Paul Klee, pintor e inventor de formas, representa a arte alemã

0
Powered by Rock Convert

Um só gênio

Paul Klee, pintor suíço, foi um dos expoentes da escola alemã Bauhaus, no começo do século XX, onde destacou-se suas obras de Veleiros (1927), e Local Atingido (1922), com lirismo e geometria na mesma equação visual

Paul Klee (Munchenbuchsee, 18 de dezembro de 1879 – Muralto, Suíça, 29 de junho de 1940), pintor e inventor de formas alemão, embora nascido na Suíça, representa a arte alemã. Pelo menos em termos de cultura, certos povos parecem demonstrar maiores tendências para determinado tipo de criação. A principal contribuição alemã para o ocidente pertence às áreas filosófica e musical (onde ela se torna estrondosa). Na área plástica, entretanto, a Alemanha é mais humilde, apenas Paul Klee.

O seu estilo, grandemente individual, foi influenciado por várias tendências artísticas diferentes, incluindo o expressionismo, cubismo, e surrealismo. Klee era um desenhista nato que realizou experimentos e, conseqüentemente, dominou a teoria das cores, sobre o quê ele escreveu extensivamente. Suas obras refletem seu humor seco e, às vezes, a sua perspectiva infantil, seus ânimos e suas crenças pessoais, e sua musicalidade.

Mas se sua presença única revela, por um lado, uma participação numericamente discreta, assegura ao mesmo tempo uma altíssima qualidade. (Entre os 9 000 trabalhos deixados por Klee), sua riquíssima trajetória desse artista, demonstra que a variedade de sua obra ultrapassa até a de Picasso. Mais: a incrível força concentrada em cada um dos pequenos quadros (tamanho médio: 30 x 40 cm) basta para assegurar ao espectador que ele se encontra diante dos trabalhos de um gênio.

Técnico – Nascido em Munchenbuchsee, dia 18 de dezembro de 1879, perto de Berna (de pai alemão e mãe francesa), Klee viveu desde os dezenove anos na Alemanha. Primeiro, esteve em Munique, onde foi aluno da Academia de Belas-Artes (1898 a 1901) e onde passou a morar em 1911. Depois, foi professor da Bauhaus – a famosa escola fundada pelo arquiteto Walter Gropius, inicialmente em Weimar (1921 a 1926), a seguir em Dassau (1926 a 1931). Em 1931, quando a Bauhaus foi suprimida, Klee aceitou um cargo de professor em Dusseldorf. Em 1933, porém, sua firme oposição ao nazismo o obrigou a se exilar: voltou para a Suíça, de onde não sairia mais até a morte, em Muralto, 29 de junho de 1940. No intervalo entre uma e outra cidade alemã, fez várias viagens: à Itália e à França (1901, 1905, 1912), à Tunísia e à cidade de Kairouan (1914).

À parte essas mudanças, entretanto Klee teve uma vida bastante organizada, e nisso já se revela um traço de temperamento que ajuda a compreensão de sua obra. Klee acreditava firmemente em trabalho, em aprendizado técnico e em disciplina. (Sua carreira como professor foi brilhante, e dela ficaram documentos importantes, como o “Livro Pedagógico de Esboços”, de 1925.) Mas essa crença não chegava ao ponto de considerar a obra de arte como um produto apenas intelectual ou racional. Segundo Klee, o artista tem que possuir um absoluto domínio sobre seus meios de expressão. Na hora de criar a obra, entretanto, deve se libertar das amarras da técnica. Com o estudo e o exercício “aprende-se a pré-história do visível. Mas isso ainda não é arte, em seu degrau superior. Neste é que começa o mistério. Nunca será possível substituir a intuição”.

Conflito – Por outro lado, Klee esteve sempre consciente do principal problema enfrentado pela arte, em sua época, e para ele apresentou uma solução bastante pessoal. No mesmo ano em que se fixava em Munique (e nesta mesma cidade) a arte abstrata estava nascendo, através de Kandinsky. A partir desse ponto, a dúvida fundamental diante da qual cada artista se colocava era a seguinte: continuar reproduzindo a natureza exterior (mesmo que com “liberdades”)? Ou libertar-se inteiramente dela, passando a reproduzir apenas uma realidade interior (= abstração)? Para Klee, uma coisa jamais se opôs de forma inevitável a outra – e ao longo de sua obra, basicamente figurativa, há trabalhos abstratos.

Em geral, ele parece estar reproduzindo a natureza; mas, no fundo, não sente nenhum dever servil para com ela. “A arte visual não começa jamais por uma atmosfera ou uma ideia, e sim por uma construção de formas. Que depois lhe sejam acrescentadas ideias poéticas (um conteúdo, um assunto) é possível, mas não obrigatório.” Os valores fundamentais, portanto, são os formais. E Klee conclui, numa definição até hoje eficaz: “A arte não reproduz o visível; ela ‘torna’ visível”.

Único -– Isto está muito claro em várias das obras ora reunidas no Museu de Arte Moderna. Nelas, o pintor não está falando do mundo real – e sim desvendando seus mundos imaginários, de sonho, em que ninguém mais no século XX o pode igualar. As paisagens – como “Reconstrução” – saem apenas de uma imaginação prodigiosa, não de cidades ou bichos existentes. O ser humano é transformado num boneco, e tratado com uma mistura de ironia e carinho, como em “Sganarello”. E, em um ou outro caso, o assunto é abolido por inteiro: “Semicirculo para Angularidades” é apenas uma composição abstrata. Aqui, Paul Klee revela-se o absoluto inventor, e algo mais: com sua solitária e abundante produção preenche sozinho o vácuo que a Alemanha, em vários séculos, deixou aberto.

(Fonte: Veja, 5 de julho de 1972 -– Edição 200 -– ARTE – Pág; 85)

(Fonte: Veja, 2 de outubro de 1996 – ANO 29 – Nº 40 – Edição 1464 – ARTE/ Por Angela Pimenta – Pág: 92/98)

Powered by Rock Convert
Share.