Millôr Fernandes, escritor, jornalista e cartunista

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Millôr Fernandes (Rio de Janeiro, 27 de maio de 1924 – Rio de Janeiro, 27 de março de 2012), escritor, jornalista e cartunista.

Embora seja mais conhecido do público como humorista, Millôr foi um intelectual como poucos, e participou de grandes momentos da imprensa brasileira do século XX. Foi um dos responsáveis pelo fenômeno editorial da revista O Cruzeiro, que chegou a ter tiragem de 750 mil exemplares nos anos 1950, e um dos fundadores do lendário O Pasquim, tablóide que se tornou símbolo da resistência à ditadura militar. Em Veja, no Jornal do Brasi, no Correio Brasiliense, em O Estado de São Paulo e outros jornais, deixou a marca de um humor inteligente e ácido, que produziu frases antológicas como “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”, ou ““A justiça pode ser cega: mas que olfato!”

Millôr era um intelectual inquieto. Publicou dezenas de livros, mas dizia que não tinha obra (“É coisa de pedreiro”). Tradutor de Shakespeare, Molière e Brecht, foi um dramaturgo premiado – entre as peças que escreveu, destacam-se Um Elefante no Caos e Liberdade, Liberdade (com Flávio Rangel). Como se não bastasse, reivindicava o título de inventor do frescobol, e foi vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia, em 1953.

Nascido no bairro do Méier, Millôr sempre fez piada em relação ao seu registro de nascimento. Costumava brincar que percebeu somente aos 17 anos que o seu nome havia sido escrito errado na certidão: onde deveria estar Milton, leu “Millôr” (o corte da letra “t” confundia-se com um acento circunflexo, e o “n” com um “r”). Seja como for, gostou do novo nome e o adotaria a partir de então. “Milton nunca foi uma boa escolha”, comentaria anos mais tarde, durante uma entrevista. A data de nascimento também não estaria correta: em vez de 27 de maio de 1924, ele teria nascido em 16 de agosto do ano anterior.

Desenhista, tradutor, jornalista, roteirista de cinema e dramaturgo, Millôr foi um raro artista que obteve grande sucesso, de crítica e público, em todas as áreas em que se atreveu trabalhar. Ele, que se autodefinia um “escritor sem estilo”, começou no jornalismo em 1938, aos 15 anos, como contínuo e repaginador de “O Cruzeiro”, então uma pequena revista. Ele retornou à publicação em 1943 ao lado de Frederico Chateaubriand e a tornou um sucesso comercial. Lá, criou a famosa coluna “Pif-Paf”, que também teria desenhos seus.

Em 1948, viajou para os Estados Unidos e conheceu Walt Disney. “Nessa época eu ainda acreditava que Disney sabia desenhar. Só mais tarde, lendo sua biografia, aprendi que até aquela assinatura bacana com que ele autentica os desenhos é criação da equipe”, provoca, na autobiografia que escreveu em seu site. No ano seguinte, Millôr assinou seu primeiro roteiro cinematográfico, “Modelo 19”, e já foi logo agraciado com o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, criado na década seguinte.

O início dos anos 50 seria importante na vida do autor, tanto pessoal quanto profissionalmente. Na companhia do também escritor Fernando Sabino, fez uma viagem de carro pelo Brasil, com duração de 45 dias. Em 1952, seria a vez da Europa, por onde permaneceria quatro meses. Um ano depois, veria a estreia de sua primeira peça de teatro, “Uma mulher em três atos”, no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo.

E foi no teatro, como dramaturgo, que Millôr mais colecionou prêmios. Como em ”Um elefante no caos”, em 1960. Anos depois, diria em seu site: “Foi transformada num excelente espetáculo pela genial direção de João Bittencourt. Uma das poucas vezes que um diretor melhorou um trabalho meu”.

Também no teatro foi um tradutor prolífico e importante. Clássicos como “Rei Lear”, de William Shakespeare, a moderna “As lágrimasaAmargas de Petra von Kant”, de Fassbinder, ou o musical Chorus Line, de James Kirkwood e Nicholas Dante, chegaram aos palcos brasileiros através de suas mãos. “Ao traduzir é preciso ter todo o rigor e nenhum respeito pelo original”, diria em uma entrevista.

Roteirista

Como roteirista, escreveu mais de uma dezena de texto, dentre eles o longa “Terra estrangeira”, e “Memórias de um sargento de milícias”, adaptação da obra de José Manuel de Macedo produzida pela Rede Globo de Televisão. Também roterizou espetáculos musicais, como o musical “Liberdade liberdade”, escrito em parceria com Flávio Rangel, e “Do fundo do azul do mundo”, ao lado de Elizeth Cardoso e do Zimbo Trio.

Recebeu uma homenagem durante o carnaval carioca de 1983, quando foi samba-enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói (RJ). Millôr, inclusive, compareceu ao desfile.

Dentre os veículos de imprensa, colaborou ainda com artigos e crônicas nos jornais “O Correio Brasiliense”, “Jornal do Brasil”, “O Estado de São Paulo”, “O Diário Popular”, “Correio da Manhã”, “O Dia”, “Folha da Manh㔠e “Diário da Noite”. Para internet, criou o site “Millôr Online”, sobre o qual diria posteriormente: “Se eu soubesse o que atrai tanta gente, nunca mais faria de novo”.

E, como bom roteirista, ainda escreveria sobre a própria vida: “Meu destino não passa pelo poder, pela religião, por qualquer dessas entidades idiotas. Meu script é original, fui eu quem fez. Por isso não morro no fim”.

Nascido no Méier, bairro da zona Norte do Rio, em 16 de agosto de 1923, Millôr foi registrado – com quase um ano de atraso – como Milton Viola Fernandes, e acabou adotando o nome que se conseguia ler na certidão de nascimento. Órfão muito cedo de pai e de mãe, começou a trabalhar aos 13 anos em O Cruzeiro, onde ficou por 25 anos. Tornou-se um autodidata radical. Foi trabalhando que aprendeu tudo o que sabia fazer.

E só parou de trabalhar quando sofreu o AVC. Em 2004, quando sua obra começou a ser relançada pela Editora Desiderata, disse a Veja que continuava a fazer “dez coisas por dia”. “Se não faço, me sinto um fracassado”, explicou.
Millôr Fernandes, que não era um saudosista, só admitia ter saudade de Ipanema nos anos 1960. “Fui morar lá em 1954. Meu edifício foi o primeiro, tive que espantar os índios da praia”, disse, em entrevista ao jornalista Sérgio Rodrigues, em 2008. Ele teve dois filhos – Ivan e Paula – com Wanda Rubino Fernandes.

(Fonte: www.veja.abril.com.br/noticia/celebridades – Celebridades – 28/03/2012 )
(Fonte: www.g1.globo.com/pop-arte/noticia – Do G1 RJ – Pop & Arte – 28/03/2012 )

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