Miguel Galvão Teles, o advogado que dizia que era preciso não vender a alma

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Miguel Galvão Teles, o advogado que dizia que era preciso não vender a alma

Dominava várias áreas do Direito, nomeadamente o Constitucional, tendo também passado pela política: aderiu ao PS em 1978, tornando-se depois conselheiro de Estado do Presidente da República Ramalho Eanes. Antes disso, havia sido regente da cadeira de Marcelo Caetano na Faculdade de Direito de Lisboa, figura que admirava, apesar de ser um homem de esquerda.

Adepto do Sporting, onde assumiu, durante 11 anos, a presidência da mesa da Assembleia Geral, Miguel Galvão Teles recebeu, em 2006, um dos mais prestigiados prémios internacionais da advocacia, o Chambers’ Lifetime Achievement Award. Foi nessa altura que disse, numa entrevista, que na advocacia não valia tudo: “É preciso não vender a alma. Há causas que jamais defenderia como advogado.” Mais tarde, havia de revelar que nunca aceitaria defender um pedófilo, por exemplo.

Nascido em berço de ouro, na Foz do Douro, no Porto, foi homenageado pelo Estado português com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (em 1986) e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (em 2004). Recebeu ainda os prémios Gulbenkian de Ciências Político-Económicas (1959) e de Ciências Histórico-Jurídicas (1961). Teve quatro filhos e era sócio-fundador de um dos maiores escritórios de advogados nacionais, o Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, onde coordenava o departamento do Direito Público e Direito Internacional. Era ainda membro do Tribunal Permanente de Arbitragem, em Haia.

O Presidente da República, Cavaco Silva, lembra Galvão Teles como um dos mais notáveis juristas da sua geração, sublinhando o seu contributo para a consolidação da democracia portuguesa. “Jurista brilhante, dos mais notáveis da sua geração, sempre se destacou pelo seu profundo amor à liberdade e pela integridade do seu carácter”, lê-se numa mensagem de condolências enviada pelo chefe de Estado à família do advogado. Na missiva, Cavaco Silva recorda o seu “contributo essencial para a consolidação da democracia portuguesa e, mais tarde, para a defesa da causa de Timor no plano internacional”.

“À inteligência aliou uma afabilidade de trato que para sempre ficará inscrita na memória de todos quantos tiveram o privilégio de o conhecer”, acrescenta o Presidente.

“Nenhumas palavras podem exprimir a dimensão da perda que sofremos. Morreu hoje uma parte de nós”, declarou o presidente do conselho de administração da sociedade de advogados, João Soares da Silva, que chama a atenção para a pessoa absolutamente extraordinária que foi Miguel Galvão Teles. É esse humanismo que realçam muitos dos que com ele trabalharam. O advogado Nuno Godinho de Matos recorda-o primeiro como seu professor, na Faculdade de Direito, e depois como colega na advocacia. “Era uma pessoa muito discreta, de grande qualidade pessoal e humana.”

O Sporting manifestou também profundo pesar pela sua morte. “É com profundo pesar que informamos que faleceu o nosso associado. Ex-dirigente do nosso clube, foi presidente da mesa da assembleia geral do Sporting Clube de Portugal, durante dez anos, sendo posteriormente membro do conselho leonino”, lê-se no site oficial do clube.

Morreu na madrugada desta sexta-feira, no Hospital da CUF, vítima de problemas cardiovasculares. Tinha 75 anos.

(Fonte: http://www.publico.pt/desporto/noticia/morreu-miguel-galvao-teles-1683153 –   – 23/01/2015)

 

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