Lola Beltrán, foi uma comovente cantora mexicana cujas interpretações dolorosamente emocionais de baladas mariachi a tornaram conhecida como Lola, a Grande por gerações de latino-americanos, conheceu Tomas Mendez, o compositor que comporia muitas de suas canções de maior sucesso

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Lola Beltran, cantora; O adorado ‘Grande’ do México

Artista é responsável pela popularização internacional do gênero ranchera

Lola Beltrán foi a primeira cantora de música folclórica a pisar no palco do Palácio de Belas Artes do México, local que até 1976 só admitia concertos de música clássica. (Foto: Cortesia Arquivo Particular/ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

María Lucila “Lola” Beltrán Ruiz (nasceu em 7 de março de 1932, em El Rosario, México – faleceu em 24 de março de 1996, no Hospital Angeles Mexico, Cidade do México, México), foi uma comovente cantora mexicana cujas interpretações dolorosamente emocionais de baladas mariachi a tornaram conhecida como Lola, a Grande por gerações de latino-americanos.

Entre mexicanos e mexicano-americanos, Lola la Grande era tida em alta conta por sua capacidade de captar e reproduzir em sua música o que consideram a essência melancólica da vida. Canção após canção, ela enfrentou o sofrimento, a solidão, o abandono ou a perda com uma equanimidade que seus milhões de ouvintes no mundo de língua espanhola consideraram inspiradora e profundamente comovente.

Numa homenagem a Beltran escrita em 1994, o romancista mexicano Carlos Fuentes declarou que “a paixão e o desejo, a alegria e o risco, a ternura e o grito pela existência são as asas desta pomba que é a voz de nossa senhora Lola Beltran”. Como a maioria dos mexicanos, acrescentou, “passei minha vida vivendo, escrevendo, amando e viajando com a voz de Lola Beltran perto de mim, nos discos, nas ondas do rádio, mas acima de tudo na trilha sonora da memória”.

Embora os devotos de Beltran variassem de presidentes a camponeses, ela era especialmente admirada por seus colegas músicos. Seu notável senso de fraseado, inflexão e drama influenciou toda uma geração de vocalistas mais jovens, tanto homens quanto mulheres, dentro e fora do México.

“Cantores não são mais reais do que Lola Beltran”, disse Linda Ronstadt em 1988, após lançar um álbum que incluía várias canções associadas a Beltran. “Ela é uma cantora de classe mundial, lado a lado com Billie Holiday e Edith Piaf.”

Tanto em sua vida privada quanto profissional, a Sra. Beltran desempenhou o papel de diva ao máximo. Ela se vestia de maneira extravagante, gostava de peles e joias ornamentadas e apreciava a deferência que seus admiradores lhe dedicavam. Consequentemente, ela ganhou um segundo apelido, “La Reina” ou “A Rainha”.

No palco, seja se apresentando para imigrantes mexicanos em feiras municipais no Texas ou em jantares de Estado para Dwight D. Eisenhower, Charles de Gaulle ou o rei da Espanha, seu porte era de fato majestoso. Ela parava a orquestra no meio do compasso com um aceno de mão autoritário ou, em momentos de grande emoção, segurava o rebozo, ou xale, que era sua marca registrada.

Suas origens, porém, eram modestas. Maria Lucila Beltran nasceu no estado de Sinaloa, no noroeste do México, onde seu pai, Pedro Beltran, era gerente de mina. Sua mãe, uma dona de casa que gostava de cantar em casa, expôs a filha tanto aos sucessos da época quanto aos padrões mais antigos.

Em seus primeiros anos, a Sra. Beltran cantava em reuniões familiares ou para as freiras carmelitas que a educaram. Mas em 1953, com sua mãe, Maria de los Angeles Ruiz, como acompanhante, a Sra. Beltran mudou-se para a Cidade do México com a esperança de entrar no show business. Ela conseguiu um emprego de secretária na XEW, estação de rádio conhecida em todo o México como a casa dos Mariachi Vargas, o grupo mais popular do gênero.

Mais tarde, Beltran contaria como ela importunou o grupo até que eles lhe deram a chance de mostrar suas habilidades vocais. A pureza de sua voz e sua técnica magistral os conquistaram imediatamente e, em um ano, ela se tornou a estrela de seu próprio programa e a cantora de mariachi mais popular do México. “Ainda hoje, sempre que passo pela estação, faço o sinal da cruz”, disse ela numa entrevista em 1988, como um gesto de gratidão pela boa sorte.

Através dos Mariachi Vargas, Beltran também conheceu Tomas Mendez (1927 – 1995), o compositor que comporia muitas de suas canções de maior sucesso. Vários desses números, “Cucurrucucu Paloma” e “Tres Dias” em particular, tornaram-se sucessos em todos os lugares – inclusive nos Estados Unidos – e fizeram de Beltran uma estrela em todo o mundo de língua espanhola.

“Quando ouço uma música, quero que ela me diga alguma coisa”, disse Beltran na mesma entrevista. “Pode contar a história de um grande amor ou de uma tristeza tremenda, mas tem que ter emoção e verdade. A música tem que fazer valer a pena cantá-la.”

Embora muitos dos contemporâneos de Beltran já tenham desaparecido de cena há muito tempo, ela manteve seu apelo entre aqueles que se consideram descolados e contemporâneos. O diretor de cinema espanhol Pedro Almodóvar, por exemplo, usou a versão de Beltran de “Soy Infeliz” ou “I Am Unhappy” como tema de abertura de seu sucesso de 1988, “Women on the Verge of a Nervous Breakdown”.

Ao todo, Beltran gravou mais de 100 álbuns, com vendas totais estimadas em dezenas de milhões. Ela também apareceu em mais de 50 filmes, a maioria deles musicais mexicanos de qualidade indiferente, que deviam seu sucesso comercial à sua notável popularidade e à sua voz sombria e penetrante.

Lola Beltrán faleceu na noite de domingo 24 de março de 1996, na Cidade do México. Durante uma carreira que durou cinco décadas, ela fez questão de se recusar a discutir sua idade, mas acreditava-se que ela estivesse na casa dos 60 anos.

A causa foi um acidente vascular cerebral, disse sua filha, Maria Elena Leal, em reportagens de jornais.

Beltran sofreu um ataque cardíaco em 16 de março e foi hospitalizada, mas prometeu continuar cantando “enquanto o corpo aguentar”. Reanimada pelos médicos depois que seu coração parou de bater por sete minutos, ela comentou: “Lutei contra a morte com todas as minhas forças, e Deus, em Sua infinita compaixão, permitiu-me viver mais um pouco”.

Dona Beltran deixa uma filha, fruto do casamento com o toureiro e ator Alfredo Leal.
(Créditos autorais: https://www.nytimes.com/1996/03/26/nyregion – New York Times/ NOVA YORK REGIÃO/ Por Larry Rohter – 26 de março de 1996)
Sobre o Arquivo
Esta é uma versão digitalizada de um artigo do arquivo impresso do The Times, antes do início da publicação on-line em 1996. Para preservar esses artigos como apareceram originalmente, o Times não os altera, edita ou atualiza.

Ocasionalmente, o processo de digitalização introduz erros de transcrição ou outros problemas; continuamos trabalhando para melhorar essas versões arquivadas.
Uma versão deste artigo foi publicada em 26 de março de 1996, Seção D, página 27 da edição Nacional com a manchete: Lola Beltran, Cantora; “O adorado ‘Grande’ do México”.
© 1996 The New York Times Company

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