Pioneiro da multimídia
Raul Pederneiras (Rio de Janeiro, 1874 – Rio de Janeiro, 11 de maio de 1953), um talento que marcou época na história do humor gráfico do país, destacou-se no jornalismo da primeira metade do século XX, representou luta entre despesas e receitas
O desequilíbrio nas contas públicas já assustava os brasileiros no início do século 20 — e essa preocupação não escapou a verve dos chargistas da época. Na primeira edição do jornal O GLOBO, em 29 de julho de 1925, Raul Pederneiras explicitava o problema do déficit no orçamento do governo na primeira página. No desenho intitulado “Encontro de forças”, ele mostrou o campeão da despesa vencendo o campeão da receita. E concluía que a desigualdade já fazia “parte do programma”.
No primeiro caso, o jornal firmava um princípio que jamais abandou ao longo dos anos, mesmo com as necessárias adaptações editoriais e industriais demandadas pela evolução da imprensa, no país e no mundo: o de reconhecer a importância de cartuns, charges e caricaturas na informação que o leitor busca em suas páginas. No segundo caso, a escolha do chargista que ilustraria a capa de estreia do jornal revelou-se uma deferência. No caso, a Raul Paranhos Pederneiras — Raul, como ele assinava, ou Pederneiras, como ficou conhecido na crônica editorial brasileira.
Raul Pederneiras destacou-se no jornalismo da primeira metade do século XX, formando uma trinca de gênios do humor gráfico com seus amigos K. Lixto Cordeiro e J. Carlos. Carioca de 1874, colaborou com O GLOBO por muitos anos, mas seu campo de trabalho não se resumia ao jornal, muito pelo contrário. Antes mesmo do lançamento do vespertino de Irineu Marinho, ele já era um nome consagrado na imprensa da época, e até sua morte, em 1948, deixou seus traços em publicações como “O Mercúrio”, onde estreou como caricaturista/chargista em 1898, “O Malho”, “Fon-Fon”, “Correio da Manhã”, “o Paiz”, “Jornal do Brasil” e outros.
Pederneiras também dava vazão a suas habilidades em outros campos da arte, como a pintura, a escultura, a música, o teatro etc. Era um intelectual de fina formação, mas tinha também alma boêmia — por genuíno gosto pela noite e como fonte de inspiração essencial para as observações da rotina do Rio, que publicava nas suas “Cenas da vida carioca”, um olhar crítico e bem-humorado sobre a cidade e sua população. Até hoje seu trabalho é reverenciado, pelo pioneirismo e pelo traço incomparável, como um dos mais influentes e elegantes da história do humor gráfico do Brasil.
(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com/charges-e-humor/na-primeira-charge-em-1925-desequilibrio-das-contas-publicas-9059264 – PAÍS – Publicado: 16/07/13)
(Fonte: http://memoria.oglobo.globo.com/humor/raul-pederneiras-9042331 – HUMOR – MEMÓRIA/ Por Raul Pederneiras – 29 de julho de 2014)