Matías Molina, referência do jornalismo de economia no Brasil
Matías Molina, jornalista e escritor foi referência na cobertura econômica. Historiador por formação e jornalista apaixonado pelo ofício, o profissional trabalhou por quase 30 anos na equipe que tornou a Gazeta Mercantil a principal referência brasileira na cobertura do setor.
Na Folha de S.Paulo, Molina foi editor de Mercado e redator de Mundo. Também teve passagem pelo Grupo Abril, onde foi o primeiro editor da revista Exame. Trabalhou ainda por quase três décadas na Gazeta Mercantil, onde foi editor-chefe e correspondente em Londres.
Molina nasceu em Madrid, na Espanha, em 25 de julho de 1937. Caçula de seis irmãos, foi para um colégio interno ao perder o pai, em 1942. De origem familiar humilde, precisou de bolsa de estudos para completar a educação formal. Aos 17 anos, mudou-se com a mãe para o Brasil, em busca de melhores oportunidades. Em 1970, naturalizou-se brasileiro.
Molina chegou ao Brasil com a mãe, aos 17 anos, decidindo ficar no país, mesmo depois que ela foi embora. Tornou-se historiador pela Universidade de São Paulo (USP) e se dedicou a escrever livros sobre a história da imprensa.
Ele é autor de “Os Melhores Jornais do Mundo – Uma Visão da Imprensa Internacional”, publicado em 2008 pela editora Globo, e iniciou a trilogia “A História dos Jornais do Brasil”, cujo primeiro volume chegou às livrarias, em 2015, pela Companhia das Letras.
Resultado de décadas de pesquisa, o primeiro volume recuperou a história de jornais brasileiros entre 1500 e 1840, dando aos leitores uma visão inédita sobre como a imprensa se constituiu no país, percorrendo os anos em que a corte portuguesa se instalou no Rio de Janeiro até a Independência.
Foi correspondente do jornal argentino “El mundo” e redator da revista brasileira “Direção” antes de entrar na Folha de S.Paulo, em 1964. No jornal, conheceu Cláudio Abramo e Roberto Müller Filho, que se transformariam em grandes referências profissionais de Molina.
Ainda na década de 1960, atuou nas redações de revistas técnicas da Editora Abril e esteve na equipe que fundou a revista Exame, sendo seu primeiro editor-chefe. Posteriormente, com Müller na liderança, foi para a Gazeta Mercantil. Graças ao trabalho dele e seus colegas, o jornal se tornou referência na cobertura jornalística de economia. Também foi diretor de análise internacional na agência de relações públicas CDN.
Publicou “Os Melhores Jornais do Mundo: Uma Visão da Imprensa Internacional”, (Editora Globo, 2008) e a primeira parte da trilogia “A História dos Jornais do Brasil” (Companhia das Letras, 2015). Aos 75 anos, ganhou um livro em sua homenagem, “Matías M. Molina: O Ofício da Informação”, editado pelo filho Maurício L. Martínez.
Matías Molina faleceu aos 87 anos, em São Paulo
Depoimentos
Amigos e contemporâneos descrevem Molina como um dos melhores repórteres de sua geração, com texto e apuração excelentes assim como editor detalhista e chefe rigoroso, porém justo e generoso. Influenciou diretamente diversos jornalistas renomados como Celso Pinto, Angela Bittencourt, Célia de Gouvêa Franco, Cláudia Safatle, José Casado, Miriam Leitão e Vera Brandimarte.
“Matías Molina foi um exemplo raro de jornalista que se notabilizou ao exercer várias funções da profissão, cada uma delas exigindo qualidades diferentes entre si”, relembra Célia de Gouvêa, que escreveu “Gazeta Mercantil: A trajetória do Maior Jornal de Economia do País” (Editora Contexto, 2024). “Foi talvez o maior mentor de repórteres no jornalismo econômico. Sabia contratar e treinar jovens jornalistas, muitos dos quais se tornaram estrelas da profissão”, diz, acrescentando que o mestre mudou a vida de muita gente ao dar oportunidade de trabalho nos lugares por onde passou.
Cláudio Pereira era vice-presidente da CDN quando a Gazeta foi descontinuada, em 2009. O então executivo de comunicação — que já conhecia Molina das redações — convocou o amigo para uma tarefa essencial, mediante o atendimento da conta do Governo Federal à época: realizar a análise de conteúdo internacional na área de inteligência da agência. “Molina foi mais que um jornalista, ele foi um farol no mundo da economia”, relata o amigo. “Um sujeito ético, íntegro, que colocava o interesse público acima de tudo, mas ao mesmo tempo era alguém suave, generoso, simples no trato com as pessoas, também bem-humorado, com aquele sotaque que manteve até o final, acho que até por certo charme.”
“Sua principal marca, como jornalista, era a exigência na apuração e no acabamento das matérias”, descreve o jornalista Pedro Cafardo, destacando como Molina e Müller Filho transformaram a Gazeta Mercantil, que até os anos 1970 era um mero boletim, no maior jornal de economia do Brasil. “Em plena ditadura militar, com imparcialidade e coragem, o jornal elevou o nível do debate econômico e conquistou também enorme influência na política.”
Cafardo trabalhou com Müller e Molina na Folha e na Gazeta. Em seguida, editou economia no Estadão, onde também foi editor-chefe. Nos anos 2000, foi editor-executivo do Valor Econômico, jornal não só erguido sobre as bases fundadas pela Gazeta Mercantil. mas desenvolvido por profissionais formados por Molina. “Diria que ele foi um dos maiores professores de jornalismo do país, mesmo nunca tendo lecionado em cursos acadêmicos. Junto com Müller, que morreu no ano passado, Molina formou uma geração de jornalistas de economia.”
Matías Martínez Molina deixa a mulher, Cynthia Malta, e os filhos Maurício e José Victor Longo Martínez. Não foi informada a causa de sua morte. Seu corpo será velado a partir das 14h desta terça-feira, 22, no cemitério Morumby, na capital paulista, com sepultamento previsto para as 16h.
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https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Folha de S.Paulo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – 22/04/2025)