Oswaldo de Lia Pires (1918-2010), advogado criminalista, o príncipe dos juristas

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Oswaldo de Lia Pires (Montenegro, em 26 de março 1918 – Porto Alegre, 26 de dezembro de 2010), advogado criminalista, o príncipe dos juristas.
Lia Pires nasceu em Montenegro, em 26 de março 1918.

Lia Pires foi um dos mais importantes nomes do direito no Estado do Rio Grande do Sul

Formou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em dezembro de 1944
Foi professor de geografia no Colégio Júlio de Castilhos, atividade que, pelo acúmulo de serviço na advocacia, foi obrigado a suspender
Começou a advogar pelas mãos do tio, o advogado Voltaire de Bittencourt Pires, dono de um famoso escritório na Capital.

Casou-se com Dinah Rockett Pires, em 17 de maio de 1945, com quem teve três filhos.
Defendeu personagens polêmicos, como o delegado Pedro Seelig, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), absolvido da acusação de participar do seqüestro do casal de uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz, em 1978.
Na década de 1980, evitou que o ex-prefeito de Tramandaí Elói Braz Sessim, acusado de corrupção e desvio de dinheiro público, fosse parar na cadeia.

Em agosto de 1990, atuou como defensor do então deputado estadual Antônio Dexheimer e ajudou a absolvê-lo da acusação de ter matado o colega de bancada (PMDB) José Antônio Daudt. Em 2009, Lia Pires voltou ao tribunal do júri para defender um amigo, o coronel Edson Alves. Lia Pires morreu dia 26 de dezembro de 2010, aos 92 anos, em Porto Alegre.
(Fonte: Zero Hora – Porto Alegre, 26 de dezembro de 2010 – Memória/ Por José Luis Costa)

Oswaldo de Lia Pires, o príncipe dos juristas
Morto o homem, fica a lenda – mais apropriado seria dizer legenda. Oswaldo de Lia Pires não apenas viveu acima da média, foi também um advogado muito além da rotina de mediocridade (e das notas baixas nas provas da OAB) que se vê por aí.

Dono de uma oratória hipnótica, com timbre quase metálico, poderia ter sido locutor – e o foi, durante algum tempo, na antiga Rádio Difusora de Porto Alegre (PRF 9), ao final da década de 30 do século XX. Com sua didática, poderia ter sido professor – e o foi, no Colégio Júlio de Castilhos, como professor de geografia humana do Brasil.

Entre seus alunos estava um inquieto Leonel Brizola, que, anos mais tarde, como governador viria a ser defendido por seu antigo professor em causas políticas. Também poderia ter optado pelo esporte. Apesar de seu 1m62cm de altura, jogou futebol, vôlei e, acreditem, basquete. No Exército, praticou hipismo.

Mas Lia escolheu os tribunais e foi por eles escolhido. Em 92 anos, participou de cerca de 550 júris, quase todos como defensor do réu. Foi vitorioso na maioria dos casos. O mais famoso foi a defesa do deputado Antônio Dexheimer (PMDB) da acusação de ter assassinado seu colega, o também deputado peemedebista José Antônio Daudt, crime ocorrido em 1988.

O julgamento durou três dias e foi transmitido pela TV. Foi nessa ocasião que assisti a um dos lances de genialidade de Lia. Tentando explicar a dificuldade de Dexheimer em precisar horários e locais por onde passou na noite do crime, o advogado deixou cair uma lâmpada sobre sua mesa. O estouro causou susto geral, mas ele continuou seu discurso.

Minutos depois, interrompeu a fala e pediu a cada um dos 22 desembargadores do Pleno do Tribunal de Justiça que anotasse a hora em que a lâmpada estourou. Foi um festival de especulações, cada um anotou um horário estimado…Nenhum deles acertou. Lia então argumentou: o tribunal que não se acerta a respeito de um fato ocorrido na frente de todos não pode cobrar de um inocente que lembre detalhes da hora em que foi comprar cigarros. São as banalidades da vida, explicou. Dexheimer foi absolvido.

Cuidava de manter a forma. Praticou pólo e só o trocou pelo golfe devido a uma prótese no fêmur esquerdo, que o afastou dos cavalos. Até meados da década, corria três vezes por semana, 12 quilômetros na bicicleta ergométrica.

Gentil, Lia Pires jamais negava dicas a pupilos. O jornalista José Luís Costa narra a performance do jurista durante um júri simulado entre acadêmicos da Pontifícia Univeridade Católica (PUCRS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 2003.

– O Lia arrancou suspiros de admiração de centenas de jovens. Belas garotas faziam fila para fotos e beijar as bochechas do ídolo. Para elas, equivalente a um astro de Hollywood – recorda o experiente repórter de ZH.

O júri era a faceta mais conhecida de Lia nos tribunais, mas não a única. Trabalhava também longe dos holofotes, em julgamentos mais silenciosos, defendendo acusados de sonegação, policiais suspeitos de corrupção ou até de sequestro.

A fama atraiu as chamadas causas impossíveis e não há notícia de que ele tenha decepcionado clientes. Por tudo isso, é um dia de luto entre os bacharéis.

(Fonte: Zero Hora – Porto Alegre, 26 de dezembro de 2010 – Memória/ Humberto Trezzi )

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