Moisés Lupion, duas vezes governador do seu Estado, entre 1947 e 1951 e de 1956 a 1961.

0
Powered by Rock Convert

O fim do pioneiro

Apareceu na primeira lista de punidos por corrupção depois do golpe militar de 1964

Foi um dos primeiros políticos-empresários

Moisés Lupion (Jaguariaíva, 25 de março de 1908 – Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1991), ex-governador do Paraná, acusado de corrupção, cassado, expropriado de seus bens – mas inocente segundo a Justiça.

Duas vezes governador do seu Estado, entre 1947 e 1951 e de 1956 a 1961, Moisés Lupion Troya teve seus bens confiscados e seus direitos políticos cassados com base numa acusação que se confunde com a prática política no Brasil – a do cidadão que se locupleta no exercício do poder. Seu nome apareceu na primeira lista de punidos por corrupção depois do golpe militar de 1964. As campanhas moralizadoras contra ele foram a porta de entrada na política do ex-governador do Paraná Ney Braga, que logo se alinhou com a nova ordem.

A história de Lupion é singular não apenas porque ele ganhou fama de corrupto no exercício de um mandato público mas também por ter recebido uma punição exemplar e por ter terminado seus dias não propriamente na miséria, porém sem o fausto e a opulência dos tempos de governo.

As comissões gerais de inquérito, as temidas CGIs, que vasculhavam a vida dos cassados pelos militares em busca de indícios de subversão e corrupção, nada conseguiram provar contra ele. Foi cassado e teve seus bens consfiscados assim mesmo. Inocentado pela Justiça em 1970, Lupion nunca conseguiu reaver os bens arrestados – uma fábrica de papel, vendida pelo governo ao Bamerindus, e uma fazenda no interior do Estado. Ao sentar-se na cadeira do Palácio Iguaçu, em 1947, Lupion já era um empresário de sucesso e tinha acumulado boa parte de seu patrimônio. Possuía minas de carvão, uma indústria madeireira e um punhado de fazendas. Ao deixar o poder, catorze anos depois, era mais rico ainda – havia incorporado a seu patrimônio um castelo renascentista de 54 cômodos, que sobrevive no elegante bairro do Batel em Curitiba. Também comprara uma fábrica de papel.

PIONEIRO – Ele foi um dos primeiros políticos-empresários, esse tipo de cidadão hoje abundante no país, que entra na vida pública com um patrimônio que se multiplica curiosamente na mesma proporção do sucesso eleitoral de seu dono. Lupion era menos rico ao começar o primeiro mandato de governador do que quando entregou o poder a seu sucessor. Da mesma forma que saiu mais rico da segunda investida no cargo do que quando tomou posse. Um pioneiro. A cassação mudou sua vida. Nos anos 70, ele se mudou para o Rio de Janeiro. Tornou-se católico fervoroso – dava palestras em cursilhos – e não conseguiu voltar à vida pública mesmo depois da anistia. Longe do poder, Lupion definhou até fisicamente. Ele ainda tentou uma volta à política pelo PMDB em 1988, mas sua candidatura a deputado não decolou. Também não guardava mágoas. Perdoou publicamente o ex-governador Ney Braga. “Não tenho rancor de ninguém”, dizia Lupion, que lutou até os últimos dias de vida para reaver os bens expropriados pelo governo militar. Uma galopante infecção renal matou-o no dia 29 de agosto, aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Se Lupion foi mesmo corrupto, sua morte não ajudará em nada a esclarecer. Com sua morte, o Brasil perdeu um símbolo.

(Fonte: Veja, 4 de setembro, 1991 – Edição 1198 – ANO 24 – N° 36 – DATAS – Pág; 106)

Powered by Rock Convert
Share.