Wilfred Thesiger, o “explorador do século XX”

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Wilfred Thesiger, o "explorador do século XX"

Wilfred Thesiger, o “explorador do século XX”

 

 

Wilfred Thesigero “explorador do século XX”

 

Sir Wilfred Patrick Thesiger (Adis Abeba, Abissínia, atual Etiópia, 3 de junho de 1910 – Orford House, 24 de agosto de 2003), o “explorador do século XX”, percorreu nos seus 93 anos de vida um total de 160 mil quilômetros (estimativas suas) pelas terras mais inacessíveis do mundo, da África ao Médio Oriente, em busca dos povos mais intrépidos.

Nascido na Etiópia, educado em Eton e Oxford, ele lutou com o SAS e passou a se tornar um dos grandes escritores de viagens do século XX.

A aventura começou no berço e definiu-lhe a personalidade: “o primeiro inglês a nascer na Abissínia”, atual Etiópia. Aqui, em 1917, testemunhar o dramático regresso do exército do imperador, após uma das mais sangrentas batalhas africanas, deixou-lhe marcas. Na autobiografia escreveu: “Esse dia implantou em mim o anseio pelo esplendor bárbaro, pela crueldade e cor e pelo rufar dos tambores”. 

Ficará na História, e um notável contributo para esse lugar foi a proeza de atravessar Uruq al Shaiba, uma região de dunas montanhosas do Empty Quarter ou Rub al-Khali. O maior deserto de areia, com quase 600 mil quilómetros quadrados, foi durante séculos uma barreira inexpugnável aos que sonhavam viajar pelo centro da Península Arábica. 

Oriundo de uma família de diplomatas e militares britânicos, Thesiger pertencia a uma espécie de clã de classe alta que tinha por divisa “spes et fortuna” ou “esperança e sorte”. O pai, ministro responsável pela missão britânica na região, morreu quando o jovem Wilfred, o mais velho de quatro filhos, tinha nove anos. 

A família regressou então a Inglaterra e Thesiger foi estudar para Eton. Frequentou depois o Magdalen College de Oxford, onde ganhou vários prémios, incluindo o de ser o único britânico a receber um convite para assistir, em 30 de novembro de 1930, à coroação de Ras Tafari como imperador Hailé Selassié. 

Concluída a formatura, Thesiger regressou à Abissínia, onde, em 1934, resolveu o mistério do desaparecimento do rio Awash, que nasce nas montanhas a ocidente de Addis Abeba, flui para leste mas nunca chega ao mar. Essa viagem, confessou, foi “a mais perigosa de todas”. Ele e os seus homens penetraram em território onde duas expedições italianas e outra do exército egípcio tinham sido aniquiladas pela tribo dos Danakil, guerreiros conhecidos por colecionarem os testículos dos inimigos. Thesiger descobriu que o rio tinha a sua foz num lago salgado, mas mais importante do que a descoberta foi ter regressado vivo com todos os seus homens. Tinha apenas 23 anos. 

A partir desse momento, Thesiger decidiu avançar para a “colorida e árdua” incursão no Empty Quarter. Para a concretizar, numa região de xeques muçulmanos desconfiados de cristãos, precisava de uma missão, e a cobertura foi-lhe dada pela Middle East Anti-Locust Unit (Unidade Anti-Gafanhotos do Médio Oriente), um ramo da organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). 

Acompanhado dos seus beduínos, Thesiger levou apenas o estritamente necessário: uma espingarda, uma máquina fotográfica (primeiro uma velha Kodak do pai e a seguir uma Leica que ele protegia com pele de camelo), uma lupa e uma bússola. Com os “bedu” aprendeu os duros códigos de honra, paciência, generosidade e hospitalidade que punham à prova toda a coragem de um ser humano. 

Na despedida do Empty Quarter, em 1950, o autor de “Arabian Sands” – clássico da literatura de viagens que, como todos os seus livros, está recheado de preciosas fotografias a preto e branco -Thesieger ainda vagueou pelo mundo na década seguinte. Foi para o Sul do Iraque “viver como os búfalos”, com os Madan, “árabes dos pântanos”, mas achou os verões insuportáveis e, em 1951, refugiou-se no mais ameno Curdistão (Norte). 

Em 1953, podiam encontrá-lo no Paquistão e, em 1956, no Afeganistão, onde se juntou aos Nuristanis. Quando a revolução iraquiana de 1958 o constrangiu a abandonar o país, Thesiger voltou à Etiópia, em 1960, para novas explorações. Em 1968, no Quénia, infiltrou-se entre os Samburu, uma tribo que ao ver a sua figura esguia, grandes orelhas e o nariz pontiagudo lhe deu o cognome de “grande elefante que caminha sozinho.” Nos anos 90, a saúde frágil forçou-o a instalar-se na pátria dos antepassados. Ficou amargo. 

“Algumas pessoas insistirão em que vivem melhor depois de trocar a dureza e a pobreza do deserto pela segurança de um mundo materialista – eu não acredito nisso!”, sentenciou o nobre nômade Thesiger. “A nossa extraordinária ganância pelos bens materiais, a falta de equilíbrio nas nossas vidas e a nossa arrogância hão-de matar-nos dentro de um século, a não ser que paremos para pensar.”

Thesiger nunca gostou da “civilização”, mas foi na Inglaterra que a sua odisseia acabou. Primeiro com a reforma num lar de idosos, em Orford House. Depois com o internamento hospitalar, até ao óbito, dia 24 de agosto de 2003.

Wilfred Thesiger morreu “tranquilamente no hospital”, depois de ter percorrido nos seus 93 anos de idade, em Orford House. 

 

 

(Fonte: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/wilfred-thesiger-morreu-o-explorador-do-seculo-xx-1163419 – MARGARIDA SANTOS LOPES – 28/08/2003)

 

 

 

 

 

(Fonte: http://www.theguardian.com/books/2002/jun/29/featuresreviews.guardianreview6 – LIVROS/ Jonathan Glancey – 29 de junho de 2002)

 

 

 

 

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