Wlademir Dias-Pino, pioneiro da poesia visual, participou da emblemática Exposição Nacional de Arte Concreta, que estabeleceu a poética construtiva

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O poeta e artista visual Wlademir Dias-Pino, foi pioneiro da poesia visual

 

 

 

 

O poeta Wlademir Dias-Pino em rua do centro de Rio, em 2008 – (Foto: Adolfo M. Navas)

 

 

Fundador da poética construtiva no Brasil, liderou o poema-processo e criou obras seminais

 

Artista carioca ganhou retrospectiva com 800 obras, no MAR, em 2016

 

 

Wlademir Dias-Pino (Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1927 – Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2018), poeta e artista visual, ele foi um dos pioneiros da poesia concreta, foi autor de uma obra visual e gráfica extensa que chega até hoje.

 

 

 

Um dos seis poetas que participaram da Exposição Nacional de Arte Concreta de 1956, ao lado de escritores como Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar, que, jovem, fundou um grupo de poesia experimental em Cuiabá, onde morou desde os 11 anos.

 

 

 

Dias-Pino, segundo sua autodefinição, era um pensador gráfico, interessado em explorar a dimensão visual da poesia. Em 2016, no Museu de Arte do Rio (MAR), ele ganhou uma retrospectiva com 800 obras que reafirmou sua posição como artista plástico. Ele participou, inclusive, da 32.ª edição da Bienal de São Paulo, em 2016, exibindo peças gráficas em sua sala especial. Antes, ele esteve presente nas edições de 1967 e 1977 da mostra internacional.

O artista publicou vários livros com poemas gráficos, entre eles A Ave (1956), além de ser autor de poemas eletrônicos e ter sido o pioneiro que introduziu motivos geométricos no carnaval de rua do Rio de Janeiro há exatos 60 anos. Filho de um tipógrafo, Dias-Pino foi criado numa família de anarquistas, o que explica a mudança da família do Rio para Cuiabá em 1936, um exílio imposto que reforçou o intimismo de sua poesia a e timidez do poeta.

 

 

Começou jovem, pela poesia, com livros que escapam do contexto da época e do cânone da Geração de 45, A Fome dos Lados (1940) ou O Dia da Cidade (1948), ainda mais sendo editados em Cuiabá, onde morava desde 1936, em razão do exílio forçado de seu pai, anarquista. Era, portanto, um lugar fora das capitanias do litoral, como gostava de salientar em seu ideário geopolítico.

 

 

Apesar de ser carioca tijucano, nascido em 1927, esse sentimento de periferia, de margem, casaria bem com a liberdade experimental de seus diferentes projetos, com sua declarada autonomia. Postulada pela exploração libertária das imagens, fundou uma linguagem exploratória que desmitificava a escrita como código, a favor do significante (desde criança já observava as letras, antes mesmo das palavras, na tipografia de seu pai).

 

 

 

Também cedo, em 1956, em São Paulo, e no ano seguinte, no Rio, participou da emblemática Exposição Nacional de Arte Concreta, que estabeleceu a poética construtiva, coincidindo com os irmãos Campos, Ferreira Gullar e artistas plásticos.

 

 

Sua obra A Ave (1956), iniciada em 1948, converteu-se em um dos primeiros livros de artista de nível internacional, pois nela se produz uma interação inédita do leitor no itinerário das páginas, o livro inventando seu próprio sistema de leitura, desde sua fisicalidade, como livro-poema.

 

 

 

Solida (1956) e Numéricos (1961-1986) fazem parte desta pioneira e ousada biblioteca, onde o recorte tridimensional das geometrias é vaso comunicante com a escultura próxima dos neoconcretos, ou então o valor dos signos faz abandonar completamente o espaço tido como literário.

 

 

Nos anos 1960, liderou o último movimento de vanguarda no Brasil, o Poema-Processo (1967-1972), talvez a aventura mais radical e heterodoxa da visualidade poética brasileira. Um movimento que se contrapõe aos postulados da poesia concreta da época, pela ênfase intersemiótica dada aos signos e às imagens no lugar das palavras, e que até agora tem recebido mais atenção e avaliação Brasil afora.

 

 

 

Sendo artista de dedicação plural e confesso experimentador, independente de mercado e instituições, a sua produção foi primeiro planificada, com trabalhos produzidos em períodos de cinco anos, e depois diversificada em várias direções, sempre em projetos, mais do que em obras.

 

 

 

Neste amplo repertório, cabem os citados livros-poema, o design de publicações, o livro A Marca e o Logotipo Brasileiros (1974), as séries dos poemas-conceito, os poemas eletrônicos, a Enciclopédia Visual, além de pinturas e desenhos, incluindo a realização do primeiro Carnaval de rua com motivos geométricos no Rio, em 1958. Sempre primando pelos conceitos de quantidade, função, versão, leitura, visualidade por extenso, o imaginário livre e plástico.

 

 

 

Durante os anos 1973 e 1978, fez parte do quadro técnico da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, e tentou implantar a chamada Universidade da Selva, um projeto utópico que seguia critérios de uma geografia, cultura e antropologia permeadas de pensamento indigenista, do qual dão fé inúmeras peças gráficas (revistas, livros, cartazes, boletins).

 

 

 

Em seu definitivo retorno ao Rio, em 1994, continuou trabalhando em várias frentes, especialmente em seu maior projeto, a “Enciclopédia Visual”, da qual saíram seis volumes anunciando seu perfil heterodoxo.

 

 

 

Já nos anos 2000, voltou a ter destaque com a mostra individual de poemas eletrônicos (em parceria com Regina Pouchain, artista e companheira sentimental), “Contrapoemas & Anfipoemas” (2008).

 

 

 

Em 2015, ganhou reconhecimento na UFMT com mostra antológica, mas foi a partir da exposição retrospectiva “O Poema Infinito”, no Museu de Arte do Rio (MAR), em 2016, que ganhou reconhecimento e divulgação.

 

 

 

Fruto disso, na sequência, foi convidado a participar da 32ª Bienal de São Paulo (já tendo participado das edições de 1967 e 1977) e, posteriormente, teve seu trabalho exibido no Centro Georges Pompidou, em Paris, e no Museu Reina Sofía, em Madri, que tem agendadas exposições de sua obra para este ano e o seguinte.

 

 

 

Nascido em fevereiro de 1927, no Rio de Janeiro, mudou-se ainda jovem para Cuiabá, onde fundou um movimento pioneiro de poesia experimental nos anos 1940, o intensivismo. Ao longo das décadas de 1950 e 60, participou da fundação dos movimentos Poema¿/¿Processo e Intensivismo. Ao propor uma leitura do mundo a partir das imagens, sua prática desafia a relação entre imagem e linguagem.

 

Foi um dos seis poetas participantes da Exposição Nacional de Arte Concreta de 1956, ao lado de autores como Augusto e Haroldo de Campos e Ferreira Gullar. Na década seguinte, liderou vanguardistas de todo o país no grupo Poema/processo.

 

 

 

Nos últimos anos, continuava produzindo em sua casa, no Rio, trabalhos que desafiam limites entre gêneros, como a “Enciclopédia visual’’, série de centenas de colagens que revê a história das imagens na cultura ocidental.

 

— Sou um pensador gráfico. Nunca me interessei pela dimensão narrativa da literatura, quis explorar a dimensão visual. Se alguém disser que o que faço não é literatura… Não ligo para gêneros. Mas a base de tudo para mim é o poema — disse em entrevista ao GLOBO em 2016, quando ganhou uma retrospectiva no Museu de Arte do Rio (MAR) com mais de 800 peças.

 

A exposição, que rendeu a Dias-Pino o prêmio Faz Diferença, do GLOBO, na categoria Segundo Caderno/ Artes Visuais, reunia poemas dobráveis e remontáveis, poemas formados por combinações numéricas e gráficos matemáticos, poemas sem palavras, compostos apenas com imagens.

 

Apesar de sua amplitude e de sua importância na história da literatura, das artes plásticas e do design gráfico no Brasil, a obra de Dias-Pino era pouco conhecida pelo grande público.

 

— O fato de Wlademir ter vivido muito tempo fora do eixo Rio-São Paulo, sua timidez e sua originalidade radical fizeram com que ele seja menos lembrado hoje do que deveria. Ele sempre seguiu um caminho singular — avaliou Evandro Salles, curador da mostra no MAR.

 

 

Esse caminho começou no Rio, onde Dias-Pino nasceu, em uma família de anarquistas. Filho de um tipógrafo, desde a infância gostava de brincar com tipos metálicos na gráfica do pai. Aprendeu a ler com a mãe, que o ensinou a desconfiar dos métodos escolares tradicionais. Dias-Pino atribuía a essa criação um traço fundamental de sua carreira, a busca por uma arte que escape da “prisão do código alfabético”, disse ao GLOBO.

 

 

Nos anos 1930, a perseguição política do governo Vargas levou a família a se mudar para Cuiabá, no Mato Grosso. Lá, Dias-Pino publicou na gráfica do pai seu primeiro volume de poemas, “Os Corcundas”, em 1939, quando tinha apenas 12 anos. Dias-Pino só lançou nacionalmente esse livro nos anos 1950, quando foi saudado pela audácia formal. A exposição sublinha o pioneirismo desse trabalho precoce e de outros, como “A Fome dos Lados” (1940) e “A Máquina que Ri” (1941).

 

A busca por novas formas de leitura levou Dias-Pino a criar o inovador livro-poema “A Ave”. O autor produziu os 300 exemplares da única tiragem da obra entre 1948 e 1956. Nela, versos como “A ave voa dentro de sua cor’’ têm as palavras espalhadas pelas páginas, que vinham soltas, numa caixa, permitindo ao leitor recriar o poema de várias formas.

 

 

 

Nos anos 1960, depois da cisão entre os concretistas paulistas e os neoconcretos radicados no Rio, o autor buscou uma terceira via. Ela se cristalizou no movimento Poema/processo, criado em 1967, que aglutinou poetas de todo o Brasil em torno da ideia de que “o poema” podia estar em qualquer lugar: na arquitetura, na matemática, em performances ou imagens. Até o fim das atividades do grupo, em 1972, seus integrantes criaram obras como um poema-casa e uma intervenção que rasgou livros de Drummond e João Cabral de Melo Neto, acusando-os de serem “poetas discursivos”.

 

— Minhas obras estão todas ligadas num projeto que está sempre em processo. Nada tem conclusão em mim — resumiu.

 

 

Sendo sempre uma figura cultuada, sobretudo dentro da poesia visual mais expandida, é objeto de numerosa fortuna crítica, incluindo Antonio Houaiss (que o saudou como “um dos melhores pesquisadores visuais” do país), Álvaro de Sá e Eduardo Kac, entre outros.

 

 

Apesar do reconhecimento dos últimos anos, ainda não existe nenhuma obra bibliográfica completa e à altura de sua prolífica diversidade. Uma aproximação valiosa, focada no período construtivo e posterior, é a publicação “Wlademir Dias-Pino: Poesia/Poema” (2015), organizada por Rogério Camara e Priscilla Martins.

 

 

Apesar da idade avançada, o poeta e artista visual carioca trabalhava incansavelmente, com seu fiel assistente Otavinho, no projeto mais ambicioso das últimas décadas, sua “Enciclopédia Visual”, composta por mais de 100 mil imagens, uma obra-arquivo rara avis, verdadeira linha de horizonte. Como poeta visionário, deixa um legado revolucionário, um além de confins imagéticos.

 

 

 

Ele também recebeu o título de doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em 2013. Wlademir foi o pai do poema-processo, do intensivismo e um dos nomes mais expressivos do concretismo. Um artista de muitas facetas, porém, tímido e reservado.

Wlademir Dias-Pino faleceu em 30 de agosto de 2018, aos 91 anos, em decorrência de uma pneumonia, no Rio de Janeiro.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08 – ILUSTRADA / Por Adolfo Montejo Navas – 30.ago.2018)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais – CULTURA / ARTES VISUAIS / POR O GLOBO – 30/08/2018)

(Fonte: https://www.terra.com.br/diversao – DIVERSÃO – ENTRETENIMENTO – 2 SET 2018)

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