Videolocadora pioneira em Belo Horizonte

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Videolocadora pioneira em Belo Horizonte

Uma rampa larga de uma casa no estilo moderno leva aos mais de 18 mil filmes, organizados em prateleiras que ocupam os dois andares do imóvel, no bairro Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Inaugurada em novembro de 1983 no Shopping 5ª Avenida, na Savassi, a Videomania foi transferida para a Rua Curitiba em 1989. O comércio, que já rendeu boas amizades para os donos Gery Weinberg e Alba Weinberg, está com os dias contados. O acervo da locadora está à venda até dia 19 deste mês, quando a loja fecha as portas. Enquanto atendia os últimos clientes, Gery, mineiro de 65 anos, contou ao G1 a história de uma das mais antigas videolocadoras da capital mineira.

“Estava começando a febre do Atari”, diz Gery, referindo-se a um dos primeiros videogames da história. A Videomania iniciou alugando apenas cartuchos. O comerciante conta que, nesta época, a esposa, Alba, deixou de lado as aulas de inglês e resolveu abrir a locadora. Somente em 1986, quando os videocassetes começaram a aparecer pelo Brasil, é que Gery, então engenheiro, resolveu entrar no negócio. “A gente viu que iria acontecer uma explosão de consumo de vídeos. Esse fenômeno já estava acontecendo nos Estados Unidos e a gente previu que iria acontecer aqui também”, lembra.

A partir de então, o acervo e os clientes não pararam de crescer. Segundo Gery, desde o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia – que fez a sua ficha em 1993 – a uma pequena garota que ia com a avó alugar filmes infantis, muitas amizades surgiram. A menina, inclusive, que hoje tem 14 anos, enviou ao Gery uma carta, dizendo estar muito triste com o fim da videolocadora. “Estar na sua locadora me lembra minha infância, me lembra quando minha avó dizia para eu não correr na rampa da entrada com medo de eu cair e de ficar horas escolhendo filmes que eu já vi um milhão de vezes, como “Cinderela” e “Peter Pan”, escreve a “fã”, como ela mesma assinou no fim da carta.

Artistas, como os compositores Fernando Brant, Paulinho Pedra Azul e Geraldo Vianna, já passaram pelo balcão da Videomania. Balcão esse onde Gery costuma ouvir muitas histórias. “Um balcão de uma locadora é o equivalente a um divã de um psicanalista. Encosta gente de todo o tipo aqui. E você tem que saber lidar com cada um. A gente cria um vínculo com alguns. Com os mais assíduos, com os mais abertos. Tem muitos que param, conversam, trocam ideias sobre filmes, sobre qualquer assunto”, diz.

Cliente e amigo

Entre as pessoas que Gery criou um vínculo está o empresário de 60 anos Antonio Chamone, que é cliente da Videomania desde 1992. “Naquela época a gente alugava fita VHS. Meus filhos iam buscar os desenhos animados do “He-man”, relembra.

Ao falar do amigo, Chamone não economiza elogios. “O Gery sempre foi muito tradicional no bairro. Ele sempre foi muito amigo e sempre teve o melhor acervo de Belo Horizonte. De uma forma ou de outra, todo mundo vai buscar outra locadora. Mas nenhuma vai ter o carisma e a paciência que o Gery tinha conosco. Muito mais do que alugar um filme, o que a gente queria era bater um papo naquela varanda bonita que tem na frente da locadora”.

Desse “bate-papo” com os clientes, Gery acredita que vá sentir falta. Para ele, uma locadora não é somente um espaço onde as pessoas alugam vídeos. “Eu acho que essa falta, o consumidor vai sentir. A falta do contato físico. Por mais tecnológica que a internet seja, eu acho que o brasileiro sente falta de pegar, de sentir, de ler”, diz o comerciante, falando a respeito das locadoras virtuais.

Fim das atividades
Por mais difícil que seja para Gery e Alba, o fim da locadora está próximo. O proprietário conta que o que o levou a encerrar as atividades foi a dificuldade em arcar com o aluguel do imóvel, que fica em uma área nobre da capital mineira. “O valor do aluguel do imóvel quintuplicou. Não fosse isso, a gente ia tentar resistir mais”, diz o empresário que não esconde o desejo de continuar.

Ele já esboça a saudade e diz que vai sentir falta dos filmes que o acompanharam o seu cotidiano durante pouco mais de 20 anos.

(Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2013/01 – MINAS GERAIS – Pedro Cunha Do G1 MG – 11/01/2013)

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