Konrad Lorenz, cientista do “ethos”, isto é, dos hábitos e comportamentos.

0
Powered by Rock Convert

Lorenz: a etologia humana

Konrad Lorenz (Viena, 7 de novembro de 1903 – Viena, 27 de fevereiro de 1989), médico, zoólogo e etólogo austríaco (cientista do “ethos”, isto é, dos hábitos e comportamentos), autor de “Da Agressão”), observador há meio século do comportamento de dezenas de animais. A etologia parte do pressuposto de que o comportamento dos animais é “um movimento de unidades complexas, tão exatamente previsível como outros movimentos de unidades complexas relacionadas, ou sejam, os processos físicos, químicos e biológicos”, podendo assim tornar-se uma ciência tão exata quanto a física, a química e a biologia. Lorenz aplicou a etologia ao homem, considerando igualmente o pensamento como um processo natural, como os processos físicos e biológicos.

Verificou por exemplo que o homem, como os ratos, se torna superagressivo em condições de superpopulação e, como os primatas, tende à impotência sexual se lhe faltar carinho na fase inicial de sua existência. Lorenz juntamente com Karl von Frisch, que decifrou a linguagem das abelhas, ambos austríacos, e Nikolaas Tinbergen, holandês (seu irmão Jan ganhou o Nobel de Economia em 1971), introdutor de experiências para testar hipóteses complicadas sobre os animais, foram laureados com o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1972, no dia 12 de outubro de 1973, pelo Real Instituto Carolinska de Estocolmo. Lorenz faleceu dia 27 de fevereiro de 1989, aos 85 anos, de câncer, em Viena, na Aústria.
(Fonte: Veja, 17 de outubro, 1973 – Edição 267 – DATAS – Pág; 16)

Pecados do mundo
Com seu livro “Da Agressão”, o professor Konrad Lorenz levantou ondas polêmicas em todo o mundo científico, em 1966. Partindo da observação dos comportamentos rituais de diversos bichos – gansos, ratos e peixes -, Lorenz afirmou que a agressão é uma característica inata do homem. E, em muitos casos, benéfica. Agora Lorenz, o mais eminente membro do Instituto Max Plank para Fisiologia do Comportamento, na Alemanha Ocidental, publicou um novo livro chamado “Os Oito Pecados Mortais do Homem Civilizado”.

Ele admite abertamente que parte da sua obra é mais especulativa do que estritamente científica. “Eu sigo uma regra pela qual um cientista só deve dizer ou escrever aquilo que ele já tem como certo, com uma exceção”, diz ele: “quando estiver chamando a atenção para um perigo.” Lorenz completa: “Esse livro é a exceção”. Em seguida, o velho mestre sintetiza os oito capítulos mortais.

Superpopulação – “Realmente, a superpopulação é a raiz de toda a desgraça. E, só por ainda existirem uns poucos países que possam sentir-se lesados porque não foram subjugados pelo progresso, isso não significa necessariamente que haja lugar para mais gente superfície terrestre.” O temor não está na escassez geral de alimentos. A falta de espaço abrirá caminho para uma agressão descontrolada, exatamente como fazem os ratos quando submetidos a uma área limitada e superpovoada.

E, ao contrário dos ratos histéricos que sempre preservam alguns companheiros para assegurar a reprodução da espécie, teme que o homem se destrua radicalmente.

Poluição – “Os perigos da poluição são tão óbvios que a gente só pode esperar que se faça alguma coisa antes que seja tarde demais. Eu creio que o homem muito cedo verificará que atingiu um ponto sem retorno possível.”

Desenvolvimento descontrolado – As nações industrializadas comprometidas com o crescimento ilimitado estão deliberadamente fechando os olhos para as perspectivas do futuro. É previsível a detonação de um colapso muito em breve.

A perda da consciência – A busca através da tecnologia e da farmacologia de um mundo sem sofrimento, esforço ou tédio talvez tenha êxito de uma forma perniciosa, eliminando sentimentos e destruindo a capacidade humana de se divertir, se entusiasmar, pesquisar. “As maiores alegrias da vida”, “raramente podem dispensar algum trabalho.

Decadência genética – A persistente propensão do homem para o amor é benéfica porque conduz à monogamia. E maléfica porque esquece importantes consideração genéticas a respeito do companheiro. A solução, neste caso, se torna extraordinariamente difícil. “A educação seria a única resposta. Entretanto, não s epodem produzir seres humanos como os nazistas pretendiam criar uma raça SS.”

A quebra das tradições – A dificuldade de as crianças se identificarem com seus pais provém do crescente abandono dos valores tradicionais na sociedade moderna. Muitas vezes só se conhecem as funções de um costume tradicional depois de eliminá-lo.

Suscetibilidade a doutrinação – A manipulação do pensamento das pessoas, no ocidente, através da propaganda, pesquisas de opinião e elaboração de notícias, com o mesmo processo empregado pelos dirigentes do bloco comunista. O objetivo de reduzir o indivíduo a uma unidade facilmente controlada é também semelhante, nos dois sistemas.

Armas nucleares – Os armamentos nucleares como os mais horríveis e os mais facilmente absolvíveis, entre seus oito pecados mortais. Devemos parar de produzi-los e de lançá-los.
(Fonte: Veja, 15 de agosto, 1973 – Edição 258 – Entrevista – Pág; 93)

O perigo da agressividade
Durante 50 anos, Lorenz estudou o comportamento e as reações dos bichos. E ele diz francamente: “Eu também sou um animal”.

“Pensar é uma característica biológica da espécie humana. O pensamento serve para transmitir o conhecimento e para inová-lo. Por isso, contestação e tradição precisam exixtir sempre. E quem pretender partir do ponto zero será provavelmente um cretino.”

Konrad Lorenz, diretor da seção de Fisiologia do Comportamento no Instituto Max Planck, de Mônaco, o mais famoso dos estudiosos de psicologia dos animais e do instinto de agressividade. Lorenz viveu cinquenta anos entre bichos de todas as espécies, estudando o seu comportamento e as suas reações. Completadas as suas pesquisas, dedicou-se ao estudo comparado dos seres humanos.

SÓ O HOMEM CONSEGUE ACUMULAR CULTURA E TRADIÇÃO

Se conhecermos bem os animais, conheceremos bem também os homens. Olhando-se uma mulher amamentar seu filho, deveria ficar claro que somos mamíferos. Parece que só os europeus não compreendem essa verdade.

(Fonte: Veja, 8 de julho, 1970 – Edição 96 – Entrevista/ Konrad Lorenz – Pág; 3)

Powered by Rock Convert
Share.