Théodore Monod, explorador, naturalista e humanista francês

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NATURALISTA FRANCÊS

Théodore Monod (Foto: DR/Reprodução)

Théodore Monod (Foto: DR/Reprodução)

Monod dedicou a sua vida ao estudo dos desertos

Theodore Monod (França, 9 de abril de 1902 – Versalhes, 22 de novembro de 2000), explorador, naturalista e humanista francês

O naturalista francês Théodore Monod, professor honorário do Museu Nacional de História Natural e membro da Academia das Ciências, dedicou a sua vida ao estudo dos desertos.

Monod era Professor do Museu de Ciências Naturais de Paris e fundador do Instituto Francês de África Negra. Ele, que dedicou parte da vida às pesquisas na África, principalmente no deserto do Saara, escreveu mais de 15 livros científicos e filosóficos.

Monod iniciou a sua carreira no ramo da ictiologia – parte da zoologia que estuda os peixes – antes de se sentir atraído pelo deserto e lhe consagrar o trabalho de toda uma vida. 

O cientista francês tornou-se um dos grandes especialistas em desertos que percorreu e estudou com todo o detalhe ao longo das muitas expedições que efetuou. 

Monod morreu aos 98 anos em Versalhes, em 22 de novembro de 2000, em decorrência de um derrame cerebral, que o deixou internado desde fevereiro de 1999.

Monod foi vítima há cerca de um ano de um acidente cerebral, tendo sido posteriormente internado na casa de saúde Claire Demeure onde permaneceu até à sua morte.

(Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/70/tributo/por Luciana Franca – 27 de novembro de 2000)

© Copyright 1996/2000 Editora Três

(Fonte: https://www.publico.pt/ciencia/noticia – CIÊNCIA – NOTÍCIA – 22 de novembro de 2000)

 

 

 

 

 

“Sei o que fica por detrás da montanha, mas continuo a ir ver.”

“O deserto não é a terra da idade de ouro. Os homens do deserto não são nem melhores, nem piores do que os outros homens. Simplesmente, eles conservaram mais do que nós o sentido da poesia e do riso”, dizia Théodore Monod da sua grande paixão – o deserto e os nômades que o habitam. Costumava dizer que sabia o que “fica por detrás da montanha” mas não resistia a continuar a espreitar. Assim como fervia de curiosidade sobre o que se passaria depois da morte. Agora sabe.

Morreu um grande naturalista, e era o último. Théodore Monod, professor honorário do Museu Nacional da História Natural de Paris, membro da Academia das Ciências francesa, faleceu na terça-feira, num hospital de Versalhes, aos 98 anos de uma vida extraordinária. Era um cientista polivalente, como os havia no século XVIII: naturalista, geólogo, botânico, pré-historiador, oceanógrafo, arqueólogo. Em 1970, explicava numa entrevista à rádio francesa: “Tudo me interessa.Não tenho culpa, mas tudo me interessa. Tendo-me encontrado em regiões então pouco frequentadas, fui levado pela necessidade a interessar-me ao mesmo tempo por coisas muito diversas, como a geologia e a pré-história, ou ainda a botânica. Mas isto não quer dizer que me considero como um especialista de um número considerável de ramos científicos, isso seria ridículo”. Descendente de uma linhagem de pastores protestantes, o jovem Théodore Monod trocou o sacerdócio pela ciência.

A sua terra de adoção era o Sara – a sua escola de “humildade”, dizia ele. Calcorreou o deserto em todas as direções, a pé, com um camelo, ou de 4×4, já no fim da vida: “Um camelo é muito maçador, e é também uma lição de humildade e de frugalidade. Não se dá ordens a um camelo, tem de se aprender a ser paciente com ele”, explicava o “louco do deserto”, como lhe chamam os seus amigos. Théodore Monod descobriu o deserto um pouco por acaso, aos 20 anos, numa missão de observação de peixes e de crustáceos, na Mauritânia, por conta do Museu de História Natural, de Paris. Quando chegou a altura de regressar a França, preferiu atravessar o deserto até Dacar, em vez de apanhar diretamente um barco.

Foi uma viagem de três semanas, com um só camelo por montada, e que transformou a sua vida. Ficou loucamente apaixonado pelas dunas e pela areia: “O deserto é belo, não mente, é limpo”. Depois, fez dezenas de missões em zonas que até então eram pontos em branco nos mapas, quase desconhecidos. Os beduínos adoptaram-no e partilharam com o ele os segredos ancestrais, inspirando-lhe os numerosos livros e artigos que escreveu e que são, ainda hoje, uma referência absoluta.

Obras como “A esmeralda de Garamantes” “Desertos”, “Méharées” tiveram um imenso sucesso popular, tornando-o conhecido do grande público, que o escutava na rádio ou na televisão, como se escuta um avô a contar as suas aventuras. No Museu da História Natural, o seu “antro de cientista”, mesmo depois da reforma, trabalhava no meio de inúmeras obras sobre o deserto, claro, e de muitos insectos e de crustáceos conservado em formol. Meticulosamente, Théodore Monod anotava todas as suas observações em cadernos.

Há assim mais de trinta mil objetos, plantas, fósseis, animais, por ele descritos nos registos do Museu de História do Homem, em Paris. Muitas centenas de plantas, por ele descobertas, trazem o seu nome – como a raiz “monod”. Como a planta que mais o fascinava, a “monodiela fluosa”, descoberta nas montanhas do Tibesti, no norte do Chade, em 1940. Monod trouxe esse único exemplar para Paris, e nunca mais voltou a encontrar a mesma planta na natureza. Diz-se que Théodore Monod passou a vida à procura de um meteorito gigante que não existe – mas era só um pretexto para palmilhar o deserto. Théodore Monod confiava na natureza, não nos homens.

Este filho de pastores protestantes perdeu a fé a 6 de Agosto de 1945, no dia da bomba de Hiroshima. Ele dizia: “Entra-se no deserto como se entra numa religião”, mas o deserto, esse, nunca o desapontou. Era um pacifista – todos os anos, a partir de 6 de Agosto, observava um jejum de quatro dias na data do aniversário dos bombardeamentos atômicos no Japão para protestar contra a arma nuclear. Filosofou com o católico Teilhard de Chardin e com o ateu Vercors, manifestou-se contra a guerra da Argélia, militou contra a caça e pelo direito dos mais desfavorecidos a um alojamento decente.Um dia de 1994 – “passavam dez minutos do meio-dia”, lembrava-se ele – desmontou pela última vez um camelo, depois de uma viagem de 40 dias pelo deserto.

Tinha então 92 anos, e era demasiado idoso para continuar a viajar, demasiado doente para palmilhar o deserto, mas demasiado impaciente para aceitar a reforma.Mesmo depois da vista o ter traído, calçava as solas de areia para procurar o que fica por detrás das montanhas: “Sei o que fica por detrás da montanha, mas continuo a ir ver. A curiosidade é uma coisa que o homem precisa sempre de satisfazer. E tenho muita curiosidade em saber o se passará do outro lado, quando terei deixado este mundo. Acho que vai interessar-me muito”, dizia em 1997, numa emissão de rádio. Morreu um grande humanista.

(Fonte: http://www.publico.pt/ciencias – CIÊNCIAS/ Por ANA NAVARRO PEDRO, EM PARIS  – 23/11/2000)

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