Manuel Bandeira, poeta recifense, autor de Itinerário de Pasárgada

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Manuel Bandeira (Recife, 19 de abril de 1886 – Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968), poeta, crítico literário e tradutor pernambucano.

Bandeira, a poesia em tudo

“Não tenha receio, meu coração. Farei massagens, como manda o livro. Com muita leveza, em sentido circular… começando pela implantação e acabando nas pontas…/ – Com creme de pétalas de rosas?/ – Com creme de pétalas de rosas…/ – Ora se!/ – Como o Pão de Açucar?/ – Como a Sul-América!” Homem de seu tempo, Manuel fazia poesia concreta e glosava os anúncios de publicidade, como neste trecho de “Colóquio Sentimental”, que exalta as propriedades de uma pasta para os seios. Era também em versos que ele pedia aos antigos prefeitos do Rio de Janeiro que acabassem com uma imensa poça de água na rua ou mantivessem o nome saboroso de velhos logradouros da cidade (Beco do Jogo da Bola, Ladeira do Escorrega).

Para ele, os versos foram até uma arma política. Foi em sátira poética que esgrimiu contra a espada de ouro presenteada ao “Excelentíssimo General/ Henrique Duífles Teixeira Lott/ A espada de ouro, que por escote/ os seus cupinchas lhe vão brindar/ …é de ouro raspado/ pelas mãos sujas da pelegada/ do bolso raso dos operários”. Era também em versos que Bandeira escrevia aos amigos, aos colegas professores e a seus alunos, ao editor e ao senhorio.

Um quebrador de vidraças – Quando morava no casarão da Rua Curvelo, nas colinas de Santta Teresa, no Rio de Janeiro, Manuel Bandeira se enternecia com os meninos que quebravam as vidraças na rua jogando uma “pelada”. Para quem entrou pela poesia brasileira quebrando as vidraças do poema bem comportado e substituindo o sonêto de colarinho engomado dos parnasianos pelo pijama do verso livre e pela linguagem de andar em casa, a poesia se confundiu sempre com a infância e a traquinagem.

Antes mesmo da cartilha, ele tem um aprendizado poético no próprio ambiente da sua cidade natal: o Recife de fins do século XX, com suas ruas de nomes evocativos – Rua da União, Rua da Saudade, Rua da Aurora -, com as cantigas de roda, os primeiros livros coloridos e com os mendigos que agradecem uma esmola no alpendre de seu pai recitando uma trova sertaneja.

Todas as noites, em vez de contos de fadas, o menino Manuel pede ao pai que faça com ele o diálogo absurdo de palavras difíceis e sonoras como “protonotária” e “avoengos”. “Assim, na companhia paterna, eu ia-me embebendo dessa ideia de que a poesia está em tudo – tanto nos amores como nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas”, confessa o poeta em seu “Itineráriode Pasárgada”.

Alegria para consumo externo – Só raramente a poesia para ele foi a musa grave da tristeza, do amor perdido, o consôlo da angústia. Na maioria das vezes, ela é a fuga para o reino da fantasia, a sua imaginária Pasárgada (cidadezinha de veraneio de Ciro, o conquistador persa, que o fascina quando depara com ela aos quinze anos, traduzindo um texto grego no Ginásio Pedro II). Pasárgada seria “o que a vida podia ter sido e não foi”. Aquele homem grave e solitário, tuberculoso crônico, colocou não cacos de vidro mas muita alegria sobre o muro que separava sua vida pessoal e os outros, uma alegria “para deliciar os olhos e de consumo externo”. A poesia sempre foi para Bandeira a linguagem diária, o trôco miúdo da sua comunicação com a realidade.

O “São João” de 22 – Muitas vezes Manuel Bandeira antecipava-se a seu tempo: predecessor da Semana de Arte Moderna de 1922, a ponto de Mário de Andrade chamá-lo de “São João Batista que, profeta, anuncia o Modernismo”, num poema que causou escândalo na época declara-se “farto do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público com livros de pontos/ …e manifestações de aprêgo ao Sr. Diretor”.

Noutras, volta às formas tradicionais do verso português para cantar a amada: “Na sombra cúmplice do quarto,/ ao contato das minhas mãos lentas/ a substância da tua carne/ era a mesma que a do silêncio”. A sua rara dor vem envolta em muita doçura, dentro de seu retraimento que só capitulava diante de poucos amigos. Dela ele destilou seus poemas que permanecem depois da sua morte aos 82 anos de idade, e sua confissão recente: “Sinto-me um fantasma, todos os meus amigos morreram, a minha cidade morreu. Eu já morri e meu mundo já se foi embora”.

(Fonte: Veja, 23 de outubro de 1968 -– Literatura -– Edição 7 –- Pág; 64)
(Fonte: http://www.caras.com.br – Edição 903 – Ano 17 – Número 59 – 21/02/2011 – Citações)

 

 

Manuel Bandeira (1886-1968), poeta, crítico literário e tradutor pernambucano.
(Fonte: http://www.caras.uol.com.br – 24 de fevereiro de 2011 – EDIÇÃO 903 – Citações – ANO 18)

Morre em 13 de outubro de 1968, aos 82 anos, o poeta recifense Manuel Bandeira, autor de Itinerário de Pasárgada.

(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – Nº 17.899 – HOJE NA HISTÓRIA – 13 de outubro de 2014 – Pág: 36)

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