A primeira mulher CEO da L’Oréal Brasil

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Primeira mulher CEO da L’Oréal Brasil, An Verhulst-Santos deixou legado de mais de 50% de liderança feminina

 

Para An Verhulst-Santos, presidente da L’Oreál Brasil, a multinacional francesa que lidera no Brasil (um dos maiores mercados do mundo, junto com Estados Unidos, França e China), nasceu justamente com a divisão profissional de cabelos há 110 anos, em 1909. E foi neste setor que An iniciou sua carreira. “Quando entrei, em 1991, na Bélgica [onde a executiva nasceu]foi como emergir no coração da empresa: mergulhei – e me apaixonei – pela história da L’Oreál. Foram, no total, sete anos lá. Depois dei início ao que chamo de carreira internacional.”

 

Sua especialidade sempre foi marketing, e foi nesta área que An continuou sua trajetória: desta vez, dois anos e meio em Paris, na França, país-sede da companhia. E foi aí que surgiu a oportunidade de dar um novo salto: tornar-se general manager de um mercado, a Holanda. “O time não era enorme, 160 pessoas na divisão profissional, mas é um mercado supercompetitivo, com muitas marcas presentes, e uma população não muito grande. Um desafio”, contou. A executiva ainda ficaria muitos anos na empresa: no total, já são quase 30, algo bastante incomum para a geração nascida nos anos 80 e 90, que têm raro apego às companhias para as quais trabalham. Até por isso o exemplo de An é tão particular: de entediante, sua carreira não tem nada. Embora a empresa seja sempre a mesma, como se trata de uma multinacional, ela pode experimentar países e cargos diferentes. Um pouco de sorte? Talvez. Mas, em paralelo, empenhou-se para não ficar estagnada: quando tudo ia bem, independentemente de onde estivesse, mirava no próximo desafio e dizia à L’Oreál “Eu quero mudar”.

 

“Cada vez que você muda de país, passa por uma nova experiência de vida – pessoal e profissional”, afirma. “É preciso realmente entrar no lugar, entender quais são as diferenças culturais, o que aquela população gosta ou não, que gerenciamento é preciso adaptar, porque tal coisa funciona de determinada forma. Hoje em dia, em especial, nenhum povo se engaja igual ao outro.” E foi assim que, depois de quatro anos na Holanda, cravou: queria ir para o Brasil. An não sabia quase nada sobre o país, nunca havia estado aqui, nem de férias, mas cismou que deveria experimentar algo completamente diferente. “Eu tinha 39 anos, estava num momento de profundas mudanças. Não havia construído uma família ainda”, diz. “Era 2004 e o Brasil estava no auge, em todo lugar só se falava disso. E, na minha área, mais ainda: a beleza para a brasileira é fascinante, ela valoriza os rituais, a aparência, o cuidado, o cabelo. Eu lia em revistas como a própria Marie Claire que a beleza para vocês não é supérflua ou superficial: é uma espécie de valor, essência, que se traduz em autoafirmação e personalidade.”

 

A executiva desembarcou no Brasil como diretora da área profissional – divisão que, na época, estava entre as 20 maiores do mundo. Hoje, está entre os oito. “Foi o primeiro lugar que entendi o salão de beleza como un lieu de vie, ‘um espaço de convivência’: onde se encontram amigas, as mulheres vão se conectar umas às outras. ‘Vamos ao salão juntas?’ é um combinado comum entre as brasileiras, e isso não existe na Europa.” Sob sua gestão, o mercado duplicou em quatro anos, e ela fez lançamentos bem-sucedidos, como o da Matrix, marca de produtos para cabelos da divisão profissional. Também trouxe uma iniciativa da África do Sul ao Brasil: Cabeleireiros Contra a Aids, um projeto de conscientização e prevenção da doença em parceria com a Unesco.

 

Mas não foram só os negócios que prosperaram. No Brasil, An se apaixonou. Por um “carioca da gema”, como ela mesma o chama, o professor de educação física Leonardo. Com ele, casou e teve dois filhos com poucos meses de diferença. “Eu já havia entrado na fila de adoção quando começamos a namorar, porque tinha o desejo de ser mãe, independente de uma relação. Quando finalmente meu filho Lucca chegou, estávamos apaixonados e ele se tornou pai comigo. Logo depois, engravidei de Alicia.” Com os dois pequenininhos, a executiva deixou o país, mas já com a ideia de voltar: precisava passar pelos Estados Unidos antes de se tornar CEO. Foram quase dois anos em Nova York e depois uma nova temporada em Paris – o marido, Leonardo, abriu mão da profissão temporariamente para acompanhá-la. Até que, em 2017, An finalmente assumiu a direção geral da multinacional por aqui. Sob sua tutela, ampliou o portfólio de produtos e de atuação da empresa, celebrou os 60 anos da L’Oreál no Brasil e inaugurou o supermoderno Centro de Pesquisa e Inovação no Rio, ao lado das sete cientistas vencedoras do programa Para Mulheres na Ciência. Esta é uma iniciativa da companhia para promover a equidade de gênero em uma área em que a diferença salarial e de oportunidades ainda é gritante. “Sempre digo que nós podemos fazer qualquer coisa, se tivermos a oportunidade e trabalharmos para isso. Toda mulher nasce CEO.”

 

Fazer carreira em uma só empresa não é algo comum, mas foi assim que An Verhulst-Santos se tornou, no Brasil, a primeira mulher à frente da L’Oreál, multinacional na qual trabalha há quase 30 anos

 

Ela nasceu na Bélgica, mas se considera muito brasileira. Nosso país, afinal, deu a ela mais do que o impulso que ela acha que faltava para crescer ainda mais na carreira. O Brasil deu a An Verhulst-Santos uma família. Foi aqui que a ex-diretora-presidente da operação nacional da L’Oréal se casou com um carioca torcedor do Flamengo, adotou um filho, Lucca, com 13 anos, e engravidou de Alicia, que completa 12 em julho.

 

Dos 30 anos em que trabalha na empresa, 23 ela passou longe de sua Bélgica natal. Viveu na França, Holanda e nos Estados Unidos e estava pela segunda vez aqui, para onde veio, em ambas ocasiões, porque pediu. Seguia os ensinamentos da avó, que dizia para ela que ela poderia ser quem quisesse. “Minha avó não era CEO de empresa, mas era CEO da vida dela”, conta.

 

An agora é a nova presidente da L’Oréal Canadá. Levou com ela “a empatia, a sensibilidade e a criatividade do povo brasileiro”. E deixou um legado de equidade de gênero em sua empresa, onde 53% da liderança é composta por mulheres. Além, claro, da mensagem de que não existe uma única beleza. “Ela é a expressão de uma personalidade, faz parte de quem você é.”

No Linkedin: belga com coração brasileiro

“Talvez eu seja mais brasileira do que muitas brasileiras porque vir para cá foi uma escolha.

 

Em 30 anos de L’Oréal, 23 eu passei em países que não são o meu. Comecei na Bélgica e, após sete anos, falei [com os gestores]: e agora, o que posso fazer? Já tinha feito tudo lá. Me ofereceram uma posição na França e, de lá, na Holanda.

 

Vir para o Brasil foi pedido meu. Era 2004 e toda revista feminina falava da importância da beleza no Brasil. Vim para assumir a posição de presidente de produtos profissionais, divisão de produtos para cabeleireiros. Não falava uma única palavra de português. E me encantei pelo país, pela alegria, espontaneidade e a forma colaborativa de fazer as coisas

 

Daqui fui para os Estados Unidos e me chamaram para ser presidente mundial da divisão. Considerava o cargo uma honra, mas disse que gostaria de poder voltar para o Brasil, meu país de coração. E voltei há quatro anos para assumir esse posto do qual agora estou me despedindo.

 

O Brasil também mudou minha vida pessoal. Me casei aqui com um carioca e adotamos um filho, o Lucca. Um ano depois, engravidei da Alicia, que nasceu em Nova York quando eu tinha 44 anos.

“É importante desenvolver as pessoas da equipe, não só negócios”

“Vou para o Canadá com muita mistura de sentimentos, mas também com orgulho porque estou sendo promovida. E deixo aqui uma equipe forte, talentosa.

 

Fizemos juntos uma caminhada com muitas transformações no digital, na diversidade, na sustentabilidade. Fui a primeira mulher a chegar neste cargo no Brasil e agora o deixo para o primeiro brasileiro a ocupar a presidência, o Marcelo Zimet. Mas minha conexão com o Brasil é muito forte. Você sai do Brasil, mas o Brasil nunca sai de você.

 

Cada uma das experiências traz algo novo para mim. Você se desenvolve como líder e como pessoa. Daqui, o principal que estou levando é a empatia, a sensibilidade e a criatividade do brasileiro. Quando se apresenta um assunto, logo o brasileiro forma uma equipe para resolver aquilo. Tenho uma liderança inclusiva, gosto de compartilhar as coisas.

 

Acho que não é preciso ter respostas a cada pergunta. Mas é preciso ter muitas perguntas sobre cada problema apresentado

 

Quero que se lembrem de mim como uma pessoa que desenvolve negócios, claro, mas também que desenvolve as pessoas

“Cada mulher é a CEO de sua vida”

Meu primeiro modelo e liderança é minha avó. Minha avó não era CEO de empresa, mas era CEO da vida dela. Liderava sua vida com uma força muito genuína, autenticidade e muita gentileza. Ela tinha isso de “posso ser quem eu quero”. Por isso, acho que cada mulher pode ser a CEO de sua vida, mesmo que não seja CEO de uma empresa.

 

Meu segundo modelo foi minha primeira chefe na L’Oréal. E eu a achava poderosíssima, mostrava seu ponto de vista, sem medo dos preconceitos. E ela me ensinou a ter orgulho da voz que nós temos como mulher.

 

Eu não planejava ser presidente de uma empresa, não tinha como objetivo: quero ser isso. Mas comecei a trabalhar com muita vontade de fazer meu trabalho bem-feito. E a L’Oréal detecta isso nas pessoas: um talento, uma maneira de trabalhar. E pouco a pouco as coisas foram acontecendo.

 

Acho que talvez uma das coisas que me levou a ter sido a primeira mulher no comando da L’Óreal Brasil foi o fato de eu ter tomado o risco de pedir para vir para o Brasil da primeira vez. Minha educação é anglo-saxã e, quando inventei de vir para o Brasil, me olharam surpresos. Isso deu uma complementaridade no meu perfil profissional. E também acho que eles viram em mim energia, vontade de fazer.

 

Já quis mostrar, por ser mulher, que sei também ou que sei mais. Tenho borboletas na barriga em vários momentos ainda hoje. Mas, quando aparece a insegurança, vem também a vontade de conseguir. Além disso, não somos sozinhas, somos conectadas. Então sempre é possível pedir ajuda.

“Precisamos ser a representatividade da sociedade”

“Tentamos escutar o consumidor e tentar responder a cada desejo de beleza. Nosso propósito é criar a beleza que move o mundo. Há várias belezas, não uma só. Ela é a expressão de uma personalidade, faz parte de quem você é. Nós, como empresa de beleza número um, podemos criar marcas e produtos que acompanham essa busca de diversidade.

 

No Brasil, 53% do quadro da liderança e 64% do funcional são compostos por mulheres. Consegui desenvolver uma liderança voltada para equidade e diversidade porque estou convencida que equipes mais diversas funcionam mais e trazem mais resultado

 

Isso faz parte do compromisso da L’Oréal no mundo. A lógica é a de que precisamos ser a representatividade da sociedade em que vivemos. Nosso comitê executivo tem 30% de mulheres já. Mesmo as expatriações têm equidade.”

(Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com/Work/noticia/2019/12 – WORK / NOTÍCIA / por LAURA ANCONA LOPEZ – 03 DEZ 2019

(Fonte: https://www.uol.com.br/universa/reportagens-especiais/a-poderosa- UNIVERSA / REPORTAGENS ESPECIAIS / A PODEROSA / por CLÁUDIA DE CASTRO LIMA  / COLABORAÇÃO PARA UNIVERSA – 04/05/2021)

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