O primeiro brasileiro na Academia de Belas Artes da França

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Sebastião Salgado é o primeiro brasileiro na Academia de Belas Artes da França

Sebastião Salgado, um dos repórteres fotográficos contemporâneos mais respeitados no mundo. (Foto: Divulgação / CP)

O inédito título de Sebastião Salgado

Fotógrafo assume uma das 52 cadeiras da instituição

 

O fotógrafo Sebastião Salgado assumiu em 6 de dezembro, em Paris, uma cadeira na Academia de Belas Artes da França. Ele é o primeiro brasileiro membro da instituição, que tem 52 cadeiras. Além de Salgado, outros três profissionais fazem parte do setor fotográfico da Academia, os franceses Jean Gaumy e Yann Arthus-Bertrand e o marroquino Bruno Barbey.

Ícone do fotojornalismo em todo o mundo, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado tornou-se membro da Academia de Belas-Artes da França, uma distinção inédita para um brasileiro. A cerimônia foi realizada no Institut de France e foi ciceroneada por outro fotógrafo, o francês Yann Arthus-Bertrand, que pronunciou o discurso em homenagem ao eleito. A Academia de Belas-Artes é o equivalente para a arte do que a Academia Francesa é para a literatura.

Economista de formação, Salgado tornou-se fotógrafo profissional em 1973, já em Paris, cidade que adotou durante a ditadura militar. Com passagens marcantes pelas maiores agências francesas de fotojornalismo – Sygma, Gamma e Magnum, esta fundada por Henri Cartier-Bresson, o brasileiro ganhou notoriedade ao longo dos anos 1980, época em que transformou seu trabalho jornalístico em livros de grande sucesso. Sua primeira obra foi Outras Américas (1986). Seguiram-se Trabalhadores, Terra e Serra Pelada até o enorme sucesso mundial de Êxodos, quando visitou 35 países para narrar as migrações humanas.

Sebastião Salgado (Aimorés, Minas Gerais, 1944) chegou a Paris exilado depois do AI-5, em 1968. Na França, onde estabeleceu sua residência, estudou na Escola Nacional de Estatística e Administração Econômica, preparou um doutorado em Economia Agrícola e, segundo ele mesmo confessou no passado, descobriu sua paixão pela fotografia.

Em 2013, Gênesis marcou sua mutação de fotógrafo de conflitos e guerras em observador da natureza, em um trabalho no qual foi ao encontro do homem em locais do planeta ainda inexplorados pelo extrativismo e pela economia.

Prêmio Príncipe das Astúrias de Artes 1998, ele inclui em seu currículo trabalhos para as agências Gamma e Magnum, e grandes séries próprias de longa duração como Genesis (2013) e África (2007).

 

A profundidade de seu trabalho o tornou um dos fotógrafos mais conhecidos e admirados do mundo. Objeto de exposições, retrospectivas, livros e de um documentário, O Sal da Terra, dirigido por seu filho, Juliano Salgado, e pelo cineasta Win Wenders, Salgado vem sendo distinguido em todo o mundo há mais de duas décadas. Desde 1992, é membro da Academy of Arts and Sciences dos Estados Unidos. Em 2016, recebeu a medalha da Legião de Honra, a mais prestigiosa da França. Ontem, enfim, foi ungido como membro da Academia de Belas-Artes, uma das cinco academias do prestigioso Institut de France. A instituição tem 59 membros distribuídos entre oito seções artísticas, entre as quais a de fotografia. Dessa última participam apenas quatro fotógrafos – Yann Arthus-Bertrand, Bruno Barbey e Jean Gaumy, além de Salgado.

 

Coube a Arthus-Bertrand, um dos intelectuais mais célebres da França contemporânea, realizar o discurso de bem-vinda do brasileiro. Em um pronunciamento sobre o amor, ressaltou a relação de Salgado com Lélia Wanick Salgado, sua mulher, assim como sua dedicação a trazer à luz a vida dos desfavorecidos, primeiro através do fotojornalismo, e a seguir por meio da fotografia de arte. “Se estou tão feliz acolhê-lo, é porque sei que essa bela casa será iluminada por sua luz”, disse Arthus-Bertrand. “Porque estou certo de que sua humanidade e sua vitalidade vão nos fazer um bem imenso.”

 

Após o discurso, o brasileiro passou a ocupar o assento de seu amigo Lucien Clergue, morto em 2014, a quem o brasileiro fez o discurso de elogio, um protocolo da casa. Salgado lembrou que Clergue o havia convidado, em três oportunidades, a última delas por carta, para tomar seu assento na Academia de Belas-Artes no dia de sua morte. “Eu não teria jamais aceito a proposta de Yann Arthus-Bertrand de me candidatar se não tivesse recebido essa carta”, explicou Salgado. “É pela memória das palavras de Lucien, com emoção e responsabilidade, que eu disse ‘sim’ a Yann e que estou aqui hoje.”

“Eu creio que não sucedemos um homem como Lucien Clergue; não substituímos um personagem como ele, com uma história tão prodigiosa, com uma cultura tão rica. (…) Nós não o substituímos; nós herdamos dele.”

Sob imensa salva de palmas ao novo membro, a cerimônia no Institut de France foi encerrada para que o brasileiro pudesse receber a espada, símbolo da instituição, em uma recepção na capela da Escola Nacional Superior de Belas Artes, minutos depois. A espada de bronze, obra do artista plástico e escultor Jean Cardot, traz em sua empunhadura elementos da obra do fotógrafo. O de maior destaque é a pata de uma iguana, fotografada por Sebastião Salgado em 2004, no Equador, e parte do livro Gênesis.

 

Em 2016, ele lançou “Kuwait, Um Deserto em Chamas” (Taschen), com fotos registradas entre o começo de agosto de 1990 e o fim de fevereiro de 1991, durante um dos maiores desastres não naturais do mundo ocorrido no deserto kuwaitiano.

(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/Variedades/Arte/2017/12 – Arte & Agenda – Variedades – Arte – 06/12/2017)

(Fonte: https://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2503 – CULTURA / Por Estadão Conteúdo – 07.12.17)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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