Peter Tosh, uma das maiores lendas do reggae e fundador dos Wailers, ao lado de Bob Marley

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Peter Tosh, a lenda do reggae e do rastafári que lutou contra o apartheid

 

Peter Tosh

Jamaicano foi o Malcolm X da música por militar pela igualdade racial (Foto: Billboard em 1987)

 

Winston Hubert McIntosh (Grange Hill, 18 de outubro de 1944 – Westmoreland, 11 de setembro de 1987), ícone e uma das maiores lendas do reggae, Peter Tosh, foi o fundador dos Wailers, ao lado de Bob Marley, foi assassinado por ladrões em 1987.

Polêmico, desafiador e carismático. Peter Tosh foi um artista inquieto que com sua música levantou questões como o regime de segregação racial, violência policial e legalização da maconha. Ao lado de Bob Marley e Bunny Wailer formou o The Wailers, grupo responsável por tornar o reggae popular em todo mundo.

Insatisfeito vivendo à sombra de Marley deixou o grupo e partiu em controversa carreira solo. Ele definia sua arte como reflexo de sua própria vida, conforme entrevista ao GLOBO em 15 de setembro de 1983: “Minha música guarda a marca da opressão que vivi e ainda vivo. É por isso que eu canto. Sei que não posso agradar a todos. Então não penso nisso. Quem quiser gostar do que faço, goste”.

Winston Hubert McIntosh nasceu em 19 de outubro de 1944, numa comunidade pobre de Westemoreland, na Jamaica. Criado por uma tia, sua infância foi marcada por muitas dificuldades. Aos 15 anos, deixou a área rural do país e se mudou para uma favela na capital, Kingston. Começou a trabalhar vendendo caldo de cana num carrinho e nas horas vagas tocava um violão usado. Tosh conheceu então, seus futuros parceiros musicais: Robert Nesta Marley (Bob Marley) e Neville O’Riley Livingston (Bunny Wailer). A partir do talento e das afinidades musicais, criaram em 1962, os The Wailers, uma das mais representativas bandas de reggae de todos os tempos.

 

O sucesso dos Wailers já ultrapassava as fronteiras da Jamaica e ganhava o mundo, difundido não só a música, mas também o estilo de vida do reggae, mas internamente, as brigas eram constantes. Tosh acusava Chris Blackwell, presidente da gravadora Island e grande divulgador do grupo no exterior, de promover Bob Marley. Então em 1974, após estrondoso sucesso do disco “Catch a fire”, abandona o grupo e se lança em carreira solo, marcada por polêmicas e sucessos. Seu primeiro álbum “Legalize it”, lançado em 1976 pela CBS Records, foi proibido nas rádios locais, mas teve grande repercussão nas rádios americanas e inglesas. No ano seguinte, ele lançou “Equal rights” com a libertária faixa “Get up, stand up”.

Seus trabalhos foram um testemunho de sua crença no movimento rastafári. Em entrevista publicada no GLOBO em 30 de abril de 1980, Peter Tosh falou sobre o movimento: “Rasta é a única força que lida com a verdade. As pessoas estão começando a entender por que começam a sentir os conflitos econômicos, hoje. Nós somos os que estão profetizando as coisas antes que as pessoas percebam que é profecia.”

Peter Tosh denunciou de forma contundente o apartheid e a corrupção governamental. Durante o concerto One Love Peace, organizado pelo governo, em 1978, acusou publicamente os líderes jamaicanos e a classe média de apoiarem a violência policial e a guerra entre gangues, diante de centenas de jornalistas estrangeiros e do primeiro-ministro. Foi brutalmente espancado pela polícia por suas opiniões e por fumar maconha em público, e, desse episódio, compôs “Mark of the beast”.

O jamaicano passou a se apresentar com sua nova banda, formada por músicos de extremo talento, a “Word, Sound and Power”. A carreira internacional foi impulsionada pelos Rolling Stones, fãs confessos de reggae que o convidaram para integrar a Rolling Stone Records. Em 1978, Tosh lança “Bush doctor” que conta com a participação de Mick Jagger em duas faixas. A parceria que rendeu sucessos e ótimos shows terminou quando Tosh se recusou a desocupar a casa que Keith Richards, guitarrista dos Stones, havia lhe emprestado em Ocho Rios, ponto turístico do litoral Norte jamaicano.

 

Peter Tosh, a lenda do reggae e do rastafári que lutou contra o apartheid (Foto: The Daily Beast/ Divulgação)

 

Tosh foi um dos fundadores dos Wailers, formando o trio principal do grupo com Bob Marley e Bunny “Wailer” Livingston. Seu trabalho com a banda e álbuns solo como “Equal rights” ajudaram a tornar o reggae um sucesso internacional.

O sempre franco e desafiador Tosh era conhecido por denunciar o apartheid, a corrupção governamental e pedir a legalização da maconha. Colegas e fãs classificam o guitarrista e cantor esguio como um artista hipnotizante e carismático.

Tosh foi possivelmente a figura mais controversa do reggae. Durante o concerto One Love Peace, organizado pelo governo em 1978, ele acusou publicamente os líderes jamaicanos e a classe média de apoiar a brutalidade policial e as guerras entre gangues, num lendário discurso de 20 minutos. A mídia do país criticou duramente a fala de Tosh, diante de 200 jornalistas estrangeiros e o primeiro-ministro.

Por suas opiniões inflexíveis e a insistência em fumar maconha em público, o músico rastafari apanhou da polícia em várias ocasiões, ganhando 32 pontos na cabeça, uma costela quebrada, um braço fraturado e uma perfuração no baço em algumas dessas altercações, de acordo com seu ex-empresário Herbie Miller.

Tosh foi assassinado aos 42 anos em 1987, por ladrões que invadiram sua casa.

Vinte e cinco anos após ser assassinado, o ícone do reggae Peter Tosh recebeu uma homenagem do governo da Jamaica por suas contribuições para a cultura do país. A filha do músico e compositor, Niambe, professora em Boston, nos Estados Unidos, recebeu a “ordem do mérito” póstuma — terceira maior honraria do país — em nome do pai.

Para Miller, que também é curador do Museu da Música da Jamaica, a homenagem demorou para ser feita. Há anos ele defendia entre políticos jamaicanos que o valor de Tosh fosse reconhecido.

“Quando você defende a verdade, os direitos e ataca o sistema, o reconhecimento do governo demora a aparecer”, disse.

Roger Steffens, um conhecido historiador do reggae que entrevistou Tosh em várias ocasiões, lembra que para o músico prêmios da “Babilônia” — termo utilizado pelos rastafáris para definir o mundo ocidental e as realidades inadequadas da vida — não faziam sentido.

Como Marley, Tosh “acreditava que ‘a Babilônia não dá frutos’ e prêmios dos opressores não tinham valor. Se os útlimos 25 anos teriam amaciado (ele) ou o tornado ainda mais militante, é difícil prever”, avalia Steffens, que descrevia Tosh como o “Malcom X do reggae”.

Mas para a família de Tosh, a cerimônia dia 15 de outubro de 2012 foi uma grande acontecimento. Andrew Tosh, veterano músico que tinha 20 anos quando o pai foi morto, disse que o prêmio ajudará a manter vivo o legado cultural da lenda do reggae.

Com os Wailers, Tosh compôs o hino “Get Up, Stand Up”, além de “400 Years”, uma canção mordaz sobre a escravidão.

Após deixar o grupo em 1973, quando o álbum dos Wailers “Catch a fire” alcançava sucesso global, Tosh formou sua própria banda, Word, Sound and Power, e escreveu mais músicas de conteúdo político. “Mamma Africa” denunciava o apartheid na África do Sul e “Legalize It” pediu a legalização da maconha.

 

 

No Brasil, Tosh se apresentou em 1980, durante o 2º Festival Internacional de Jazz, no Anhembi, São Paulo. Nelson Motta fez a crítica do show, publicada no jornal em 29 de abril de 1980: “Vestido de árabe e calcado por excepcionais músicos, Tosh mandou pau do começo ao fim, com vigor, energia e vontade, mostrando como o reggae e o rock começam já uma fusão que pode ser boa para todos.” No dia seguinte, Tosh embarcou para o Rio. Foi ao Canecão assistir a um concurso de patins e quase foi barrado pelos seguranças. Não teve a mesma sorte num bar no Jardim Botânico, onde sua entrada foi vetada. Por último, fez uma participação na novela “Água viva”, de Gilberto Braga, na qual aparece tocando violão e cantando “Legalize it” na sala de Estela, personagem de Tônia Carrero, para seus convidados.

Uma segunda apresentação no Brasil foi cancelada de última hora. Alegando fortes dores na coluna por conta das agressões sofridas pela polícia, Tosh revela em entrevista publicada no GLOBO de 26 de novembro de 1983: “Tenho abusado muito do meu corpo, e o corpo é o templo do espírito de todo homem. Agora é tempo de cuidar do meu corpo e recuperar minhas forças. Isto não é errado, é?” Seria uma longa turnê para divulgar o álbum “Mama África”, que compôs em de seus retornos à terra natal após longos períodos afastado de suas raízes. Outras datas foram cogitadas, mas ele não voltou a se apresentar por aqui.

Em 11 de setembro de 1987, três ladrões invadiram sua casa em Westmoreland, na Jamaica, e anunciaram um assalto. Mais cinco pessoas estavam com o casal Tosh e Marlene Brown. Os assaltantes dispararam vários tiros com pistolas nove milímetros e em seguida fugiram. Morreram Peter Tosh, aos 42 anos, o botânico Wilton Brown e o disc-jockey Jeff Dixon.

No livro “Steppin Razor, The Life of Peter Tosh”, o autor John Masouri aponta o momento conturbado pelo qual o artista passava ao ser assassinado. Havia lançado o seu sétimo álbum o “No nuclear war”, vencedor do Grammy de melhor álbum de reggae no ano seguinte, mas estava atolado em dívidas que podem ter culminado em um acerto de contas. O assassino, Dennis Lobban alega não ter participado do crime apesar de ter sido reconhecido pelos sobreviventes e aguarda no corredor da morte sua execução na forca.

A morte de Peter Tosh causou comoção entre fãs do mundo inteiro e no meio artístico, que perdeu de forma brutal o membro mais polêmico do The Wailers, porta-voz das questões da libertação negra e legalização da maconha. Vinte e cinco anos após seu assassinato, Tosh recebeu do governo da Jamaica uma homenagem por sua contribuição à cultura do país, a “ordem do mérito”, terceira maior honraria do país. Em 2016, ele ganhou de sua família um memorial em Kingston, voltado para sua vida e obra, e onde repousa seu túmulo.

(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com – EM DESTAQUE/ CULTURA/ Por Simone Oliveira* – 06/09/17)

* com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – Peter Tosh homenageado pelo governo jamaicano 25 anos após sua morte – KINGSTON, Jamaica — 16 de outubro de 2012)

 

 

 

 

Cantor e compositor jamaicano, Peter Tosh conquistou o sucesso em 1963 como integrante do grupo “The Wailers”, ao lado de Bunny Wailer e Bob Marley. Iniciou carreira solo em 1973 e tornou-se um astro internacional em 1979, ao ter umas de suas composições gravadas por Mick Jagger, que o contratou para sua gravadora. Em 1980, esteve no Brasil gravando um clip para Rede Globo, tendo aparecido na novela “Água Viva” e cantando com Gilberto Gil.

Tosh morreu no auge da fama, em uma situação lamentável: traficantes foram cobrar uma dívida, o artista se recusou a atendê-los e recebeu quatro tiros no peito. Morria, aos 43 anos, no dia 11 de setembro de 1987, Winston Hubbert McIntosh, um dos maiores nomes do reggae mundial.

(Fonte: http://www.blogsoestado.com/reggaepoint/2011/09/11 – DJ Waldiney – 11 de setembro de 2011)

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