Tennessee Williams (1911-1983), dramaturgo americano, o grande maldito da década de 50

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Tennessee Williams (1911-1983), dramaturgo americano, o grande maldito da década de 50, que povoou palcos e telas do mundo inteiro de personagens dominados pela paixão. Seus dramas foram vistos nos palcos e salas de cinema em quase todos os idiomas, e os personagens de Tennessee Williams serviram, para diversos intérpretes, de catapulta perfeita para o estrelato. Assim, Blanche Dubois, a dama sulista decadente de Um Bonde Chamado Desejo, atraída pela presença sensual de seu cunhado Stanley Kowalski, ajudou a imortalizar nas telas a atriz inglesa Vivien Leigh. Kowalski, no palco e no cinema, inspirou Marlon Brando em interpretações inesquecíveis. Em Gata em Teto de Zinco Quente, Elizabeth Taylor transpirou sensualidade no papel de Maggie, bela e insaciável, casada com um alcoólatra impotente encarnado por Paul Newman.

ÁLCOOL E DROGAS – Os textos de Tennessee Williams costumavam trair a mesma preocupação puritana, reflexo da convivência com o avo, bispo da Igreja Episcopal. As tramas que engendrava eram uma mistura de sexo, violência, homossexualismo, castração ou até mesmo canibalismo, como em De Repente, no Último Verão. Foi especialmente talentoso na criação de grandes figuras femininas, torturados eixos em torno dos quais gravitavam os demais personagens. Pra o cinema, por exemplo, escreveu Baby Doll, que lançou a atriz Carroll Baker e a então ousada moda da camisola curta. O texto de Tennessee era marcadamente poético e a construção teatral, bastante elaborada. Mas essas virtudes acabavam esmagadas pela força dos personagens, que invadiam a memória do público e ali ficavam para sempre.

Nos anos 60, rico mas esgotado, Tennessee veria sua obra perder o poder de sacudir platéias. Sem o direito de repetir uma frase tornada famosa por Blanche Dubois – “Sempre dependi da bondade dos estranhos” -, refugiou-se no álcool e nas drogas. Há 22 anos não conhecia um novo sucesso. A cada tentativa de regresso à ribalta, era massacrado pela crítica. Thomas Lanier Williams, que mudara seu nome para Tennessee em homenagem ao Estado natal de seus ancestrais, transferia-se nos últimos tempos para Key West, na Flórida, convertido ao catolicismo.

Duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes prêmios de dramaturgia americana, Tennessee Williams será provavelmente lembrado como o mestre das histórias de mulheres trágicas, com devaneios inconfessáveis. Ainda que seus temas tenham perdido o impacto dos assuntos proibidos, os personagens por ele criados continuarão a ser disputados por atores do mundo inteiro. As criaturas inventadas por Tennessee Williams costumavam passar a vida tentando impor suas fantasias à realidade, até terminarem destruídas por ela. De certa forma, foi essa a trajetória cumprida pelo grande dramaturgo americano.

“Se fosse possível escolher um lugar para morrer, escolheria Roma”, disse certa vez Tennessee. Não foi. Na última sexta-feira, (25 de fevereiro de 1983), um mês antes de completar 72 anos, o grande maldito da década de 50, morreu solitário num quarto de hotel em Nova York. Há algum tempo já não pesavam maldições sobre sua obra. Talvez porque o neurótico, frequentemente doentio universo de Tennessee tenha sido submetido a um processo de envelhecimento pela evolução dos costumes, que transformou em figuras bem menos perturbadoras certos tipos criados pela imaginação do maior dramaturgo surgido no século XX nos Estados Unidos depois de Eugene O’Neill.

(Fonte: Veja, 2 de março, 1983 – Edição 756 – DATAS – Pág; 81)

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