Vittorio de Sica, foi um dos mais importantes diretores e atores do cinema italiano.

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Vittorio de Sica (Sora, 7 de julho de 1901 – Paris, 13 de novembro de 1974) foi um dos mais importantes diretores e atores do cinema italiano.
“Será que vamos morrer cedo?”, costumava perguntar Vittorio de Sica, tossindo,a uma secretária de produção que fumava tanto quanto ele. “Que nada!”, respondia, quase afogueada, a napolitana Carla Fierro, conhecida nos estúdios italianos por “Catarro”. E, com sua rouca voz, a moça completava: “Olha Vittò, o Churchill, com 87 anos, está sempre de charuto na boca”. Então, De Sica voltava ao set de filmagem e aos maços que sempre tinha nos bolsos.

Na primeira semana de novembro, num leito de hospital, aos 73 anos de idade, ele cometeu suas últimas tragadas – burlando a enfermeira que passava os dias no quarto ao lado. Estava em Paris para assistir ao lançamento de seu último filme, “A Viagem”, com Richard Burton e Sophia Loren, quando de uma hora para outra foi internado com distúrbios nos brônquios e algumas dores nas costas – e morreu. Ao seu lado se encontravam a mulher, a atriz espanhola María Mercader, e um dos filhos, Christian. Na realidade, sem o saber, o diretor e ator, hospitalizado pela primeira vez em agosto de 1973, numa clínica de Genebra, para que lhe retirassem um tumor pulmonar provocado pelo abuso de fumo, sofria de câncer.

Mas Vittò – o u o “Commendatore” ou ainda o “Maresciallo”*, apelidos carinhosos que lhe davam os amigos e colegas de cinema – era incorrigível. Mais do que sua paixão pelas pizzas, pelas mulheres (foi casado duas vezes, teve três filhos) e pelas mesas verdes do pôquer, não conseguia separar-se dos cigarros. Tinha parado de fumar durante a guerra e recomeçara por culpa de Roberto Rossellini – em Milão, em 1948, durante a nervosa estreia de “Ladrões de Bicicletas”. Incerto quanto à reação do público e da crítica, logo que as luzes da sala de projeção se apagaram começou a tremer. Rossellini, sentado ao lado dele, tirou o cigarro da boca e deu-o a De Sica. E confidenciou-lhe, baixinho: “Acalme-se. Você fez uma obra-prima”. Quando o filme acabou, os dois correram para o primeiro bar.

Divo de Nápoles – “Ladrões de Bicicletas” comoveu o mundo inteiro. E a obra máxima do neo-realismo italiano permanece entre os melhores filmes de todos os tempos. Antes de tudo, por uma qualidade: o imenso amor de Vittorio de Sica (e do seu roteirista e compadre Cesare Zavattini) pela criatura humana.

“Ele é o mais autêntico descendente de Chaplin”, foi a frase do diretor René Clair depois da sua comovida visão do filme. E o talento, ou o gênio, da dupla De Sica/ Zavattini seria confirmado logo em seguida com “Milagre em Milão” (1950) e “Umberto D” (1951). Os numerosos filmes que se seguiram – do diretor e do intérprete de mil caras De Sica – marcaram sua adesão a um novo tipo de realismo, uma espécie de realismo cosmopolita. Nos últimos quinze anos, inclusive, seu trabalho como diretor foi muito criticado. Até que De Sica fez “O Jardim dos Finzi Contini”, premiado em 1970 com o Oscar de melhor filme estrangeiro nos Estados Unidos.

Fecunda dupla – Mas como surgiu Vittorio de Sica? Onde as fontes de seu gênio criador ou do seu absoluto charme de intérprete? Além da trilogia famosa, ele dirigiu “Ouro de Nápoles” (1954, onde explodiu Sophia Loren no sketch “Pizzas a Crédito”), e mais 26 filmes. E interpretou, entre 150 variadíssimos papéis, o impressionante General Della Rovere em “De Crápula a Herói” (1959), última obra-prima do seu amigo Rossellini.

Nascido em Sora, província de Frosinone, de pai napolitano e mãe romana, De Sica sempre cultivou amizades que influíram em seu destino. Menino, cantava a “Ave Maria” de Gounod no coro de uma igreja de Florença – não tanto pela sua bela voz, mas porque conquistara a simpatia dos padres. Em Nápoles, um amigo de seu pai levou-o ao camarim da atriz Tatiana Pavlova, que o iniciaria no teatro e na escola de Stanislávski. E mais Mario Camerini, diretor cinematográfico, e Cesare Zavattini, jornalista – todos, de uma maneira ou de outra, o impulsionaram. Com Zavattini nasceu a amizade que deu origem à mais fecunda dupla da cinematografia italiana (e talvez mundial). E que levou à grande descoberta – arte, em fusão com a realidade. E à grande máxima: o drama das alamas, em vez do drama das imagens.

* O apelido de “Maresciallo” veio do seu papel, um exuberante suboficial carabineiro, em “Pão, Amor e Fantasia” (1953), que iniciou a famosíssima série com Gina Lollobrigida, Sophia Loren e outras estrelas.

(Fonte: Veja, 4 de janeiro, 1995 – ANO 28 – N° 1 – Edição n° 1373 – LIVROS/ Diogo Mainardi – Pág; 98/99)
(Fonte: Veja, 25 de dezembro, 1996 – ANO 29 – N° 52 – Edição n° 1476 – MEMÓRIA/ Geraldo Mayrink – Pág; 210/213)
(Fonte: Veja, 20 de novembro, 1974 – Edição n° 324 – CINEMA/ Por Ronaldo Brandão – Pág; 97)

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