Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, o grande artesão, mestre e artista pernambucano.

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A vida em barro

Vitalino Pereira dos Santos (Caruaru no Distrito de Ribeira dos Campos, 10 de julho de 1909 – Caruaru, 20 de janeiro de 1963), o Mestre Vitalino, o grande artesão, mestre e artista ceramista pernambucano. Vitalino trabalhou em cerâmica desde os seis anos de idade, tinha a pele queimada de sol, usava roupa de algodão e um chapéu de massa redondo, era devoto de São Sebastião e do Padre Cícero Romão, gostava de tocar pífano, era baixo e franzino, bebia cachaça e nunca estudou arte. “Fui aprendendo pela cadência, tirando do juízo”, diz um dos grandes painéis informativos da exposição inaugurada em Recife em janeiro de 1972, a primeira retrospectiva de Vitalino, no Museu de Arte Popular de Pernambuco.

Na exposição aprende-se pela observação dos oitenta trabalhos expostos, que Mestre Vitalino era um artista da terra, como dizia o sociólogo Gilberto Freyre na inauguração: “Ele arrancava as coisas da terra, sem impelir a ela suas figuras. Muito pelo contrário, ele sempre trazia as figuras da terra.”

A escola do barro – Centenas de artistas vivem da cerâmica em Caruaru. A maioria seguem a escola do mestre, cujo nome criou fama para a cidade, para o Estado e para a arte de modelar, no barro, a vida e a gente do nordeste. Sua viúva Joana Maria da Conceição conta como Vitalino trabalhava. Sempre preocupado com a “matéria-prima bem selecionada”, ele pegava a argila bem umedecida e amassada e a deixava repousando por alguns dias, até chegar à consistência exata. Colocava então a massa numa prancha e alisava-a demoradamente. Com as mãos molhadas, preparava uma espécie de rolo de argila e, unindo vários rolos, compunha o esboço da figura, modelando-a com o polegar. Depois trabalhava na cabeça do boneco, deixando para os filhos outras partes do o corpo.

Usava argila clara, macia, ou barro branco ou um barro chamado “tauá”. Variava os tons empregando água, tintas e caroços de mocunã. No início, não assinava sua obra. Só quando já era adulto e conhecido entre ceramistas começou a marcar os bonecos com seu nome a lápis. Entre 1947 e 1949, talvez por preguiça, trocou essa assinatura por um carimbo.

O que saía das mãos de Vitalino, nos primeiros anos, eram cavalinhos, bodinhos, louças domésticas e réplicas de porcelana estrangeira, peças que ele chamava de “loiças de brincadeira”. Ocupava pouco espaço na exposição, reservada, de um modo geral, para a época em que Vitalino passou a crescer como artista, dando forma, a figuras humanas e a acontecimentos do cotidiano. São dessa fase seus soldados que assustam o homem rude e inculto, os cantadores das feiras, os conjuntos de tocadores de pífano, seus matutos em dia de batizado ou de casamento ou em qualquer outra festa, seus retirantes. Através desses personagens, toda a vida do nordeste é também retratada em barro, desde um fenômeno secular como a seca até cenas de hospital ou de viagens, sempre mostrando as coisas pelo ponto de vista do sertanejo, do homem mais simples.

Até hoje, por tudo isso, Mestre Vitalino é considerado o artista do nordeste, como dizem os versos de um folheto do poeta popular pernambucano José Gomes: “Hoje de nós tão distante/ De Caruaru amado/ Deste mundo torturado/ Onde vivemos ao léu/ Lá na Celeste Cidade/ Vitalino, o grande artista/ Seja sempre o ceramista/ Dos nordestinos no Céu.”

Mestre Vitalino morreu pobre em 20 de janeiro de 1963, aos 54 anos, sem conhecer a valorização de sua obra: pequenos bonecos de barro que ele vendia por qualquer dinheiro na feira de Caruaru e que hoje alcançam preços exorbitantes.

(Fonte: Veja, 2 de fevereiro de 1972 – Edição n° 178 – ARTE – Pág; 70)

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