O primeiro a voar mais rápido que o som

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O primeiro a voar mais rápido que o som

Charles Chuck Yeager já foi chamado de “o homem mais veloz da Terra” e “Mr. Supersonic”. No dia 14 de outubro de 1947, ele se tornou o primeiro a voar mais rápido que o som, superando velocidade de Mach 1 (1.225 quilômetros por hora ao nível do mar). Yeager era capitão da Força Aérea americana e tinha apenas 24 anos. A última vez que pilotou um caça F-16 – e rompeu a barreira do som – foi em 2007, na comemoração dos 60 anos da façanha.
Passou sua infância na Califórnia, em Virgínia Ocidental, foi lá que treinou sua pontaria em caçadas e aprendeu tudo sobre motores na oficina do pai, atributos que se mostrariam fundamentais para seu sucesso.
Sua vida pode ser narrada como uma sucessão de aventuras – no ar e na terra. Passou 60 anos dentro de cockpits da Força aérea. A carreira de Yeager começou na Segunda Guerra Mundial. Ele tinha 21 anos quando, num Mustang P-51, fez 13 missões na Europa.
Derrubou seis caças alemães, cinco numa única missão. Em 5 de março de 1944, foi derrubado. Estava combatendo um Messerschmitt 109. Foi atingido por seu canhão de 20 milímetros. A hélice, parte da asa e a porta do cockpit saíram voando. O avião pegou fogo. Saltou de pára-quedas. Yeager caiu na França ocupada. Teve de se esconder para não ser capturado. Acabou fazendo contato com um fazendeiro. Ele não falava francês, mas por sorte foi levado aos membros da resistência, que o conduziram a Espanha. De lá, foi a Portugal, e de volta a Inglaterra e ao combate. No fim da guerra, e consagrado com um ás da Força Aérea, Yeager foi selecionado para testar jatos na Califórnia.
A história começa com Yeager quebrando a barreira do som. Ele embarcou no X-1 Bell, o avião-foguete acoplado a barriga de um bombardeiro B-29. Na fuselagem, o X-1 exibia o nome Glamorosa Glennis, homenagem a sua mulher. O B-29 decolou da Base Aérea Edwards, na Califórnia, subiu até 6.000 metros e soltou o X-1. Yeager acionou os quatro foguetes e o jato acelerou rumo a estratosfera. Muitos pilotos tentaram a façanha antes dele, sem sucesso. Sempre que o X-1 se aproximava da velocidade do som, uma turbulência crescente fazia o piloto perder o controle da aeronave. Por isso, havia o mito de que a barreira de som era intransponível, um muro invisível no céu. Quem tentasse ultrapassá-lo morreria. O dia em que quebrou a barreira não foi seu primeiro vôo no X-1. Foi o nono.
Yeager conhecia tão bem o avião que, no vôo histórico de 14 de outubro, ao ultrapassar os 1.000 quilômetros por hora, sentiu trepidações no manche, o sinal de que a barreira do som se aproximava. Naquele instante, resolveu alterar a angulação dos estabilizadores na cauda do avião em apenas 2 graus. A turbulência desapareceu. O avião acelerou suavemente até romper a barreira. Não ouviu o boom sônico no cockpit. Só quem está no solo consegue escutá-lo.
O reinado de Yeager como o homem mais rápido da Terra durou até 1953, quando Scott Crossfield superou o dobro da velocidade do som. Em 1957, os soviéticos lançaram o primeiro satélite, o Sputnik. Os Estados Unidos criaram então seu programa espacial.
A história de Yeager foi retratada em Os Eleitos (The Right Stuff, 1983), uma adaptação do livro de Tom Wolfe (1979) sobre o início da corrida espacial. Yeager foi interpretado por Sam Shepard (e fez uma ponta como Fred, barman de um bar onde os pilotos se reuniam). O filme começa com Yeager quebrando a barreira do som. Em Os Eleitos, Yeager não quis fazer parte da seleção de astronautas do Projeto Mercury, que seriam os primeiros americanos no espaço. O filme termina em 1963. Mostra um Yeager arrependido, que decola num jato para atingir o limiar do espaço.
Como supersônicos não são foguetes espaciais, a tentativa estava fadada ao fracasso. Yeager sofreu o pior acidente de sua carreira e se salvou milagrosamente. Nunca quis ser astronauta. Era preciso ser formado. Eu só tinha o colegial. Mas aquilo não era pilotar. Não queria ficar trancado numa cápsula e ver alguém o fazendo voar de um lado para o outro. Yeager se reformou como general brigadeiro em 1975. Pilotou 206 modelos diferentes. Testou todos os modelos da Força Aérea dos EUA, da Alemanha, da França, da Inglaterra, do Japão, da Suécia e da Rússia.

(Fonte: Época – Nº 544 – 20 de outubro, 2008 – Editora Globo – Primeiro Plano/Personagem da semana – Peter Moon – Pág; 15)

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