Herbert Moses, advogado e jornalista, fundador da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio

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Herbert Moses (Rio de Janeiro, 25 de julho de 1884 – Rio de Janeiro, 11 de maio de 1972), advogado e jornalista, fundador da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, e seu presidente por mais de trinta anos (1931-1964).
Herbert Moses nasceu em 25 de julho de 1884 no Rio de Janeiro, filho de pai austríaco e mãe americana. Formou-se em 1905 em Ciências Jurídicas e Sociais. Exerceu a advocacia e em 1906 já figurou como secretário da delegação brasileira na III Conferência Pan-Americana. A partir da Primeira Guerra Mundial (conflito mundial ocorrido entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918), ocupou, entre outros cargos, os de diretor-secretário da Associação Comercial do Rio de Janeiro, diretor do Instituto dos Advogados, presidente do Instituto Cultural Brasil-Israel, presidente do Automóvel Clube e do Jóquei Clube do Brasil. Recebeu o prêmio Maria Moors Cabot.

Os amigos, conhecidos e curiosos, enfileirados, repetiam: “Parabéns, Adonias”. E Adonias Filho respondia: “Não é o caso de parabéns, mas de solidariedade”. Ele acabara de ser empossado, na tarde de sexta-feira, dia 12 de maio, na presidência da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Se os humores para uma associação desse tipo não atravessaram uma boa fase, o início de maio de 1972, foi especialmente agourenta. Durante a manhã de quinta-feira, dia 11 de maio, coberto pela bandeira do Flamengo e lembrado em discursos de velhos amigos, fora sepultado aos 87 anos, o grande animador da instituição e paladino dos exíguos resquícios de liberdade de imprensa do Estado Novo: Herbert Moses.
“O grande Moses”, como o chamou o senador e ex-presidente da ABI, Danton Jobim, velhos jornalistas relembravam com sincera saudade a corajosa impertinência do fundador de “O Globo”, que poupara a inúmeros repórteres encarcerados a incômoda refeição das páginas de seus jornais, frequentemente servida a insubmissos.

Hábil, conseguiu do emsmo presidente que era beneficiado por tão indigesta censura os recursos para construir, em pleno centro da cidade, no Rio de Janeiro, um palácio de mármore branco com jardins suspensos que pretendeu ser a casa do jornalista e sede da ABI. Antes mesmo de ser empossado no cargo que Moses dignificou, Adonias Filho disse em seu discurso: “Não pode morrer quem esteve a serviço da liberdade de imprensa”.

Prestígio cordial – No dia seguinte, na sede da ABI, Adonias voltou a abordar a questão da liberdade de imprensa, com maior precisão: “Sem liberdade de informação não se forma um povo capaz de discernir a democracia da demagogia”. Apesar das palmas que acompanhavam generosamente tudo o que viesse atrás da palavra liberdade, o romancista baiano não foi inflamado. A serenidade lhe é típica. Só aceitou a presidência da ABI porque se convenceu de que podia fazer algo pela imprensa, onde trabalhou durante quarenta anos.

E, de fato, se buscasse prestígio, já o tem, há sete anos, desde que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Se buscasse poder, não lhe seria difícil recorrer a velhos amigos de passados e amargas conspirações com o general Syzeno Sarmento, a quem conseguiu pousada nas noites seguintes ao movimento militar de 11 de novembro de 1955, quando o ministro da Guerra, general Henrique Lott, depôs os presidentes Carlos Luz e Café Filho. Além disso, poder ele já teve em 1964, quando o presidente Castello Branco o escolheu para diretor da Agência Nacional e da Biblioteca Nacional.

Anos depois, ao recebê-lo na Academia, seu conterrâneo, Jorge Amado, dizia, com seu fardão reluzente: “Não quero deixar de trazer aqui o meu testemunho, como vosso amigo e ao mesmo tempo como vosso adversário político, de como utilizais vosso prestígio político, (…) Vós o fazeis com cordialidade, com a maior preocupação pelos adversários, buscando ajudá-los em suas dificuldades políticas, utilizando vosso prestígio para impedir injustiças para que uns não sejam demitidos, para que outros sejam libertados”.

Mesma imprudência – Contudo, se como diretor da Agência Nacional e amigo pessoal do presidente da República, Adonias Filho conseguiu tais méritos, certamente agora seus projetos prevêem uma quantidade bastante maior de dificuldades. Mesmo defendendo “uma liberdade ilimitada”, o novo presidente da ABI reconhece que há as exceções para casos de segurança nacional” e demonstra grande interesse em estabelecer sólidos contatos com autoridades “para solução de problemas que venham a surgir”.

Na verdade, a primeira grande tarefa do novo presidente parece ser a de restabelecer a qualidade da sigla ABI, bastante desgastada pelo imobilismo dos últimos anos.

Fundada em 1906 por um ex-sargento anarco-sindicalista, a Associação Brasileira de Imprensa começou sem sede, vagando por redações de jornais, esteve hospedada num quartel e foi entregue a Herbert Moses na sede da grande sociedade Clube dos Democráticos, em 1930. Em três décadas, o irrequieto Moses conseguiu construir e organizar a Associação. Bastaram alguns anos de descuido para que ela cambaleasse. Contudo, tanto no funeral de Moses quanto na posse de Adonias Filho, além dos edifícios de mármore e dos jardins de Burle Marx, estava a lembrança da luta desigual de Moses contra a Censura de Getúlio Vargas. E, no seu discurso de posse, Adonias Filho anunciou: “Estou disposto a cumprir com o dever com a mesma vocação, o mesmo espírito de sacrifício e a mesma prudência com que escrevo meus livros”. Moses morreu no dia 11 de maio de 1972, de trombose, aos 87 anos, no Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 17 de maio de 1972 – Edição 193 -– Datas -– Pág; 72 –- IMPRENSA -– Parabéns – Pág; 21)

 

 

 

 

Herbert Moses (1931-1964)
Filho de pai austríaco e mãe norte-americana, o carioca Herbert Moses foi eleito Presidente da ABI concorrendo com Ernesto Pereira Carneiro, do Jornal do Brasil, e Oscar Costa, do Jornal do Commercio. Além de ter sido redator da Revista Souza Cruz e secretário da Associação Comercial — onde se tornou amigo de Heitor Beltrão, seu braço direito na Associação —, dirigiu a Revista Moderna e acompanhou Irineu Marinho na fundação do jornal O Globo, em 1925.

Segundo Fernando Segismundo, o bom relacionamento de Herbert com as autoridades — a quem recorria a qualquer hora até para livrar jornalistas da cadeia — transformou a sede da ABI, na Rua do Passeio, a ante-sala do Itamaraty. No primeiro ano de sua administração, apesar da censura à imprensa e das prisões de jornalistas, a instituição passou por uma grande reformulação, tendo sido conseguida, inclusive, a oficialização da doação do terreno Morro do Castelo.

Bom negociador, Herbert conseguiu que Getúlio Vargas prometesse substancioso auxílio financeiro para o início da construção da sua sede própria, fizesse uma doação inicial de 13 mil contos de réis e criasse os primeiros cursos de Jornalismo. Em 1946, também o Presidente Dutra contribuiu para as obras, mandando o Ministério da Justiça abrir um crédito de 2 milhões de cruzeiros para que a Associação providenciasse os serviços de acabamento do prédio.

No entanto, mesmo correndo o risco de abalar essas boas relações, em nenhum momento de sua administração Herbert Moses consentiu que a ABI se intimidasse e deixasse de se pronunciar a respeito da violação dos direitos de jornalistas e da liberdade de imprensa. O período é considerado a grande fase construtiva da instituição e ele, na visão de amigos e colaboradores, figura como o consolidador material e espiritual da Casa do Jornalista.

Nos registros da própria ABI, ele aparece como o homem que “tornou a fundação de Gustavo de Lacerda conhecida e respeitada dentro e fora do País. Arrancou-a, por fim, dos apertados limites das salas de aluguel para lhe dar uma sede imponente, bela, confortável, moderna como poucas nestas Américas. Tudo isso, obra da sua dedicação, do seu entusiasmo, da sua energia”.

(Fonte: www.abi.org.br)

 

 

 

 

 

 

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