Josefa de Óbidos, era filha do pintor Baltazar Gomes Figueira, seu pai e mestre.

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Obra da pintora do século XVII foi deixada em depósito no museu, situação rara.

Josefa de Óbidos (Sevilha, fevereiro de 1630 — Óbidos, 22 de julho de 1684), pintora espanhola, autora da obra Menino Jesus Peregrino que Josefa de Óbidos terá pintado já no auge da sua carreira — invulgar para uma mulher do século XVII —, nas décadas de 1660 ou 70, que reúne uma série de traços característicos da sua obra, femininos.

Menino Jesus Peregrino é mais uma obra no acervo que já inclui 15 pinturas da artista que nasceu em Sevilha e escolheu fixar-se em Óbidos.

Josefa pintava meninos como quem pintava bolinhos [que tantas vezes aparecem nas suas naturezas-mortas]e bolinhos como quem pintava meninos — tudo muito minucioso e com “grande doçura”: As suas pinturas são, efetivamente, encantadoras.

Duas das naturezas-mortas que a tornaram tão popular (Com Taça de Cristal e Com Caixas e Potes), um Menino Jesus Salvador do Mundo, uma Adoração dos Pastores e um Casamento Místico de Santa Catarina em ambiente doméstico, com a Virgem sobre um estrado, com um cesto de costura aos pés.

A pintora conquistou um lugar na cultura portuguesa, sendo muito popular no seu tempo, mas também no século XIX, quando o mercado da arte nacional começou a funcionar.

Primeiro começou por ajudar o pai nas grandes encomendas de Coimbra — ainda hoje é discutível a autoria de algumas das obras por causa dessa proximidade — e por trabalhar para uma certa “corte de Aldeia” (à volta de Óbidos há muitas obras dispersas); séculos depois, “todas as boas famílias queriam ter uma natureza-morta da Josefa na sala de jantar”…

O quadro, A Sagrada Família, tela da famosa pintora Josefa de Óbidos enriquecia o acervo artístico da igreja do Mosteiro de Santa Cruz do Buçaco, era considerada a joia do recheio dessa casa religiosa, mítico “deserto” dos monges carmelitas descalços destinado à vida eremítica, classificado depois como monumento nacional.

Aos 34 anos de idade, Josefa de Ayala e Cabrera, conhecida como Josefa de Óbidos (Sevilha,1630-Óbidos,1684) pintou esta tela devocional para os frades do Buçaco, aí representando um tema de piedade tridentina bem adequado ao sentido de pobreza sacrificial vivenciado no deserto carmelitano: o voto do Menino Jesus ao recusar o leite que escorre do seio descoberto da Virgem Maria e preferir abraçar a Cruz, que São José, à esquerda, segura numa espécie de ato premonitório da Paixão, e com relevância especial numa casa dedicada ao culto da Santa Cruz.

Temas como este tinham grande impacto no século XVII, no quadro da doutrina contra-reformista tão atreita a desenvolver uma propaganda credível através do bom uso das “imagens sagradas”, e o quadro de Josefa não fugiu à regra, com cuidados de execução que atestam o desvelo com que a encomenda foi cumprida – tratando-se ademais de uma época conturbada de guerra com Castela em que se consumia o reino português recém-independente. Este tema será, aliás, retomado por Josefa, oito anos volvidos, numa das telas para a igreja dos carmelitas de Cascais (1672), conservadas na igreja matriz dessa vila.

O interesse histórico-artístico do painel radica no facto de se tratar de uma das primeiras encomendas de Josefa como pintora profissional, depois de uma fase onde a primazia da sua atividade criativa fora (para além da colaboração com o pai) a miniatura sobre cobre, a gravura a buril, a caligrafia e, ao que se crê, a imaginária em terracota. O retorno de Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), seu pai e mestre, à vila de Óbidos, coincide com a fase em que paulatinamente ele deixa de pintar, depois de uma carreira de sucesso (primeiro em Sevilha, depois na corte “restauracionista” de Lisboa), e as previsíveis dificuldades financeiras da família levaram Josefa a ter de responder a encomendas sacras para assegurar sustento. A primeira foi a pintura de cinco telas para o retábulo do altar de Santa Catarina (1661) na Igreja de Santa Maria de Óbidos, com resultados de tal modo sedutores que lhe abriram as portas desse mercado beato de casas religiosas, confrarias, irmandades e oratórios privados de província, que se manterá atraído pela pintora até à sua morte em 1684.

A tela do Buçaco, de médio formato (1030×1580 mm), estava assinada e datada de 1664, e em precárias condições conservativas, o que levou a que fosse restaurada no Instituto José de Figueiredo, a fim de poder ser “mostrada” em 1991, na grande exposição Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco, realizada no Palácio Nacional da Ajuda, onde figurou com o n.º 23 (entre 113 pinturas). O quadro foi encomendado pelos “frades do deserto” (cujo cenóbio fora fundado em 1628 a instâncias dos duques de Aveiro e do bispo-conde de Coimbra D. João Manuel) e mostra, dentro das suas naturais convenções de discurso e limitações inventivas, o talento da artista, a maturação do seu estilo e a crescente afirmação dos seus pessoalíssimos modelos e receitas. São essas quaIidades que justificaram a fama de Josefa no contexto da arte portuguesa do século XVII (e no contexto do Naturalismo barroco peninsular, em que a sua arte se insere). É por tudo isto que a destruição da Sagrada Família, de 1664, não pode deixar de ser considerada uma tragédia para o patrimônio artístico nacional.

Josefa nasceu em Sevilha quando Baltazar Gomes Figueira lá trabalhava, foi apadrinhada por um importante pintor espanhol da época, Francisco Herrera, e começou por copiar os modelos que encontrava na oficina do pai, alguns de Francisco de Zurbarán, que ele terá chegado a conhecer.

Ela aprende em segunda mão, mas não é em nada menor do que o pai, Baltazar Gomes Figueira tinha outro mundo, outra relação com os modelos, eventualmente mais informada, mas Josefa soube desenvolver a sua própria maneira de pintar.

Uma mulher singular

Na época, e apesar de uma clientela fiel, ainda que “restrita e muito regional”, esta artista que se formara na oficina do pai, o pintor Baltazar Gomes Figueira, não tinha a mesma projeção de outros colegas de profissão e havia até quem a acusasse de erros de perspectiva elementares.

Não era comum no antigo regime uma mulher solteira, sem descendência direta e, ainda por cima, capaz de se sustentar. “Isso devia incomodar muita gente.”

(Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia – CULTURA/ Por LUCINDA CANELAS e JOANA BOURGARD 22/01/2014)
(Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia – CULTURA/ Por VÍTOR SERRÃO – OPINIÃO – 06/01/2014)

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