Jacques Massu, famoso general, foi o chefe dos pára-quedistas franceses na Batalha de Argélia

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Massu, o carrasco de Argel

Jacques Massu (Châlons-en-Champagne, França, 5 de maio de 1908 – Conflans-sur-Loing, França, 26 de outubro de 2002), famoso general, foi o chefe dos pára-quedistas franceses na Batalha de Argélia.

Naquela ocasião, nos anos de 1957-58, travou-se na capital da Argélia um dos mais ferozes combates de rua da história recente, ocasião em que os regimentos franceses foram utilizadas em operações policiais, abusando largamente da violência para sufocar a revolta dos árabes. Ele foi apontado como um dos que instituiu a prática da tortura como norma operacional para sufocar a rebelião árabe, lançando assim uma triste sombra sobre o exército francês que antes havia lutado contra Hitler.

 

O começo da batalha de Argel

“Meu nome foi para sempre associado à tortura, foi isso o que se tornou mais duro de suportar.” General Jacques Massu, em entrevista ao Le Monde, 22.11.2000

 

O general Massu, comandante militar da área norte da Argélia, um veterano oficial francês que acompanhara De Gaulle desde 1940, decidiu-se por uma operação final. A cidade de Argel, a capital da Argélia colonizada, encontrava-se conflagrada pela luta entre os fellahs, militantes da FLN (Frente de Libertação Nacional argelina), e os moradores franceses, apelidados de pieds-noirs.(*) Eram as preliminares do conflito entre as duas concepções de Argélia: a francesa, que queria mantê-la como província do império, e a islâmica, que a desejava árabe e independente. A cada bomba que os ativistas argelinos colocavam , os colonos brancos desencadeavam o que diziam ser uma “ratonada” (um desentocar dos ratos), pogroms que devastavam as zonas árabes, queimando-lhes as tendas e linchando ou matando a tiros aqueles que lhes pareciam suspeitos. Para por um fim naquele amadorismo, o general Massu recebeu instruções de por um fim drástico naquilo – restabelecer a ordem em Argel.
Na manhã do dia 7 de janeiro de 1957, determinou que as forças especiais entrassem em ação. Era o dia de Santa Melaine, protetora dos pára-quedistas, a quem ele, bom devoto, pediu a benção. Oito mil homens fortemente armados, a tropa de choque do colonialismo francês, começaram então a dar uma batida-monstro, revirando de alto a baixo a vida cotidiana dos 800 mil habitantes da Grande Argel.

Eles, os “parás”, tinham combatido na Indochina e, mais recentemente, em 1956, fizeram parte, junto com os britânicos, da fracassada reocupação do Canal do Suez. Derradeiro gesto do colonialismo europeu decadente. Na boca de cada soldado francês havia um gosto ruim de frustração e derrota. Viram na ocupação total de Argel um momento de revanche da derrota que os vietnamitas lhe impuseram em Diên Biên Phu, em 1954. Era o momento de ensinar à canalha árabe que eram eles que ainda mandavam. Os cristãos, ocupando a Argélia desde 1830, não a abandonariam sem luta.

 

(*) O Front de libération nationale (FLN) da Argélia havia sido fundado em 1954 por um pequeno grupo de patriotas argelinos decididos a recuperar a independência do país através da guerra revolucionária.

 

O assalto à Casbah

 

Dividida a cidade em quatro zonas militares, a Casbah, o velho bairro medieval onde se abrigava a população pobre de Argel, um forte núcleo da resistência ao colonialismo, foi presa dos zuavos, as tropas mercenárias a soldo da França. Era um intricando sem-fim de ruelas, um labirinto de milhares de casinhas coladas umas nas outras e que podiam tornar-se mortíferas para as tropas de ocupação. Na retaguarda deles caminhavam os “leopardos”, a elite da 10ª divisão de pára-quedistas, assim chamados pelo seu uniforme camuflado com pintas escuras, e também, por sua ferocidade. No alto, pelos céus da cidade, viam-se os helicópteros de guerra, Bell 47, Alouettes e Sikorsky circulando como pássaros sinistros atrás de sangue, vomitando rajadas e foguetes. Onde encontrava resistência dos árabes, Massu era implacável, ordenando a explosão do local com material plástico.

Assim se deu com Ali-la-Pointe, um dos chefes operacionais da F.L.N., morto com alguns dos seus em 8 de outubro de 1957 (episódio reproduzido por Gillo Pontecorvo no filme “A Batalha de Argel”, de 1966). Outros eram submetidos à execução sumária, à assassinatos seletivos como o de Larbi Ben M`Hidi que pertencia ao C.C. da resistência argelina e que foi “suicidado” na sua cela. De certo modo eles tiveram sorte, pois o inferno estava reservado aos que eram levados aos empurrões e arrastões para os porões do CCI (Centro de coordenação intramilitar), do DOP (Disposição operacional de proteção), ou ainda para os altos do Paradou Hydra, o posto de comando dos pára-quedistas. Destino do infeliz Maurice Audin, um professor de matemática que nunca mais foi visto. Irritava particularmente a Massu (ver o seu livro La vraie bataille d´Alger , 1971) o crescente engajamento de moças árabes na preparação dos atentados. Geralmente submissas e indiferentes às coisas da política, várias delas, para surpresa dos órgãos de repressão, tornaram-se voluntárias para carregarem armas e bombas nas bolsas e sacolas, sendo elas também presas e levadas aos trancões para os calabouços de Massu, como o existente na tenebrosa Villa Susini (**).

(**) A historiadora Raphaëlle Branche apresentou, em 2000, uma tese de doutorado de 1.211 páginas, intitulada “O Exército e a tortura durante a guerra da Argélia. Os soldados, seus chefes e as violências ilegais”, concluindo que “a tortura não foi apenas ação de alguns militares sádicos e isolados. Pelo contrário, ela se inscreve dentro da história da colonização. Antes da Argélia, foi praticada na Indochina.”

Jacques Massu faleceu no dia 26 de outubro de 2002, aos 94, em sua residência na França

(Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2002/11/28 – História – Século XX / Por Voltaire Schilling – 28 de nov de 2002)

(Edouard Bailby, Cadernos do Terceiro Mundo, nº227, 2001)

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