins do Rego é dono da correspondência mais vasta. Mandou mais de 200 cartas a Gilberto Freyre, recebeu mais de 100.

Em 1926 Gilberto Freyre sai do Rio de Janeiro a caminho de Nova York. O navio pára no Recife e ele escreve:

“Meu querido Lins, aqui estive de rápida passagem. Sem planos definitivos. Quando nos veremos? Eu devo voltar para o Recife. As saudades me acabarão puxando.”

Ex-candidato a senhor de engenho, arruinado, José Lins virou funcionário público. Ele escreveu: “Tudo indo por água abaixo. O Brasil arredado daquele destino histórico de que tanto gostava você de falar e em toda parte as suas ideias de ordem e estabilidade sofrendo uma crise, como se estivéssemos na virada do século. O Brasil anda em dias de mais perigos. Nem mesmo na Regência esteve a nossa terra tão abalada.”

Lembrando a crise econômica, José Lins diz que “os entendidos julgam caso perdido. mandaram buscar um médico inglês, mas penso que o doente precisa mais de um padre confessor. Na Paraíba anda a fome que nem em 1874. Em Alagoas e Pernambuco o açúcar a pedir esmolas ao Banco do Brasil. Tudo uma desgraça de cortar o coração.”

Falando dos amigos, José Lins prossegue: A situação pessoal de cada um é uma catástrofe. O país não tem dinheiro e não tem homens. O nosso amigo José Américo de Almeida (um dos grandes políticos do nordeste), que foi comigo de uma grande gentileza, parece que o destino lhe pregou uma peça: presidir como ministro da Viação uma seca, sem dinheiro para atender aos reclamos de socorro.

E sofrendo uma campanha medonha sempre que os recursos não chegam. Voltei, como você deve saber, a um emprego público. Referindo-se à viagem de Gilberto Freyre, afirma: “Você é o maior dos brasileiros, mas não deve ter saudade do Brasil. Não venha tão cedo. É uma terra essa que não merece as suas saudades.”

(Fonte: Revista Veja, 1° de janeiro de 1999 – ANO 32 – Nº 1 – Edição 1579 – CULTURA – AS CARTAS DO MESTRE / Por Paulo Moreira Leite, do Recife – Pág: 102/105)

 

 

 

 

 

 

Escritor paraibano José Lins do Rego, pioneiro do romance social nordestino, morre em 12 de setembro de 1957, aos 56 anos.

(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – Nº 17.868 – 12 de setembro de 2014 – HOJE NA HISTÓRIA- Almanaque Gaúcho/ Por Ricardo Chaves – Pág: 52)

 

 

 

 

 

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