OS PRIMEIROS REFRIGERADORES

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OS PRIMEIROS REFRIGERADORES

 

Sabia-se, desde há muito, que os alimentos guardados em ambiente frio conservavam-se por mais tempo. Conta a história, que em março de 1626, viajando pelo interior da Inglaterra, Francis Bacon sentiu desejo de constatar se a neve podia retardar a putrefação. Parou sua carruagem, comprou uma ave já morta, e, com suas próprias mãos, recheou-a de neve. Entretanto, a ideia não era nova. Segundo autoridades na matéria, os livros de culinária, dos antigos romanos, trazem referência ao emprego da neve na cobertura de certos pratos, cujo propósito só poderia ser o de preservá-los.
O uso de geladeiras, para a conservação dos alimentos, é bastante antigo. Até 1834, nada se tinha feito para aproveitar a experiência do sábio inglês, Cullen, na construção de uma máquina destinada a industrializar a refrigeração. Por volta desse ano, Jacob Perkins construiu um refrigerador de compressão, que funcionava por meio de um líquido volátil. Esse aparelho possui todas as características essenciais das máquinas de compressão a vapor, ainda usadas em nossos dias.
Em 1845, o Dr. Gorril inventava, em Nova Orleans, a primeira máquina de ação contínua, que tinha, como agente acionador, o ar. No entanto por ser seu funcionamento muito dispendioso, em virtude de erros de natureza termodinâmica, não obteve êxito.
Em 1857, James Harrison, australiano, conseguiu grande sucesso, com uma máquina de éter. Em 1860, portanto três anos mais tarde, Alexandre Kirk, da Escócia, construiu, para um trabalho relacionado com a extração da parafina, da ardósia destilada, um aparelho de refrigeração a ar. Por quantos usem e se beneficiem hoje, da invenção dos refrigerantes mecânicos, máquinas modestas ou custosíssimas instalações, devem ser lembrados os nomes de William Cullem, Joiseph Black, Jacob Perkins, Dr. Gorril, James Colleman, e irmãos Carrés, que muito contribuíram para que tivéssemos o conforto de hoje.

(Fonte: Dicionário Universal de Curiosidades – REFRIGERADOR / Da Costa e Silva / Myrtis de Carvalho / Caio Alves de Toledo – 1968 – Direitos reservados por: Comércio e Importação de Livros CIL S.A – Pág. 1399)

 

 

 

 

 

 

A era do gelo

A gastronomia tem no fogo e no gelo uma base sólida para gerar praticamente tudo o que comemos. Na edição passada, contei sobre o processo secular da transformação das fogueiras do homem pré-histórico em um utensílio completamente diferente: uma caixa “mágica” chamada micro-ondas. Com o gelo, a saga não foi muito diferente.

No início de nossa história, o homem só comia alimentos frescos. Era nômade e não armazenava mantimentos. Mudava constantemente de “endereço” em busca de locais onde a caça e a coleta fossem mais abundantes. Com o tempo, a observação e a experiência ensinaram que o frio conservava refeições. Colocar alimentos em riachos frios, escondê-los em cavernas ou escavar no subsolo para criar caves eram os métodos de resfriamento. A parte mais escura e fresca de uma caverna, por exemplo, era a “geladeira”.

Quando as civilizações se formaram, o sal era o elemento básico da conservação dos alimentos. Os chineses de 3000 a.C. já o utilizavam para conservar os peixes acumulados em épocas de fartura – em seguida, desenvolveram uma tecnologia que utilizava gelo. Coberto de sal, durava ainda mais. Por volta de 500 a.C., egípcios faziam gelo em noites frias, colocando água em vasos de barro e mantendo as panelas molhadas. O poderoso Alexandre, o Grande, também usava essa técnica para ter gelo, que era logo consumido em seus famosos e fartos festins. Gregos e romanos tinham o hábito de esfriar suas bebidas no verão com gelo que guardavam do inverno, em compartimentos especiais. Pode-se dizer que os primeiros coquetéis teriam surgido entre esses povos, ainda mais que o vinho era sua “bebida oficial”.

O que poderíamos chamar de indústria do gelo vai surgir na Idade Média, a partir de um advento urbano tão apropriado como o saneamento e que garantiu que receitas e alimentos tivessem um aproveitamento ainda melhor. Cada aldeia, cada feudo tinha o seu frigorífico – um poço em que se congelava água isolada com palha e comercializada especialmente no verão. O derivado devia chegar limpo de poeira e palha aos consumidores, conforme controle realizado a partir do decreto da Carta Real. Os tempos modernos chegaram e, no início do século 18, algumas casas europeias já dispunham de compartimentos subterrâneos onde o gelo era armazenado no inverno para depois conservar carnes e peixes.

E como chegamos à geladeira? Os primeiros “aparelhos” do começo do século 18 eram caixas de madeira instaladas em uma casa e revestidas com metal ou outros materiais, para conservar o gelo comprado de terceiros. Nesse período, o médico escocês William Cullen é considerado um pioneiro na tecnologia de refrigeração. Depois vieram os americanos Jacob Perkins, engenheiro e físico que fabricou pela primeira vez gelo artificial, e o médico John Goorie, com a máquina de fazer gelo para ajudar pacientes com febre amarela.

 A primeira geladeira surgiu em 1876 pelas mãos do engenheiro alemão Carl von Linde. Mas só em 1910 o chamado refrigerador doméstico chegaria aos lares. Nesse meio-tempo entre a geladeira de Von Linde e o aparelho comercializado para o público em geral, o alimento em temperaturas frias precisou viajar muito até se acomodar em um eletrodoméstico hoje onipresente.

Alguns casos. Um marinheiro americano, durante uma parada de emergência na Jamaica, teve a ideia de levar bananas para vender nos EUA. O negócio deu certo e ele prosperou, mas perdia muita quantidade nas viagens, pois elas apodreciam. Encomendou, então, um navio refrigerado – e decolou de vez.

Dois anos antes, o governo argentino ofereceu um prêmio a quem inventasse uma forma de refrigerar a carne para exportá-la. O engenheiro francês Charles Tellier instalou um sistema de refrigeração em um navio (o Le Frigorifique): encheu a embarcação com carne e velejou até Buenos Aires. Depois de 105 dias no mar, a carne chegou em boas condições. Em 1902, havia 460 navios refrigerados navegando pelos mares do planeta.

Hoje, um freezer relativamente simples e barato garante sua comida favorita durante meses.
(Fonte: https://forbes.com.br/colunas/2019/10 – A ERA DO GELO / Por Carla Bolla – 4 de outubro de 2019)

Carla Bolla é restauratrice do La Tambouille, em São Paulo

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