Rubem Valentim, artista autodidata, um quase mal-educado

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Valentim: “Não sou amigo do rei”

Rubem Valentim (Salvador, 9 de novembro de 1922 –- São Paulo, 30 de novembro de 1991), artista autodidata, um quase mal-educado. Ele mesmo se reconhece “um contemporâneo da pedra lascada”. Esteve sempre pronto a criticar com dureza tudo que considera errado. E só guardava palavras bonitas para sua própria obra, que respeita, admira e elogia com insistência: “Desculpe-me a falta de modéstia, mas eu sou bom mesmo”.

O baiano Rubem Valentim revela a ligação entre a obra e o autor. Torna-se vivo, nervoso, elétrico. Atropela as próprias palavras, gagueja, fala alto, sem parar nem para respirar. E afirma convicto: “Só penso no meu trabalho e o defendo apaixonado. O resto não interessa. Não sou amigo do rei, e por isso nunca entrei na moda nem pude realizar o meu sonho, que é ver minha arte em praça pública.

Valentim nasceu em novembro de 1922, em Salvador, e começou a pintar ainda menino, fazendo figuras e paisagens para presépios de Natal. Formou-se em odontologia, porém mal se dedicou à profissão. Autodidata, decidiu em 1948 consagrar tempo integral à pintura. E logo depois, já interessado pelo esquema símbolos de que se serve em sua pintura, estudou comunicações, formando-se, em 1953, pela Universidade da Bahia.

Em 1957, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ganhou, em 1962, o mais importante prêmio do país, o de Viagem ao Estrangeiro, no Salão Nacional de Arte Moderna. Permaneceu na Europa três anos e meio. E morav em Roma quando recebeu um convite para lecionar no Instituto Central de Artes (extinto) da Universidade de Brasília.

Em 1967, um dos principais críticos de arte no Brasil, mário Pedrosa, afirmou a seu respeito: “Ele fez da Bahia, para a pintura brasileira, o que Tarsila e Volpi fizeram no sul”. Já em 1973, uma especialista em Volpi, Maria Eugênia Franco, escrevia deste último: “No mesmo campo e com o mesmo tipo de singularidade encontro somente Tarsila e Rubem Valentim”. Não restou dúvida de que se tratou de uma árdua responsabilidade, para o artista baiano, o ser comparado a tais mestres. As razões, contudo, são bem claras. Como em Tarsila e Volpi, o problema (e mérito) fundamental de sua obra consistiu em transplantar, para o plano universal, certas raízes específica e inegavelmente brasileiras, sem contudodiluí-las ou mesmo maquilá las com folclorismos. No caso de Valentim (dos três, o mais deliberado), tais raízes são, sobretudo, os símbolos do candomblé, cujas formas ele estilizou, transformando-as em linguagem internacional e rigorosamente geométrica.

E, em alguns pontos, tal severidade se torna intransigência. Conclui sonoramente Valentim: “Nunca vou forçar a barra para agradar aos poderosos ou impor a minha obra. Um verdadeiro artista tem que ser valorizado por ua contribuição à cultura – e não pela badalação das colunas sociais ou dos leiloeiros irresponsáveis que infestam o mercado brasileiro.”

(Fonte: Veja, 7 de maio de 1975 -– Edição 348 –- ARTE/ Por Olivio Tavares de Araújo -– Pág; 112/113)

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