Daniel Boorstin, ganhador de prêmios famosos como o Pulitzer, foi um historiador, autor premiado, diretor da maior biblioteca do mundo e figura polêmica na política americana

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O homem que inventou os “pseudo-eventos”

 

O historiador Daniel Boorstin entregou o discurso inaugural de Walter e Leonore Annenberg em comunicação 24 de setembro de 1992 (Foto: 50.asc.upenn.edu / Reprodução)

 

Daniel Joseph Boorstin (Atlanta, Georgia, 1° de outubro de 1914 – Washington, 28 de fevereiro de 2004), historiador e escritor americano. Foi diretor da Biblioteca do Congresso Americano entre 1975 e 1987. O criador do conceito de “pseudo-evento”. Historiador da cultura, autor de mais de duas dezenas de livros, alguns deles best-sellers, traduzidos em numerosas línguas, ganhador de prêmios famosos como o Pulitzer, Boorstin escreveu em 1962 um ensaio intitulado “The Image” em que apresenta o conceito de pseudo-evento.

Antes de tudo, Daniel Boorstin era um formidável criador de aforismos: “Um ‘best-seller’ é um livro que se vendeu bem simplesmente porque se vendeu bem”; “O livro é o maior avanço técnico na história da humanidade”; “Alguns nascem com grandeza, outros atingem a grandeza, e outros contratam agentes de relações públicas”. Mas a obra de Boorstin não se fica por uma série de frases acutilantes. Ele foi um precursor da crítica da sociedade mediática, inventando a definição de “pseudo-evento” e “celebridade”. Foi também um historiador, autor premiado, diretor da maior biblioteca do mundo e figura polêmica na política americana.

Em 1961, Boorstin publicou o mais influente dos seus muitos livros: “The Image: What Happened to the American Dream”. Contemporâneo e precursor de muitos semiólogos europeus e americanos, Boorstin olhou com desencanto para a mediatização da sociedade americana. Foi ele que primeiro escreveu uma definição de celebridade que ainda hoje é frequentemente utilizada: “Uma pessoa famosa por ser famosa.” Como muitos dos seus compatriotas, Boorstin assistiu aos debates entre John Kennedy e Richard Nixon nas presidenciais de 1960. Esses debates tiveram um resultado curioso: quem os ouviu na rádio achou que Nixon tinha ganho; mas quem os viu na televisão (a maioria) achou que Kennedy tinha levado a melhor. Para Boorstin, isso era prova de que a forma tem primazia sobre a substância num mundo dominado por imagens.

Os debates televisivos eram para ele “pseudo-eventos”: acontecimentos encenados que não têm valor intrínseco e serviam apenas para criar notícias. A quinta-essência da comunicação política – a conferência de imprensa – era para Boorstin o “exemplo clínico” de um “pseudo-evento”. E, para ele, os “pseudo-eventos” iriam inevitavelmente reduzir qualquer tema de substância a uma trivialidade mediática.

Boorstin nasceu em outubro de 1914 em Atlanta, na Geórgia (Sul dos EUA), filho de imigrantes judeus da Rússia. O seu pai era um advogado, e por receios de represálias do Ku Klux Klan, mudou a família para o Oklahoma (Oeste). Estudou Direito na Inglaterra e em Harvard; durante um quarto de século foi professor em Chicago.“Image” foi o seu livro mais influente, mas os grandes trabalhos da sua vida foram duas trilogias. A primeira, “The Americans”, é uma extensa história da América desde a fundação até à era moderna. Os seus três volumes (“The Colonial Experience”, de 1958, “The National Experience”, de 1965, e “The Democratic Experience”, de 1965) valeram-lhe quase todos os principais prêmios literários americanos, incluindo o Pulitzer de história, em 1973.

Boorstin argumentou que ao contrário dos europeus, cujo pensamento é dominado por tradição e teoria, os americanos adotaram uma atitude mais pragmática e prática. Os europeus pensam; os americanos agem. Explicava assim a quase ausência de combate ideológico na vida política americana, por oposição aos enormes debates doutrinários na Europa. O pragmatismo era para ele a principal característica da alma americana, longe de uma matriz europeia mais filosófica; a sua análise continua válida nos dias de hoje. Boorstin não era um historiador acadêmico mas um popularizador; o seu objetivo era escrever obras eruditas mas acessíveis ao grande público. A sua segunda grande trilogia foi uma colossal história intelectual da humanidade. O primeiro volume, “The Discoverers” (1982), lidava com a história da ciência; o segundo, “The Creators” (1991), com a evolução da arte; o terceiro, “The Seekers” (1995), com a filosofia e a religião. Para a generalidade dos americanos, a maior herança de Boorstin é como bibliotecário. Entre 1975 e 1987, foi o diretor da maior biblioteca do mundo, a do Congresso, em Washington. Quando foi nomeado pelo então Presidente Gerald Ford, o Senado ordenou-lhe que deixasse de escrever enquanto exercia o cargo.

Boorstin recusou e propôs um compromisso: escreveria só fora do horário de trabalho, entre as quatro e as nove da manhã em dias de semana, e nos fins-de-semana. Boorstin decidiu abrir ao público as portas da biblioteca do Congresso, partilhando os seus milhões de livros com o público. “Queixaram-se de que [ao abrir as portas da biblioteca]eu ia criar correntes de ar, e eu respondi ‘ainda bem, isso é mesmo o que nós precisávamos”, disse nos anos 80, citado pelo “New York Times”. A obra de Boorstin saiu de moda nos meios acadêmicos americanos, primeiro porque ele sempre desdenhou das “torres de marfim” universitárias (embora lá tenha passado grande parte da sua vida) e, mais importante, porque nos anos 60 ele ganhou a reputação de conservador.

Foi membro do Partido Comunista americano até 1939, quando saiu desiludido pelo pacto Molotov-Von Ribbentrop. Quinze anos depois, testemunhou perante o comité de “caça às bruxas” de Joseph McCarthy e denunciou outros membros do partido.As delações tornaram-no impopular entre estudantes nos anos 60, que boicotaram as suas aulas; respondeu descrevendo o movimento “hippie” como um bando de “patetas incoerentes” e “bárbaros”. E também se opôs aos programas de discriminação positiva a favor dos negros americanos, atacando-os como “lixo racista”.Nos últimos anos da sua vida, depois da publicação de “The Seekers”, afastou-se da esfera pública. A sua obra sobrevive-lhe, bem como aforismos como este: “O maior obstáculo à sabedoria não é a ignorância – é a ilusão de conhecimento.”

Daniel Boorstin faleceu dia 28 de fevereiro de 2004, de pneumonia, em Washington, tinha 89 anos.

(Fonte: http://www.caras.uol.com.br – 6 de janeiro de 2011 – ANO 18 – EDIÇÃO 896 – Citações)
(Fonte: http://webjornal.blogspot.com.br/2004/03 – Publicado em Março 03, 2004 – por Manuel Pinto)

(Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon – CULTURA-ÍPSILON/ Por PEDRO RIBEIRO/ NOVA IORQUE – 

 

 

 

 

O americano Boorstin, fenômeno cultural mundial, transformou-se numa boa ocasião para um desenho sugestivo dos caminhos da interpretação da arte do século XX.

Uma obra típica da indústria cultural “Os Criadores”, professor de Oxford, acadêmico americano eclético, que se consagrou nos últimos anos como autor de best-sellers eruditos, como “Os Descobridores”, onde seus personagens são indivíduos afirmativos e não as classes ou a economia.

Não é o ismo que interessa a Boorstin, mas Monet, uma pessoa cujas paixões, aventuras militares e desventuras financeiras o autor relata.

(Fonte: Veja, 12 de julho de 1995 –ANO 28 – Nº 28 – Edição 1 400 –LIVROS/ Por Teixeira Coelho – Pág: 114/115)

 

 

 

 

Daniel Boorstin. Ficou conhecido pela criação da expressão “pseudo-evento”, referida àqueles acontecimentos sem aparente mérito ou interesse, mas desenvolvidos e encenados por questões de mera publicidade.

Foi ele, também, o autor de duas conhecidas trilogias. A primeira, “Os Americanos”, constitui uma visão da maior potência do planeta sob três pontos de vista: colonialismo, nacionalismo e democracia. A segunda trilogia aborda as conquistas do gênio humano e inclui “Os Criadores”, “Os Pensadores” e “Os Descobridores”. Nesta última é dada uma grande atenção aos Descobrimentos, que levou o Governo português a condecorá-lo.

A nível acadêmico leccionou em várias universidades, mas não se deixava envolver pelo espírito acadêmico. Talvez por isso seja acusado de uma certa superficialidade pelos seus detratores. Já os milhões e milhões de consumidores das suas obras vêm nele um comunicador nato e um excelente contador de histórias.

E era precisamente isso que eu gostava nele: a clareza com que assuntos sérios eram expostos, tudo polvilhado com inúmeras referências culturais, que tornavam a leitura um verdadeiro prazer e uma constante descoberta. Uma espécie de José Hermano Saraiva da escrita histórica… Penso ter toda as suas obras editadas pela Gradiva, mas apenas li “Os Descobridores” e “Os Criadores”, além de “O Nariz de Cleópatra”. São leituras fascinantes e nada melhor do que homenagear este humanista do que ler a sua obra.

(Fonte: http://ovilacondense.blogspot.com.br/2004/03 – Março 05, 2004)

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