Gerson King Combo, cantor pioneiro do soul e funk, ficou conhecido com a música ‘Mandamentos Black’ e era chamado de ‘James Brown brasileiro’

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Gerson King Combo, ícone da black music no Brasil, um rei que teve orgulho de ser negro

Cantor do hino ‘Mandamentos black’ deixa legado que transcende a música por ter elevado a autoestima da juventude brasileira que curtia o soul e o funk dos anos 1970.

 

Cantor ficou conhecido com a música ‘Mandamentos Black’ e era chamado de ‘James Brown brasileiro’.

 

Gerson Rodrigues Côrtes (Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1943 – Rio de Janeiro (RJ), 22 de setembro de 2020), cantor pioneiro do soul e funk, popularmente conhecido como Gerson King Combo, voz pioneira do funk e do soul brasileiros que emergiram nessa década amalgamados com o samba.

 

Nascido no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1943, Gérson Rodrigues Côrtes era irmão de Getúlio Côrtes, autor da música “Negro gato”, famosa com Roberto Carlos e Luiz Melodia.

Gérson começou a carreira com o nome real e fez parte de várias bandas, como Renato e Seus Blue Caps, Fevers e Fórmula Sete. Ele também foi autor de hits da Jovem Guarda.

Depois, passou a se dedicar mais à black music e ao soul, fazendo parte de uma cena que tinha também Carlos Dafé, Hyldon, Cassiano, Tim Maia, Sandra de Sá e Banda Black Rio. O primeiro álbum, “Gérson King Combo Volume I”, saiu em 1977.

O disco tinha a música “Mandamentos Black”, o maior sucesso da carreira dele, utilizado em trilhas sonoras de séries e filmes.

O refrão ficou famoso por causa dos versos “Dançar como dança um black / Amar como ama um black / Andar como anda um black / Usar sempre o cumprimento black / Falar como fala um black / Eu te amo, brother.”

Para dimensionar corretamente a grande importância de Gerson King Combo na música brasileira, é preciso relacionar o aparecimento do artista ao inflamado momento social e político dos Estados Unidos na segunda metade da década de 1960.

 

Naquela época, a luta contra o racismo ganhou as ruas dos EUA e gerou movimento pautado pelo orgulho negro em que a trilha sonora era o soul e o funk. É nesse contexto que o cantor norte-americano James Brown (1933 – 2006) virou espécie de líder musical do movimento.

A voz e o funk de Brown ecoaram nos corações e mentes de jovens do mundo todo. No Brasil, Gerson Rodrigues Côrtes (28 de novembro de 1943 – 22 de setembro de 2020) era um jovem carioca de 20 e poucos anos que, como muitos brasileiros da mesma geração, fez a cabeça ao som de Brown. Mal sabia esse jovem que, nos anos 1970, ele seria um dos reis do movimento Black Rio, um tradutor da ideologia de Brown para a linguagem da música do Brasil.

Gerson chegou a conviver brevemente com o universo da Jovem Guarda por ser irmão de Getúlio Côrtes, autor de Negro gato (1965), hit black do movimento pop, mas encontrou a própria turma por volta de 1969. Nesse ano, a música brasileira entrava em ebulição com a efervescência soul e funk que propiciou o aparecimento de ídolos negros como Tim Maia (1942 – 1998) a partir de 1970.

Gerson surgiu nessa fervilhante cena black brasileira em que também estavam o pianista Dom Salvador, o compositor Cassiano (gênio do grupo Os Diagonais), Tony Tornado e o músico e maestro Erlon Chaves (1933 – 1974), de cuja banda Gerson chegou a fazer parte. Anos depois, ele viraria Gerson King Combo em referência à banda norte-americana King Curtis Combo, do saxofonista norte-americano de soul King Curtis (1934 – 2018).

Combo foi um rei do subúrbio carioca. Encarnou como toda a propriedade o “James Brown brasileiro” aos olhos e ouvidos de uma juventude carioca que, enfim, encontrava a própria identidade negra na vida e na música, dançando e suando ao som black dos bailes da pesada.

King Combo foi rei numa dinastia pautada pela coletividade. Tanto que o primeiro álbum do artista, Brazilian soul, foi lançado em 1970 e saiu creditado a Gerson Combo e a Turma do Soul. Nesse disco, o cantor imprimiu a alma do soul e do funk em sambas e em músicas nordestinas, em seleção de sucessos alheios, no embalo da explosão de Tim Maia.

Combo conquistaria a realeza a partir de 1977, com o álbum intitulado Gerson King Combo. Pela primeira vez com o “King” no nome artístico, o cantor ascendeu com disco de funk e soul gravado com a banda União Black e lançado em 1977 com o hino Mandamentos black (Gerson King Combo, Pedrinho da Luz e Augusto Cesar) no repertório autoral.

Havia toda uma ideologia de paz, amor e orgulho negro nos versos imperativos da letra dessa composição (“Dançar como dança um black!” / “Amar como ama um black!” / “Andar como anda um black!”) que bastaria essa música para eternizar o nome de Gerson King Combo na música brasileira.

Mas o artista ainda fez um segundo álbum – Gerson King Combo volume II, lançado em 1978 e mais influenciado pela disco music sem perda da pegada funk – antes de ser dispensado pelo mercado fonográfico porque as vendas dos dois discos foram desanimadoras para a indústria.

Mergulhado no ostracismo ao longo da década de 1980, Combo voltou à música em 1998 e lançou em 2001 um álbum, Mensageiro da paz, pautado pela nostalgia da modernidade dos anos 1970.

Nos anos 90, trabalhou como coordenador de eventos de uma fundação para crianças carentes. Nos anos 2000, retomou a carreira.

Após um período sem o reconhecimento merecido, ele foi “redescoberto” por uma nova geração em busca de um som “old school” e seguia fazendo shows.

Em novembro de 2019, às vésperas de completar 76 anos, lançou “Uma chance ao vivo”, primeiro single do álbum “Gerson King Combo 70 anos”. O registro foi feito anos antes, em 28 de novembro de 2013, na véspera do 70º aniversário do cantor.

O “James Brown brasileiro” – assim chamado pela adesão à velha escola do funk – se apresentou com a banda SuperGroove no Teatro Rival, no Rio.

Em novembro de 2013, mês em que fez 70 anos, o artista fez no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), o registro audiovisual de show apresentado com a banda Supergroove. Essa gravação ao vivo ainda permanece inédita, embora já tenha gerado alguns singles lançados tardiamente em 2019.

Gerson King Combo deixa legado que extrapola a música em si por ter propagado um mandamento black que ainda ecoa no Brasil de 2020, espalhando uma mensagem de paz e orgulho negro. O orgulho que ele reverberou na vida e na música – com o poder do funk e a alma do soul – enquanto foi um rei ativista do movimento black brasileiro.

A morte de Gerson King Combo – na noite de 22 de setembro, aos 76 anos, no Posto de Assistência Médica de Irajá, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), em decorrência de infecção generalizada e complicações de diabetes – cala uma voz que se levantou para bradar, em alto e bom som, nos anos 1970 que, sim, vidas negras importam. E que black is beautiful e que a música negra importa, até porque ela é a base da música do mundo.

(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/09/23 – POP & ARTE / MÚSICA / BLOG DO MAURO FERREIRA / Por Mauro Ferreira – 23/09/2020)

(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2020/09/23 – POP & ARTE / MÚSICA / NOTÍCIA / Por G1 – 23/09/2020)

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