Lázaro Brandão, um dos banqueiros mais poderosos da América Latina.

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Poucas pessoas no País emanam tanto poder quanto Lázaro Brandão, presidente do Bradesco

Lázaro Brandão, um dos banqueiros mais poderosos da América Latina

Brandão sempre exerceu o poder com muita modéstia, sem precisar lembrar do poder que tem

O poder caminha pausadamente entre o chiaro, do carpete, e o scuro, da mobília. Não para diante da porta fechada, pois sabe que ela se abrirá no momento exato. Ao entrar na sala, os presentes se levantam, num sobressalto, fazem um leve meneio com a cabeça, hesitando alguns instantes até esticar a mão para cumprimentá-lo. Um discreto e gentil aceno e, só então, todos se sentam. A fala segue a toada dos seus passos, lenta, calculada, concedendo ao interlocutor o mando de campo da conversa. Devolve uma pergunta com outra pergunta, como se evitasse o desperdício dos prólogos, poupando palavras para o epílogo. Ao fim do encontro, duas ou três precisas observações amarram todos os temas tratados. E, então, a ritual se repete, com as devidas reverências que precedem a compassada saída da sala. O silêncio que se segue corrobora a liturgia do momento e galvaniza uma convicção: poucas pessoas no País emanam tanto poder quanto Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração do Bradesco e um dos últimos representantes de uma mítica linhagem de banqueiros nacionais.

Se há um quê de Amador Aguiar em cada diretor do Bradesco, Lázaro Brandão é praticamente o reflexo do fundador do banco. Tal qual o predecessor na presidência da instituição, começou a trabalhar como contínuo. Em 1942, aos 16 anos, foi contratado pela Casa Bancária Almeida & Cia., que daria origem ao Bradesco. Ambos também se assemelham no estilo de vida. Mesmos os amigos e colaboradores mais próximos nunca viram em Brandão um sinal de ostentação, um traço de soberba. Um dos banqueiros mais poderosos da América Latina, o presidente do conselho de administração do Bradesco se porta como nos tempos em que visitava agências, não raramente ao lado do próprio Amador Aguiar, para colher sugestões e críticas de clientes.

Há mais de meio século no Bradesco, “Seu” Brandão cumpriu a travessia comum aos dirigentes da casa. Degrau por degrau, passou por todas as áreas e cargos de gestão. Em 1963, com 21 anos de banco, foi nomeado diretor. Em setembro de 1977, chegava à posição de vice-presidente. O trajeto para o cume da hierarquia foi mais breve: quatro anos depois, ele assumiria a presidência do Bradesco. Ficou no cargo entre 1981 e 1999. Dos quatro ungidos que já se sentaram naquela cadeira, incluindo o atual ocupante, Luiz Carlos Trabucco, Brandão só não permaneceu mais tempo no posto do que Amador Aguiar, que presidiu a instituição de 1943 a 1980. Somando-se o tempo como presidente do Conselho, lá se vão 32 anos na cabeceira da lendária mesa ovalada onde diariamente despacham todos os integrantes do Alto-Comando do Bradesco – távola que já testemunhou algumas das maiores decisões empresariais da história do país.

Como um revérbero fiel de Amador Aguiar – e, isso não quer dizer, em absoluto que lhe falte luz própria –, Lázaro Brandão jamais arredou o Bradesco um milímetro à esquerda ou à direita do percurso traçado pelo seu fundador. No jeito de operar e na própria forma de conduzir sua estratégia, a instituição ainda se assemelha, e muito, ao velho Banco Brasileiro de Descontos. O que, para a concorrência, às vezes é tratado até com certo desdém, para o Bradesco é quase uma carta de princípios. Com indisfarçável orgulho, em suas raras entrevistas Brandão costuma lembrar que o banco sempre se notabilizou por “olhar no olho” do cliente que entrasse na agência para pagar uma simples conta de luz. “O tempo não mudou a essência de um banco, que é financiar projetos das pessoas e das empresas”, repete com tanta naturalidade que a frase passa longe de soar como um reclame comercial.

Ao que consta, Lázaro Brandão não se seguiu certas manias de Amador Aguiar, como a de evitar a contratação de funcionários com barba ou de pessoas que não tivessem religião. Mas procurou manter a filosofia do banco e a forma como Aguiar sempre lidou com o prestígio e a força do cargo. Como dizia Margareth Thatcher, “estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar às pessoas que você é, você não é”. Detentor da palavra final em um dos maiores grupos financeiros da América Latina, com R$ 800 bilhões em ativos, R$ 200 bilhões em depósitos, cem mil funcionários e cinco mil agências, “Seu” Brandão sempre exerceu o poder sem precisar lembrar do poder que tem. Nunca foi homem de declarações bombásticas, comentários corrosivos ou críticas exibidas, assim como jamais precisou alardear seu relacionamento e prestígio junto ao governo – diga-se de passagem, qualquer governo. Assim como os demais dirigentes do Bradesco, Lázaro Brandão costuma medir o risco pessoal e institucional com o mesmo rigor com que o banco administra sua carteira de crédito. Bradesco e polêmicas são como água e azeite.

Responsável, tanto na presidência executiva como à frente do Conselho, por seguidos ciclos de expansão do Bradesco, Lázaro Brandão implantou diversos dos procedimentos que formam a espinha dorsal da gestão do banco. Criou o rigoroso sistema de metas trimestrais. Também acentuou o foco na permanente ampliação da capilaridade e na prestação de serviços para todas as classes sociais, com ênfase nos estratos mais populares. Não por acaso, entre todas as grandes instituições financeiras nacionais, o Bradesco foi aquele que mais se beneficiou com a entrada, nos últimos anos, de milhões de brasileiros no mercado bancário.

Não se nota em Lázaro Brandão qualquer passo rumo à aposentadoria. Mas, com o passar do tempo e a importância do cargo, é compreensível que o mercado especule, com certa dose de excitação, os nomes dos candidatos à sua sucessão. Muito se fala no próprio Luiz Carlos Trabuco Cappi. Nada mais natural que o atual presidente executivo do Bradesco lidere a bolsa de apostas. Até porque em 2016 ele atingirá a idade limite de 65 anos imposta no estatuto do banco para os ocupantes de cargos na gestão executiva. Exatamente nesse ano, Lázaro Brandão estará completando nove décadas de vida. Quem conversa por meia hora com “Seu” Brandão não tem qualquer dúvida em relação aonde ele que estar em 2016.

(Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br – OS 60 MAIS PODEROSOS DO PAÍS – Por iG São Paulo – 7 de outubro de 2013)

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