Raymond Aron, publicou 29 livros e se transformou num intelectual agraciado por verdadeira consagração popular

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Foi um dos primeiros a denunciar o terror nos países comunistas

Foi um dos primeiros a denunciar os horrores do nazismo

Raymond Claude Ferdinand Aron (Paris, 14 de março de 1905 – Paris, 17 de outubro de 1983), Raymond Aron como era chamado, foi sociólogo, jornalista, cientista político e professor universitário francês. Nasceu em Paris, no dia 14 de março de 1905. Colega de turma de Jean-Paul Sartre na Escola Normal, contemporâneo do filósofo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) e apenas três anos mais velho que o antropólogo Claude Lévi-Strauss, Aron foi uma bem-sucedida ovelha negra de uma das mais brilhantes gerações de intelectuais produzidas pela França.

Enquanto a maioria de seus companheiros acabou, pelos caminhos mais diversos, ligada ao pensamento de Karl Marx, Aron foi buscar sua inspiração em outro alemão – Max Weber, considerado um dos criadores da sociologia moderna. Como resultado obteve uma trajetória surpreendente. Nada do que Aron escreveu deixou de ter importância, fosse numa obra de 29 livros publicados – entre eles O Ópio dos Intelectuais, que provocou uma renhida polêmica com a esquerda francesa, e o monumental Pensar a Guerra: Clausewitz, que o próprio Aron considerava sua obra mais bem-sucedida -, fosse em sua carreira como editorialista do jornal Le Fígaro e, depois, da revista L’ Express. Ao final da vida ele se transformaria num desses raríssimos tipos de intelectuais agraciados por uma verdadeira consagração popular. Lançado há apenas sete semanas, seu livro Memoires, um calhamaço de 780 páginas, disparou para o primeiro lugar na lista dos mais vendidos.

PÉ-NO-CHÃO –- Trata-se de um reconhecimento tardio, talvez, mas explicável. Mais que um caçador de utopias, Aron era um observador atento e um pensador corajoso. Pragmático, afirmava que a política habitava num reino e a moral em outro. Liberal, foi um dos primeiros a denunciar, nos anos 30, os horrores do nazismo – época em que o Partido Comunista alemão afirmava que Hitler seria um “fenômeno passageiro”.

Anticomunista, sua arma era a lucidez. Assim, reconhecia, por exemplo, que os países do Ocidente vivem sob regimes democráticos imperfeitos, pois não oferecem chances iguais para ricos e pobres. Ainda assim constatava que esta democracia era mais verdadeira que a dos países comunistas, cujo terror ele foi um dos primeiros a denunciar.

Tal postura lhe valeu uma ruptura com Sartre, que durou de 1954 a 1979 – quando os dois se uniram numa campanha em favor dos refugiados do Vietnam. Como já acontecera nos debates sobre os horrores do stalinismo, na década de 50, ou sobre o esquerdismo, nos anos 60, mais uma vez Aron tinha razão. Inimigo das profecias, cientista pé-no-chão, Aron sobreviveu às desilusões dos outros e até fortaleceu-se com elas. Afinal, ele próprio parecia não alimentar as suas. “Meus artigos no Fígaro tiveram mais impacto na classe política do que todas as moções que Sartre assinou”, costumava dizer – sem rancor, mas sem modéstia.

Na segunda-feira, dia 17 de outubro de 1983, num tribunal de Paris onde foi prestar depoimento a favor de um amigo, os advogados o apresentaram como um “pensador e ator privilegiado dos acontecimentos dos anos 30”. Sorrindo, com uma voz baixa, mas firme como de costume, Raymond Aron corrigiu: “Pensador sim, mas não ator”. A frase acabaria por transformar-se não apenas numa justa síntese de seus cinquenta anos como um pensador de coragem – mas seria lembrada como o último pronunciamento público de Raymond Aron. No mesmo dia, pouco depois da audiência, aos 78 anos, Aron seria fulminado com uma crise cardíaca, privando a França de uma de suas mais vivas e profundas inteligências do século XX.

(Fonte: Veja, 26 de outubro de 1983 – Edição 790 – Datas – Pág; 122)

 

 

 

Aron: uma inteligência do século XX

Considerado uma das mais profundas inteligências do século XX, o sociólogo, jornalista, cientista político e professor universitário francês, era a ovelha negra de uma das mais brilhantes gerações de intelectuais que a França já produziu – foi colega de Jean-Paul Sartre, Claude Lévi-Strauss e Maurice Merleau-Ponty.

Enquanto a maioria de seus contemporâneos acabou, pelos caminhos mais diversos, ligada ao pensamento de Karl Marx, Aron foi buscar sua inspiração em outro alemão, Max Weber.

Ao morrer, em 17 de outubro, aos 78 anos, havia publicado 29 livros e se transformado num intelectual agraciado por verdadeira consagração popular.

(Fonte: Veja, 28 de dezembro de 1983 – Edição 799 – RETROSPECTIVA – Pág: 150)

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