Oswaldo Goeldi, o maior gravador brasileiro, foi mestre da gravura.

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Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1895 – Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1961), o maior gravador brasileiro, amante da noite e de seus becos sombrios, o anjo torto.

Amigo do desenhista austríaco Alfred Kubin, era filho do naturalista suíço Emilio Goeldi, que veio da Europa a convite de dom Pedro II, Oswaldo tinha tudo para não ser gauche na vida.

Estudou no Europa e cursou engenharia, que largou para desenhar. Rompeu com a família e escolheu a arte como ofício. De volta ao Brasil, mais uma vez o Goeldi artista poderia ter-se dado bem.

Bastaria ter escolhido o atalho fácil do modernismo oficial, trilhado por Portinari, que denunciava a miséria no campo enquanto aceitava encomendas da ditadura Vargas.

Goeldi poderia, ainda, seguir a languidez de um Di Cavalcanti. Nada disso. Só conseguiu sobreviver como ilustrador. Cumpriu uma trajetória singular na cena artística brasileira.

É justamente sobre sua marginalidade artística que se analisa a incompatibilidade da poética goeldiana com o culto do progresso embutido no modernismo brasileiro.

Ele optou por viver num país de Terceiro Mundo, onde o avesso é o direito, onde o dentro é fora, onde a luz é negra, o dia é negro e a noite é branca.

Goeldi jamais fez do desenho um formato secundário em sua produção. Ele só foi mestre da gravura porque era um desenhista soberbo. Nunca atacava diretamente a matriz de madeira. “Toda gravura minha é desenhada muitas vezes”, disse em 1957.

Em consequência do desprestígio da gravura e do desenho entre o público, Goeldi pagava as contas trabalhando na imprensa. Mas mesmo numa situação financeira precária não se tornou um ilustrador dócil.

Goeldi lia o livro e a inspiração brotava nos pontos que mais lhe marcavam. Era um artista cioso, de um orgulho inabordável, ele não se deixava levar por pressões editoriais.

Tamanha era sua liberdade formal que, em 1937, Goeldi se permitiu subverter o caráter folclórico do livro Cobra Norato, de Raul Bopp. Dissonante na floresta do texto, a mata das ilustrações é de uma umidade opressiva.

Cobra Norato marca a inauguração da cor nas gravuras de Goeldi. O uso da cor era um desafio para o artista, que justificava sua dificuldade pelo fato de não ser pintor. Mais uma vez, sua parcimônia técnica revelou-se virtude.

O reconhecimento da obra do artista foi tardio. Uma de suas alegrias aconteceu em 1951, quando recebeu da Bienal de São Paulo 30 000 cruzeiros pelo primeiro prêmio de gravura. Nenhuma espécie de reconhecimento público, entretanto, garantiria a Goeldi o prazer trazido pela contemplação da natureza, como confessou em carta a Kubin: “Moro aqui, na baía mais afastada do Rio. Lanternas dependuradas no alto dos postes são jogadas, rangendo, pra cá, pra lá. O quarto que aluguei tem uma porta e uma janela. De noite, tenho a sensação de estar debaixo do céu aberto.”

Morreu só e na miséria.

(Fonte: Veja, 28 de junho de 1995 – Ano 28 – N° 26 – Edição 1398 – ARTE/ Por ANGELA PIMENTA – Pág: 140/141)

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