Primeira grande luta do movimento ambientalista gaúcho

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Às 17h do dia (06/12/2003), completou-se três décadas do nascimento simbólico do movimento ambientalista gaúcho e da morte de um arcaico modelo industrial.
Em 6 de dezembro de 1973, o governo do Estado fechou as portas da Borregaard, fábrica norueguesa de celulose instalada na cidade de Guaíba. A indústria lançava toneladas de poluentes na água e empestava o céu – e os narizes – da Grande Porto Alegre com compostos de enxofre e seu característico cheiro de “ovo podre”.
Foi o epílogo de uma batalha histórica para os ecologistas – em sua primeira grande luta – e o começo de uma mudança nos padrões de gestão empresarial, no qual o cuidado com o ambiente virou regra no Estado.
A Borregaard se instalara em 1972 em Guaíba. Gerava quase 400 empregos e um efeito colateral: o mau cheiro e resíduos de madeira processada lançados nas águas do Guaíba, chamados lixívia preta. A embrionária Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) colheu mais de 700 assinaturas e organizou uma passeata no bairro Ipanema, numa época em que passeatas eram proibidas pela ditadura militar.
– Conseguimos fechar a fábrica. Foi um marco – comemora uma das decanas do ambientalismo gaúcho, Magda Renner, hoje com 77 anos.
O movimento na então badalada praia da Alegria, em Guaíba, foi sepultado. Moradores e comerciantes do balneário ameaçavam ir a Brasília, denunciar pessoalmente o caso ao general-presidente Emílio Garrastazu Médici. O governo do Estado, numa solução intermediária, ordenou a instalação de filtros antipoluentes, que não acabaram com o mau cheiro. Os jornais do Estado se aliaram ao clamor popular e, em reportagens e editoriais, exigiam uma solução.
No fim de semana anterior ao fechamento, o então secretário estadual da Saúde, Jair Soares, voltou do Interior e ficou agradavelmente surpreendido com a ausência do odor. Mas o entusiasmo cedeu ao desânimo. A Borregaard apenas parara as máquinas, em manutenção. O fedor voltou na segunda-feira, com o vento sudoeste, que espalhava a fumaça. Indignado, o governador Euclides Triches determinou o fechamento.
– O cheiro estava mais horrível do que nunca naquele dia. Era a última vez que a Borregaard fedia – recorda Jair, hoje com 70 anos, deputado estadual pelo PP.
Jair Soares foi pessoalmente lacrar a fábrica, como mostra a capa de ZH de 7 de dezembro de 1973.
A fábrica permaneceu fechada por quatro meses e reabriu com os mais modernos sistemas antipoluentes existentes na época. A lixívia passou a ser reaproveitada como combustível. A empresa foi vendida sucessivamente para o Montepio da Família Militar, para o grupo Klabin, que trocou o estigmatizado nome Borregaard para Riocell. Desde o início de 2003 está sob controle da Aracruz. É a quarta em volume de produção no Brasil, com 400 mil toneladas de celulose vendidas por ano.
– Desde 1972 foram gastos US$ 74 milhões em filtros eletrostáticos, queimadores e outros equipamentos de proteção ambiental, o equivalente ao faturamento de um ano da indústria. Hoje o nível de odor está 2 mil vezes menor do que quando foi inaugurada – estima o atual gerente-geral da unidade da Aracruz em Guaíba, Paulo Silveira.

(Fonte: Jornal ZERO HORA – Sábado, 06 de dezembro de 2003 – Edição nº 13986 – HUMBERTO TREZZI – Ambiente – CONTRA CAPA)

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