Matias Machline, fundador e principal acionista do grupo Sharp, um dos maiores do setor eletrônico.

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Fundador e principal acionista do grupo Sharp, um dos maiores do setor eletrônico nacional

Matias Machline (Bagé (RS), 1933 – Nova Jersey, 12 de agosto de 1994), empresário e presidente do grupo Sharp, um dos maiores fabricantes de aparelhos eletrônicos do país. A Cimpro foi fundada em 1961 pelo descendente de russos Matias Machline, que mais tarde se tornou a Sharp S.A.

Nascido em Bagé, no interior do Rio Grande do Sul, em 1933, Machline era um desses fenômenos do capitalismo – um homem que surgiu do nada e construiu um dos maiores impérios industriais do país. Filho de um casal que fugiu da Rússia para a Argentina pouco antes da revolução bolchevique, em 1917, Machline começou a vida como vendedor de máquinas de escrever em Porto Alegre. Em apenas três décadas, construiu tijolo por tijolo um negócio que fatura 680 milhões de dólares por ano. O grupo, que inclui a Sid Informática e o Digibanco, fabrica mais de 100 produtos, de televisores e computadores a centrais telefônicas. É uma das empresas que mais vendem televisores, video-cassetes e fornos de microondas no país.

SONHO DE CONSUMO – Um dos segredos de Machline era atrair os sócios certos na hora certa. “Quem não sabe investir não chega a lugar algum no mundo dos negócios”, costumava dizer. Em 1969, buscou no Japão a concessão para vender as calculadoras Sharp. Em 1972, pressentiu que a televisão em cores se transformaria no principal sonho de consumo do brasileiro e associou-se novamente aos japoneses num empreendimento pioneiro: a construção da primeira fábrica de televisores em Manaus. Dez anos mais tarde, Machline achou que era hora de ingressar na produção microeletrônica e de bens de informática e criou a Sid Informática, que tem como sócia a IBM americana, gigante mundial do setor. Sua última grande tacada foi na área de telecomunicações: em 1991 associou-se à americana AT&T, dona de um faturamento de 67 bilhões de dólares, para fabricar equipamentos de telefonia móvel.

O crescimento meteórico do grupo também teve seu preço. Grande, pesada e difícil de conduzir, a Sharp enfrentou turbulências durante a recessão e a caótica abertura econômica desencadeada pelo governo Collor. No final de 1993, a empresa acumulava uma dívida de cerca de 170 milhões de dólares. O número de empregados baixou de 13 000 para 6 000. Na mesma época, Machline enfrentou um segundo problema: uma briga judicial com a ex-mulher, Carmem Thereza, e o mais velho de seus quatro filhos, José Maurício, pelo comando dos negócios. O empresário chegou a transferir a presidência do grupo para um executivo profissional, Mauro Marques, encarregado de conduzir um acordo com os bancos para renegociar a dívida do grupo, mas depois voltou atrás.

“Minha cadeira, só eu ocupo”, explicou ao reassumir o cargo em fevereiro de 1994. Desde então, desfechou um ajuste rigoroso na organização, que incluía reduzir de 44 para quinze o número de empresas do grupo e fechar unidades na Argentina. No dia 8 de agosto, quatro dias antes do acidente, Machline comemorava o primeiro bom resultado desse esforço: depois de quatro anos de prejuízos, o grupo tinha voltado a dar lucro no primeiro semestre. Criador de cavalos puros-sangues, influente na política e nos negócios, Machline era amigo pessoal dos ex-presidentes João Figueiredo e José Sarney. No governo Sarney foi o principal interlocutor do presidente com o empresariado paulista e uma das poucas pessoas que eram recebidas no Planalto sem hora marcada.

Matias Machline deu início à profissionalização do grupo, mas não conseguiu concluir seu projeto. Morreu em agosto de 1994, aos 61 anos em um acidente de helicóptero junto com a segunda mulher, Marina Araújo. O helicóptero fora alugado da empresa Island Helicopters, pelo dono da Sharp para retornar de Nova Jersey para Nova York, onde estava hospedado no Plaza Hotel.
(Fonte: www.epoca.globo.com/edic/1999/06/14 – Economia e Negócios)
(Fonte: veja, 17 de agosto de 1994 – ANO 27 – N.° 33 – Edição 1353 – MEMÓRIA – Pág; 98)

APOGEU NA DITADURA
MACHILINE GESTICULA: contatos militares fizeram grupo Sharp crescer na ditadura, mas não garantiram sobrevivência
Poucos empresários se movimentaram com tanta desenvoltura no regime militar como o gaúcho Matias Machline. Sua ascensão teve início em 1965, um ano após os generais se instalarem no Palácio do Planalto, quando obteve dos japoneses a autorização do uso da marca Sharp no Brasil.

Seu declínio começou em 1990, ano em que o primeiro governo eleito democraticamente desde 1964 assumiu o comando do País e promoveu a abertura de mercado. A partir dali, a Sharp mergulhou em uma longa agonia, agravada em 1994, com a morte do próprio Machline, em um acidente de helicóptero nos Estados Unidos. Sete anos depois, com a operação paralisada e vergada por dívidas de US$ 350 milhões, o grupo teve sua falência decretada.

Era o fim de um império que, no auge, abrigou cerca de 30 empresas e registrou receitas à beira do US$ 1 bilhão. O motor desse crescimento reunia, além do faro comercial de Machline, uma excelente rede de amizades com os ocupantes do poder e a capacidade de aproveitar o ambiente econômico daquele momento, formado por abundantes recursos financeiros oficiais e um mercado fechado à competição internacional. Até 1965, Machline era um importador de máquinas à frente da desconhecida Cimpro. Naquele ano, com o domínio da marca Sharp ele iniciou a trajetória de industrial que o levaria à liderança nas vendas de calculadoras, televisores, vídeo-cassetes e até microcomputadores.

O grande salto aconteceu em 1972, quando se tornou um dos pioneiros na fabricação de eletroeletrônicos na Zona Franca de Manaus. Para a empreitada, ele contou com o apoio (e dinheiro) do então Ministro da Comunicações Higino Corsetti. As portas do governo federal foram abertas graças à amizade com o general João Baptista Figueiredo, um dos mais próximos colaboradores do presidente Emílio Garrastazu Médici. O próprio Médici ficou encantado com a conversa daquele jovem empresário e suas promessas de desenvolver uma indústria eletroeletrônica nacional e assistir a Copa do Mundo de Futebol a cores.

O relacionamento entre Figueiredo e Machline também ajudou a colocar de pé a Lei de Informática, em 1982, quando o general já ocupava a Presidência da República. Com a reserva do setor para as empresas nacionais, a Sid Informática, de Machline, se transformou em uma das líderes na fabricação de microcomputadores – e num dos primeiros empregos de Jonnhy, um dos filhos de Figueiredo.

No governo seguinte, Machline continuou circulando à vontade pelos corredores do Brasília. Um de seus principais amigos, José Sarney, ocupava a Presidência e o grupo Sharp arriscou-se por outros caminhos, como a TV por assinatura, em associação com o Grupo Abril. O negócio não prosperou e ajudou ao Grupo Machiline entrar na trajetória de problemas que o levou á bancarrota dez anos depois.
(Fonte: www.istoedinheiro.com.br/noticias – Nº EDIÇÃO: 342 – ECONOMIA – 24 de março de 2004)

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