Raphael Rabello, músico, violonista de brilhante carreira, um dos melhores músicos do país

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Raphael Rabello (Petrópolis, Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1962 – Rio de Janeiro, 27 de abril 1995), músico, violonista de brilhante carreira, era considerado um gênio do violão e um dos melhores músicos do país e representou o fim cruel de um dilacerante drama pessoal. Menino prodígio que executava partituras aos 8 anos e aos 13 se tornou profissional, Rabello participou de mais de 200 discos de astros como Ney Matogrosso, Caetano Veloso e seu cunhado Paulinho da Viola, além de gravar uma dezena de CDs com o próprio nome. Na vida pessoal, depois de descobrir que era portador do vírus da Aids, o violonista, casado e com duas filhas, passou os últimos tempos lutando ferozmente contra o vício da cocaína e do álcool. Jamais ocultou a sete chaves seu sofrimento – com frequência, expunha-o aos amigos. Caso fosse um músico do tipo que aparece na TV e reluz nas paradas de sucessos, seu drama há tempos já teria comovido o público. Mas Rabello falava a plateias pequenas, aquelas que apreciam a música instrumental. Entre os colegas, no entanto, era considerado um gênio do violão, opinião compartilhada por luminares do instrumento como Baden Powell e o espanhol Paco de Lucia. O músico Raphael Rabello nascido em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, sofria de apnéia – suspensão da respiração, que acontece normalmente durante o sono.

CORRIDA DESVAIRADA – A tragédia de Raphael Rabello começou involuntariamente, em maio de 1989, quando ele sofreu um acidente de carro no Rio de Janeiro, a bordo de um táxi, e teve o braço direito esmagado. No pronto-socorro, quiseram amputar-lhe o braço. Levado a um hospital particular, submeteu-se a uma delicada cirurgia de reconstituição, tão bem-sucedida que meses depois ele voltava a dedilhar seu violão. Dois anos mais tarde decidiu procurar um médico para emagrecer e iniciou um regime acompanhado por anfetaminas. A certa altura do tratamento, o médico constatou que Rabello estava anêmico e pediu uma bateria de exames – inclusive o teste de HIV. Deu positivo. Segundo a família, o vírus teria sido contraído numa transfusão de sangue à época do acidente. Embora em 1989 a disseminação da Aids já tivesse determinado uma fiscalização rígida nos bancos de sangue, a infectologista carioca Maria de Lourdes Moura não descarta a hipóetese de que Rabello tenha sido vítima de contaminação no hospital.

A descoberta de que era soropositivo fez com que Raphael Rabello mergulhasse fundo no álcool e nas drogas. “Durante uma temporada que fizemos numa casa noturna, ele ficou três dias sem dormir”, recorda o saxofonista Paulo Moura. Além disso, Rabello iniciou uma desvairada corrida contra o tempo. Raphael passou a ter um sentimento de urgência diante da vida, queria fazer mil trabalhos ao mesmo tempo”, relata o jornalista Ruy Fabiano, o mais velho de seus oito irmãos. Achando que morreria a qualquer momento, envolvia-se em vários projetos ao mesmo tempo. Há oito meses foi morar em San Diego, nos Estados Unidos, porque queria consagrar-se também fora do país. Mal se havia instalado, voltou ao Brasil para tocar um projeto de disco-tributo ao compositor Capiba. Desesperado, acabou realizando muito pouco no final da vida, mas deixa um legado anterior que o entroniza na história da MPB.
Atormentado pelo vírus da Aids e pelas drogas, o violonista Raphael Rabello morreu de arritmia cardíaca seguida de parada respiratória aguda, aos 32 anos, dia 27 de abril de 1995, no Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 3 de maio, 1995 – ANO 28 – N° 28 – Edição n° 1390 – MEMÓRIA/ Geraldo Mayrink – Pág; 107)

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