Sir Francis Charles Chichester, pioneiro do voo solitário Nova Zelândia – Japão em 1931

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Pioneiro do voo solitário e vencedor das duas primeiras regatas transatlânticas

Sir Francis Charles Chichester (1901-1972), cartógrafo, aviador e iatista inglês. Pioneiro do voo solitário Nova Zelândia – Japão em 1931; vencedor das duas primeiras regatas transatlânticas, 1960-62; no pequeno iate a vela “Gipsy Moth III”, deu a volta ao mundo sozinho em 266 dias, em 1966-67, com uma só escala em Sydney.

(“Nada houve de romance – o enjoo marítimo constante é por demais anti-romântico”). Chichester morreu no dia 26 de agosto de 1972, aos 71 anos, de câncer na coluna – do qual já sofria quando deu a volta ao mundo, no Royal Navy Hospital de Londres.

(Fonte: Veja, 30 de agosto, 1972 – Edição n.° 208 – DATAS – Pág; 81)

Sir Francis Charles Chichester (1901-1972), foi marinheiro e também aviador, sendo nomeado cavaleiro pela rainha Elizabeth II por ter dado a volta ao mundo com seu Gipsy Moth IV, pela rota dos clippers, no tempo recorde de apenas nove meses e um dia, isso aos 65 anos de idade e desenganado por um câncer de pulmão (viveu mais de dez anos depois do diagnóstico). Mas muito antes disso, já por volta de 1930, ele era famoso por seus vôos recordes ao redor do mundo com um avião que levava o mesmo nome de seus barcos, “Gipsy Moth”. Segundo o New York Times, Chichester justificava suas façanhas dizendo que “a única maneira de viver uma vida plena é fazer alguma coisa cujo sucesso que dependa tanto do uso do cérebro como de esforço físico”.

Chichester nasceu no condado de Devon, Inglaterra, filho de um austero pastor anglicano, e dizem que sofreu com a educação que lhe foi dada. Francis Chichester, ainda menino, teria sido mordido por uma cobra, e procurando ajuda em casa, o pai lhe teria mandado pegar a bicicleta e pedalar sozinho ao atendimento de saúde local… Não é de admirar que aos 18 anos, Chichester tenha emigrado para a Nova Zelândia, onde conseguiu inicialmente ter sucesso financeiramente vendendo assinaturas de jornais e revistas, e depois de adquirir uma fazenda, com comércio de madeira. Casou-se em 1923, mas a esposa, depois de ter lhe dado um filho, faleceu em 29, mesma época da Grande Depressão.

Retornou então à Inglaterra em 1929 para visitar sua família, enquanto aprendeu a pilotar, tornando-se piloto qualificado. Logo seu espírito aventureiro se manifestou, quando adquiriu o avião “Gipsy Moth”, com o qual resolveu voar de volta para a Nova Zelândia. Por problemas mecânicos não bateu o record dessa viagem área, mas de qualquer jeito, chegou na Austrália em 41 dias, depois de uma viagem de 12.600 milhas em 180 horas de vôo — seu Gipsy Moth foi embarcado de lá para a Nova Zelândia. Já famoso pela viagem da Inglaterra à Austrália, Francis Chichester realizou no ano seguinte a primeira travessia de avião direta da Nova Zelândia para a Austrália, pelo perigoso mar da Tasmânia. Depois, realizou vários vôos para ilhas do Pacífico, danificando seu avião numa dessas oportunidades na ilha Lord Howe, que teve de ser reconstruído com a ajuda dos ilhéus. Suas viagens e travessias aéreas no Pacífico lhe renderam um prêmio, o Amy Johnson Memorial Trophy.

Entusiasmado, resolveu dar a volta ao mundo com seu avião, mas ao decolar de uma aeroporto no Japão, no porto de Katsuura, bateu contra postes e cabos de telégrafo. No hospital, constatou-se 13 fraturas, foi operado, e recuperou-se lentamente — somente cinco anos depois ficou plenamente restabelecido. E pouco depois, em 1936, realizou uma viagem sozinho em seu avião da Australia para a Inglaterra, nova façanha que ampliou sua fama. No ano seguinte casou-se novamente, com Sheila Craven, que apoiava incondicionalmente as aventuras do marido.
Durante a Segunda Guerra Mundial serviu ao Reino Unido, redigindo um manual de navegação para os pilotos da RAF. Terminado o conflito, continuou vivendo na Inglaterra, onde criou uma empresa produtora de mapas. E como a era dos jatos chegara, ele resolveu deixar a aviação e voltou-se para o mar, comprando um veleiro, o Gipsy Mouth II, e participando de suas primeiras regatas oceânicas.

Dos Céus para o Mar

Em 1958 Chichester foi diagnosticado como paciente terminal de câncer no pulmão, com os médicos dando-lhe seis meses de vida, e querendo extrair um pulmão. Mas ele se recusou a fazer a cirurgia, ao invés disso seguiu os conselhos de sua esposa, tornando-se vegetariano, e tratando-se com medicina alternativa na França. Além disso, Chichester resolveu dedicar-se totalmente a navegação marítima.

Em 1962, ele participou e venceu sua primeira regata de travessia transatlântica, com o veleiro Gipsy Moth III — e não apenas venceu, mas chegou uma semana antes dos outros competidores e bateu o recorde de travessia transatlântica. A partir daí, Francis Chichester encontrou um novo desafio, uma volta ao mundo em solitário. A rota mais rápida seria pelo Cabo Horn, no extremo da América do Sul, a mais famosa e perigosa passagem de navios do mundo. Para essa façanha, ele precisaria de um barco mais forte e rápido, assim conseguiu um patrocínio da cervejaria Whitbread, que financiou o Gipsy Moth IV.

E em 27 de agosto de 1967, partiu com seu Gipsy Mouth IV, de Plymouth, Inglaterra, para uma volta ao mundo concluída no mesmo porto em 28 de maio de 1967, circunavegando o globo pela rota dos grandes cabos. Mas antes, quando tinha completado 107 dias e 13.750 milhas, ele quase desistiu, quando o piloto automático do barco quebrou, sem condições de ser consertado. A partir daí, para continuar, ele teria que levar o barco manualmente, uma tarefa difícil para uma homem de 65 anos de idade. Mas ele resolveu continuar assim mesmo, e conseguiu atravessar o temido cabo Horn em tempo habil para escapar dos meses de inverno, quando tempestades tornam aquele local um dos mais perigosos para navegação no mundo.
Com essa circunavegação em tempo recorde, Chichester foi tornado cavaleiro pela rainha Elisabeth I. Seu barco, Gipsy Moth IV, ficou exposto até hoje e preservado ao lado do Cutty Sark em Greenwich.

O Gipsy Moth IV

Contudo, no início dos anos 2000, o Gipsy Moth IV estava bastante deteriorado, o que motivou a fans de Chichester iniciarem uma completa restauração do veleiro. Uma campanha foi lançada em 2003 pelo editor da revista Yachting Monthly, não apenas para o barco ser recuperado, mas também conduzido para nova volta ao mundo comemorativa dos 40 anos do feito de Chichester, e dos 100 anos de existência da revista.

Em novembro de 2004, o Gipsy Moth IV foi vendido simbolicamente por uma libra e uma dose de gin tônica (bebida preferida de Francis Chichester) para a Sailing Academy do Reino Unido, em Cowes, ilha de Wight. O veleiro foi então restaurado nos estaleiros Camper & Nicholson, em Portsmouth.
Em setembro de 2005, o Gipsy Moth partiu para uma viagem de treinamento de 21 meses de volta ao mundo, pela antiga rota do comércio dos ventos alísios, mas passando pelos canais de Suez e Panamá. O barco encalhou num atol de coral no Pacífico Sul, e teve de ser novamente restaurado na Nova Zelândia para voltar a navegar, em junho de 2006. Até que finalmente, em 28 de maio de 2007, na data exata da comemoração, o Gipsy Moth IV cumpriu sua segunda circunavegação.

(Fonte: www.maresenavegantes.com.br – Márcio Picolotto Dottori, engenheiro e jornalista)

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