Pedro Augusto de Bragança Saxe e Coburgo (1866-1934) engenheiro, primogênito da princesa Leopoldina.

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O HOMEM QUE SONHOU REINAR

A HISTÓRIA ESQUECIDA DE PEDRO AUGUSTO, O NETO DE DOM PEDRO II QUE FOI PREPARADO PARA LHE SUCEDER

Pedro Augusto de Bragança Saxe e Coburgo (1866-1934), formou-se em engenharia e, tornou-se estudioso dos minerais. Primogênito da princsa Leopoldina, a filha mais nova de dom Pedro II. Nasceu no Rio de Janeiro, e desde o primeiro momento catalisou a atenção da corte. Quando nasceu, logo se tornou o favorito do avô. Na mais tenra infância, começou a ser preparado para assumir o trono. Quase ninguém ouviu falar nele, apesar de ter sido preprado pelo avô, durante quase uma década, para ser o futuro imperador do Brasil. Era visto assim no país e até nas cortes europeias. A infância gloriosa, cercada de mimos que se conferem a um futuro monarca, foi progressivamente substituída pelo amargor de uma juventude sob intensa disputa familiar e intrigas políticas. Mas nem mesmo uma vida de fortes emoções e disputas políticas lhe foi possível. Suas chances de lutar para liderar um império se dissolveram com a proclamação da República.
A história de Pedro Augusto também ajuda a compreender melhor o drama da sucessão que mobilizou o Brasil na segunda metade do século XIX. Dom Pedro II chegou a ter dois filhos homens, mas ambos morreram antes de completar 3 anos. A princesa Isabel, a filha mais velha do imperador, não conseguia engravidar nos primeiros anos de seu casamento com o conde d’Eu. A aflição da falta de um sucessor era intensa. Foi em meio a essa angústia que surgiu a notícia da gravidez da princesa Leopoldina, a filha mais nova do imperador. Pedro Augusto nasceu em 1866, no Rio de Janeiro, e desde o primeiro momento catalisou a atenção da corte. Com ele, a sucessão estaria garantida. “Como era o neto predileto de dom Pedro II, espalhou-se a sensação de que ele poderia suceder ao avo no trono”. O império, enfim, dormia mais tranquilo.
Pedro Augusto parecia talhado à perfeição para o trono. E o país o tratava assim, até que a princesa Isabel finalmente engravidou, dez anos depois do casamento. Pela Constituição do império, o filho mais velho de Isabel seria o natural sucessor de dom Pedro II. E esse passaria agora a ser Pedro de Alcântara, que nasceu em 1875. Começou ali o drama pessoal que viria a se converter na trágica história do príncipe Pedro Augusto. A ideia de que não seria mais o ocupante do trono era devastadora. “O menino começou a somatizar o drama. Tinha insônia e tremores nas mãos”. A vida não teria sido tão aflitiva se a possibilidade de suceder ao avo tivesse se encerrado ali para sempre. Mas a discussão se arrastou, porque servia aos interesses políticos de então.
O Brasil vivia as tensões da campanha abolicionista e do movimento republicano. Era o tipo de ambiente no qual florescem as mais cruéis intrigas palacianas. A rede de boatos do império se pôs a funcionar para semear a discórdia na família imperial. Pedro Augusto se tornou um instrumento útil. Sobretudo diante da indisfarçável predileção de dom Pedro II por ele. Faziam programas juntos, iam ao teatro e passavam horas observando as estrelas, um dos hobbies do imperador. Formado em engenharia, Pedro Augusto tornou-se estudioso dos minerais. O que o fazia ainda mais cativante, era o fato de ser inteligente, divertido e envolvente.
Acompanhando o avo em viagem pela Europa, era recebido com entusiasmo pelas cortes locais. Estava ali o sucessor ideal do monarca. Nas ruas, Pedro Augusto passou a ser conhecido como o “favorito”, evidenciando a disputa que foi travada aos sussurros nos corredores do palácio imperial. O sucesso do príncipe na Europa, comentado em jornais da época, acirrou os ânimos da princesa Isabel e de seu marido, o conde d’Eu.
O clima na família era conturbado. Pedro Augusto não se dava bem com o primo, Pedro de Alcântara. Havia uma rivalidade latente. Também não simpatizava com os tios, por mais que as diferenças não fossem públicas. Ciente das pretensões de Pedro Augusto ao trono, Isabel questionava o pai sobre a sucessão, à qual se referia como la grosse question (a grande questão, em francês). Em meio a turbulência política da época, ganhou força o boatop de que dom Pedro II escolhera a data de seu aniversário, 2 de dezembro, para abdicar em favor de Isabel. Os que disseminavam essa versão sustentavam também que a princesa, por sua vez, abdicaria em favor do sobrinho. Mas a proclamação da República roubou os últimos sonhos de Pedro Augusto. Ele tinha 23 anos quando, já abtido por surtos psicóticos, fugiu com a família para a Europa. Os surtos se agravaram progressivamente. Chegou a ser atendido por Freud, então um jovem médico austríaco. Aos 27 anos tentou o suicídio, transtornado pelo boato de que o primo que odiava havia assumido o trono brasileiro. Viveu solitário e teria morrido virgem, aos 68 anos, jogado ao ostracismoapós após passar 41 deles atrás das grades de um manicômio na Áustria. Seu esquecimento foi quase completo.

(Fonte: Veja, 8 de agosto de 2007 – edição 2020 – ano 40 – nº 31 – Editora Abril – História – Por Ronaldo Soares – Pág; 134/135)

Dom Pedro II (1825-1891), o imperador teve dois filhos homens, que morreram na infância. A preservação de sua linhagem no trono passou, por isso, a depender de suas filhas. Cabia a elas dar à luz um sucessor.

ISABEL CRISTINA (1846-1921), por ser a filha mais velha do imperador, ela seria a mãe do herdeiro natural do trono. Mas, depois de dez anos de casamento com o conde d’Eu, ela não conseguia engravidar.
Então, de maneira inesperada, em 1875, Isabel deu à luz um menino, batizado como Pedro Alcântara, que se tornou o herdeiro legítimo. Teve início um período de intriga familiar e política em que se especulava que Pedro Augusto, amado pelo imperador, ainda poderia ocupar o seu lugar.

LEOPOLDINA TERESA (1847-1871), sua prole, em tese, não estaria na linha de sucessão. Mas a aparente infertilidade da irmã mais velha abriu uma brecha. O nascimento de seu primogênito, Pedro Augusto, foi celebrado como a garantia de continuidade di império.

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA (1889), o fim da monarquia tornou vazia a questão da sucessão. Mas os anos de expectativa já haviam deixado sua marca no espírito de Pedro Augusto e intensificado seus problemas mentais. No ano de sua morte, ele já contava em sanatórios.

(Fonte: Veja, 8 de agosto de 2007 – edição 2020 – ano 40 – nº 31 – Editora Abril – História – Por Ronaldo Soares – Pág; 134/135)

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