Karen Blixen, escritora dinamarqueza que se escondia sob o pseudônimo de Isak Dinesen.

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Karen Blixen (Rungstdlund, 17 de abril de 1885 – Rungstedlund, 7 de setembro de 1962), escritora dinamarqueza que se escondia sob o pseudônimo de Isak Dinesen, estreou na literatura em 1934 flertando com temas caros a mestres do absurdo como o italiano Luigi Pirandello (1867-1936).

Mas, apesar do inesperado sucesso de Sete Contos Fantásticos, foram suas narrativas realistas, autobiográficas, que chamaram a atenção do mundo para o seu nome. A Fazenda Africana (1937), por exemplo, onde Karen conta as aventuras e desventuras do período em que viveu no Quênia, foi desde o início um sucesso de crítica e público. O livro serviu de base para o filme Entre Dois Amores (1985), de Sydney Pollack (1934-2008), que por sua vez arrebatou sete Oscars.

Outro texto de Karen com traços autobiográficos, o conto A Festa de Babette (1958), também explodiu no cinema. Levado às telas por Gabriel Axel, esse delicado mergulho na realidade das vilas dinamarquezas onde a escritora passou parte de sua infância faturou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988.

Sombras na Relva, publicado pela primeira vez em 1960, é outro bom momento da obra de Karen Blixen baseado em sua própria vida. Nas quatro narrativas que compõem o livro, Karen retoma, com o mesmo vigor de A Fazenda Africana, sua experiência no Quênia. Cada um dos textos de Sombras na Relva é uma tentativa de arrancar do plano da mera lembrança pessoal uma coleção de experiências fascinantes com o ambicioso propósito de fazê-las falar de perto a qualquer pessoa.

RINOCERONTE – Para conseguir isto, Karen se vale de dois recursos. Em primeiro lugar, funde com notável propriedade a reminiscência e a reflexão. Em “Farah”, por exemplo, ao mesmo tempo em que vai se lembrando do empregado que teve e que dá título à narrativa, a escritora toca em questões como honra, fidelidade e amizade. Com isso, o que era íntimo, pessoal, ganha interesse público, coletivo. Para os dias atuais, o texto soa como uma cruel ironia – Farah é um somali e mais de uma vez Karen se refere à beleza desse povo, mais tarde lembrado pelas imagens dramáticas de cidadãos reduzidos a pele e osso pela fome.

A outra arma da escritora é a plasticidade de sua prosa. Não foi por acaso que suas histórias renderam ótimos filmes. Quando se lê um texto como “Barua a Soldani”, o melhor do livro, tem-se a impressão de estar diante de uma tela de cinema, tal a precisão das imagens. “Seguir um rinoceronte em seu próprio território é um trabalho duro; o espaço que ele abre no matagal de espinheiros é algumas polegadas mais baixo do que deveria para o caçador. O elefante, em sua marcha através da densa floresta, abre com facilidade um flagrante túnel verde, grandioso como a nave de uma catedral”, escreve Karen.

Encantado com as narrativas autobiográficas da dinamarqueza, especialmente as do ciclo africano, o escritor americano Ernest Hemingway (1899-1961), também ele um especialista em transformar a própria vida em excelente literatura, fez uma ressalva ao receber o Prêmio Nobel, em 1954. Disse que em seu lugar deveria estar Karen Blixen.

Karen Blixen faleceu em 7 de setembro de 1962, impossibilitada de se alimentar normalmente, aos 77 anos nas propriedades da família em sua cidade natal e, aparentemente, de má nutrição, pesando apenas 35 quilos.

(Fonte: Veja, 13 de janeiro de 1993 –ANO 26 –N° 2 – Edição 1270 – LIVROS –Pág; 75)

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