Mohammed Ayub Khan, Marechal-de-Campo e o primeiro presidente da República do Paquistão (1958-1969).

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FIM DA ERA DE AYUB KHAN

Mohammed Ayub Khan (Haripur, 14 de maio de 1907 – Islamabad, 19 de abril de 1974), Marechal-de-Campo e o primeiro presidente da República do Paquistão (1958-1969), Ministro da Defesa e de encarregado dos assuntos da Caxemira. Levado ao poder por um golpe militar, foi forçado a demitir-se após a derrota para a Índia na guerra que resultou na independência de Bangladesh.

Melancólicamente, entre gritos de revolta de muitos e a solidariedade de poucos, o Marechal-de-Campo Ayub Khan encerrou a sua década de Governo do Paquistão, renunciando aos cargos de presidente da República, de Ministro da Defesa e de encarregado dos assuntos da Caxemira. O homem que subiu ao poder em outubro de 1958, proclamando que “a situação caótica do momento tem de ser enfrentada com decisão”, reconheceu que uma situação caótica semelhante o obrigava a abandonar o seu posto. A queda de Ayub Khan, 61 anos, militar de formação inglesa, cuja política nacionalista e paternalista, o tornou um dos líderes mais destacados do Terceiro Mundo, foi o clímax de cinco meses de conflitos e anarquia entre seus partidários e adversários, esquerdistas e direitistas, entre estudantes e policiais, que excederam em mortos, feridos e saques tudo o que já ocorreu nos 22 anos de independência do Paquistão.

Guerra civil – Essa agitação teve início em 1967 por causa de dificuldades econômicas e insatisfação social, coincidindo com uma moléstia cardíaca que começou a abalar o saudável Marechal-Presidente, cresceu de intensidade e teve seu início em novembro de 1968, alimentada pela agitação estudantil. Em fevereiro de 1969, entre surpreso e amargurado com as desordens que já haviam custado quase cem mortos e milhares de feridos – além de pilhagens e execuções sumárias de políticos e até inocentes, em praças públicas -, Ayub Khan decidiu anunciar que não concorreria às eleições de 1970. Mas, longe de aplacar a ira de seus inimigos ou conter o fanatismo de seus partidários, a decisão de Khan multiplicou por dez a onda de violência, convencendo-o de que só a sua saída imediata do Governo poderia impedir uma guerra civil. No dia 26 de março de 1969, diante dos mesmos microfones dos discursos otimistas do passado, Ayub Khan formalizou sua renúncia. “É impossível para mim presidir a destruição do que é nosso”, afirmou.

Democracia básica – A sua saída marcou o fim de uma era de transformações no Paquistão, a quinta nação mais populosa do mundo, cujos 120 milhões de habitantes estão separados entre si pela língua, padrão de vida e 1 600 quilômetros de território da Índia. O Paquistão Ocidental, com seus 800 000 km² e 52 milhões de habitantes, é mais rico que o Paquistão Oriental, de apenas 142 000 km² mais habitado por 68 milhões de pessoas, que se consideram discriminadas. A rivalidade das duas regiões só desaparece quando se trata de lutar contra a Índia, com a qual o país já foi à guerra em 1949 e 1965, por causa da Caxemira.

As guerras, as estiagens alternadas com as enchentes e o atraso da agricultura não impediram que Ayub Khan imprimisse um relativo ritmo de desenvolvimento ao país, conseguindo ao mesmo tempo ser amigo da vizinha China Comunista, da Rússia e dos Estados Unidos, que forneciam ajuda anual de 250 milhões de dólares. Mas o regime não conseguiu alfabetizar 60% dos camponeses e a Constituição criada por Khan em 1962 substituiu a democracia parlamentar por um sistema paternalista e autoritário de governo. O resultado é que Ayub Khan passou a contar somente com sua Liga Muçulmana como apoio político.

A direita, agrupada no Comitê de Ação Democrático, que reúne oito pequenos partidos e as vinte famílias mais ricas do país, lhe fazia oposição do mesmo modo que a esquerda, dividida entre comunistas e o novo Partido do Povo, fundado por Ali Bhuto, quarenta anos, ex-chanceler e adversário de Khan. Encerrar essa “democracia básica”, nome do regime, foi tarefa para o novo Presidente, General Yahya Khan, que assumiu plenos poderes, decretando uma lei marcial de 25 artigos e extremo rigor: só o fato de criticá-la é punido com catorze anos de prisão. A sua firmeza conseguiu devolver a paz ao país, mas tão cedo não foram apagadas as cicatrizes profundas que marcaram a década de Ayub Khan.

Ayub Khan morreu no dia 19 de abril de 1974, aos 69 anos, do coração, em Islamabad.

(Fonte: Veja, 2 de abril, 1969 – Edição 30 –Paquistão – Pág; 38)
(Fonte: Veja, 1° de maio, 1974 – Edição 295 –DATAS – Pág; 15)

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