José Joaquim de Andrade Neves (1807-1869), Barão do Triunfo

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José Joaquim de Andrade Neves (Rio Pardo, Rio Grande do Sul, 22 de janeiro de 1807 – Assunção, Paraguai, 9 de janeiro de 1869), Barão do Triunfo, grande general brasileiro comandante de uma das colunas do Exército brasileiro.
(Fonte: Correio do Povo – Ano 116 – N.° 101 – CRONOLOGIA/ Por Dirceu Chirivino – 9 de janeiro de 2011 na História – Geral – Pág; 16)

VIDA MILITAR DO GENERAL JOSÉ JOAQUIM DE ADRADE NEVES

Nasceu na vila de Rio Pardo, província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, a 22 de Janeiro de 1807, filho de major José Joaquim de Figueredo Neves e D. Francisca Thomásia de Andrade Neves.

Assentou praça, como 1º cadete, no 5º Regimento de Cavalaria de Linha, em 22 de Novembro de 1826. Um ano depois, seu pai, dele precisando para atender os encargos da sua modesta família; deu um substituto serviço militar, como então a lei permitia.

A revolução, em que 20 de Setembro de 1835 irrompeu em sua província natal, levou-o novamente às armas, como voluntário da Guarda Nacional, em defesa da causa legal.

Nas diferentes pelejas que se feriram nessa luta de irmãos, Andrade Neves, em menos de um ano, deixou firmada sua reputação militar, demonstrando sua índole guerreira indômita bravura nos combates.

Em 1836 tomou parte nos seguintes ataques contra os dissidentes: 12 de Fevereiro, em Canopé; em 17 de Março, no Passo do Rosário; 30 de Março, no Arroio dos Cachorros; 9 de Setembro, na Capela Grande; 4 de Outubro (já alferes, promovido a esse posto em 20 do mês anterior), na Ilha do Fanfa. Nessa data, no próprio campo de batalha em que se distinguiu, foi promovido a major da Guarda Nacional.

No ano seguinte (1837), como comandante do corpo, tomou parte e distinguiu-se nos seguintes combates: 10 de janeiro, em Rio Pardo; 17 de abril, na Fortaleza; 25 de julho; 19 de julho; 12 de agosto, na Azenha, em Porto Alegre; 29 de setembro, na Aldeia dos Anjos.

Em 1838 combateu: no Passo do Barnabé, em 18 de março; no Rio Pardo, em 30 de abril; no passo da Areia, em 6 de outubro.

Em 1839 o comandante em chefe do exército em operações no Rio Grande do Sul convidou Andrade Neves a entrar para o quadro do exército, no posto de Alferes. Sendo ele já então major comandante do corpo, havendo como tal prestado seus serviços rejeitou o oferecimento; e como simples oficial da Guarda Nacional continuou a servir até o fim da revolução.

O decreto de 25 de janeiro de 1840 conferiu-lhe o posto de major honorário de exército.

Em 1840, no prosseguimento da guerra interna, Andrade Neves combateu em 29 de janeiro, nas imediações de Porto Alegre, e em 3 de maio em Taquari, onde recebeu dois ferimentos de balas, sendo citado em oficio do comandante das armas.

A 7 de setembro de 1841 foi nomeado tenente-coronel honorário do exército. Em 1843 continuou em operações ativas, no comando do 9º corpo de cavalaria da Guarda Nacional. Em 1844 combateu no Passo do Rosário, a 28 de abril; em Ponche Verde, a 26 de maio; em D. Marcos, a 27 de dezembro. Em 1845, a feliz pacificação do Rio Grande veio interromper a brilhante carreira de seus feitos militares.

O ilustre guerreiro, tão ativo nos combates, como estremecido pela união de seus compatriotas, recolheu-se cheio de júbilo, ao lar doméstico, trazendo a sua fé de ofício escrita nas honrosas cicatrizes de seu corpo. De alferes a tenente-coronel, cada posto ele conquistara no campo de batalha, por ato de bravura.

Em 2 de julho de 1847 foi nomeado coronel da Guarda Nacional; e por decreto de 21 de janeiro de 1950, comandante superior desse milícia nos municípios de Rio Pardo e Encruzilhada.

Abrindo-se a campanha contra Rosas, em 1851, Andrade Neves organizou um corpo de voluntários e engajados, a cuja frente marchou, a 20 de junho, indo reunir-se ao exército em operações.

A 28 de agosto foi nomeado comandante da 7º brigada de cavalaria, composta do 3º regimento de linha e do corpo da Guarda Nacional do Rio Pardo.

Em agosto de 1852, finda a campanha, recolheu-se à sua província.

As nossas relações com o Paraguai, estremecidas em 1850, assumiam caráter grave em 1857, tornando-se iminente uma guerra com esse Estado.

Andrade Neves, sempre pronto ao serviço da Pátria, organizou com as guardas nacionais de seu comando, uma brigada, que foi estacionar em observação, à margem esquerda do Rio Ibicuí.

No exército de observação Andrade Neves teve sempre comandos superiores e prestou relevantes serviços, conquistando as honras de brigadeiro honorário do exército, conferidas em 15 de abril de 1858.

Dissolvido o exército de observação em maio desse mesmo ano, Andrade Neves recolheu-se ao seio de sua família.

Mas os acontecimentos de 1864cahmaram-no outra vez às armas, sendo-lhe incumbida a missão de organizar uma brigada com as guardas nacionais de seu superior comando. Com ela formou o 5º e o 6º corpos provisórios, em que entraram seus antigos camaradas, bem como todos os seus aderentes e seus dois filhos varões. Em sua casa só ficaram sua esposa e filhas e um neto de cinco anos de idade. (22)

Sua brigada de cavalaria (3ª) foi incorporar-se à 2º Divisão, comandada pelo brigadeiro José Luiz Mena Barreto. A 1º de dezembro penetrou ela em território da Banda Oriental do Uruguai.

Depois do combate vitorioso de Paissandu (de que não participou a cavalaria), a fôrça brasileira marchou para Montevidéo, a cujo sítio Andrade Neves assistiu, cabendo-lhe atacar e vencer as forças que ocupavam a Fortaleza de Cerro.

Abre-se então a campanha contra o tirano Francisco Solano Lopez, campanha que vai cobrir de sangue e de miséria a República do Paraguai, começando a devastação, trazida pelos fanáticos do terrível ditador, pelos campos e cidade do Brasil e da Argentina, surpreendidas em seus labores pacíficos e às pressas defendidas quais exclusivamente pelas levas de voluntário que mal podiam conter a sanha do invasor, militarmente organizando e solidamente adestrado no manêjo das armas.

Contra eles unem-se o Brasil, a Argentina e o Uruguai.

Para encontrar o inimigo que nos acometera, os exércitos aliados tiveram de executar uma das mais memoráveis marchas, que regista a história militar de todos os tempos.

Desde Montevidéo até Assunção, seguiram as forças brasileira, argentina e uruguaia, em um percurso de trezentas léguas, abrindo caminho, primeiro por entre lagos de lama e água, depois varrendo diante de si, em sangrentos combates, o inimigo que se retraía aos seus formidáveis entrincheiramentos.

Em março de 1865 começou essa operação, que só foi terminar em janeiro de 1869, com a posse de Assunção.

Andrade Neves, tocando já a idade de 60 anos, fez toda essa marcha á frente da divisão aguerrida, que ele formara á sua imagem, comunicando-lhe o se o ímpeto e ardor, partilhando dia por dia de seu sofrimento e de suas glórias.

Nos dois primeiros períodos da guerra- o da agressão paraguaia e início da contraofensiva aliada culminada em 24 de maio de 1866 e o de inação em frente a Estero Bellaco, que vai findar com o primeiro semestre de 1867-predominaram as ações de infantaria e artilharia. A marcha de flanco iniciada a 22 de julho marca o início da guerra de movimento e, portanto, o período brilhante da cavalaria.

Vai o exército aliado lançar-se contra a formidável barreira de Humaitá. Na vanguarda seguem duas divisões de cavalaria brasileiras. Uma delas (a 2ª) é a de Andrade Neves, cujo arrojo e bravura só vão ter solução de continuidade, para não mais prosseguir, detidas pela fatalidade, em 6 de janeiro de 1869. (23)

Em 1867 é nos seguintes feitos que se distinguem as tropas de Andrade Neves: 28 de julho, no avanço até a vista de Humaitá; em 31 de julho, no reconhecimento e ataque de importantes sortidas paraguaias, lavada a efeitos pela cavalaria rio-grandense; em 2 de agosto, no combate a Arroio Hondo, seguido de perseguição dos paraguaios em fuga; em 19 de setembro , na derrota do inimigo estacionado em Potreiro Ovelha; em 20 de setembro, no ataque e tomada da Vila de Pilar, brilhante feito de armas que as regras da heráldica vão imortaliza no brasão de Barão do Triunfo, título que lhe foi conferido pelo governo imperial em 19 de outubro de 1867; em 3 de outubro, em S. Solano, na derrota da cavalaria paraguaia que fazia frequentes diversões no exterior das fortificações de Humaitá; em 21 de outubro, no aniquilamento definitivo da cavalaria paraguaia, que deixa no campo cerca de 800 homens e cujo resto são levados de vencida até as portas da fortaleza; em 29 do mesmo mês, no formidável assalto e conquista definitiva do Potreiro Ovelha, com participação da divisão Andrade Neves em vertiginosas cargas.

Durante o ano de 1868 novas atividades confirmam a celebridade já conquistada entre amigos e inimigos, pela cavalaria do Barão do Triunfo: a 9 de fevereiro, reconhecimento de Humaitá pelo flanco direito, visando o ataque combinado, fluvial e terrestre; 19 de fevereiro ataque e tomada do Estabelecimento, importante posição inimiga, cujas obras são assaltadas e dominadas pela cavalaria de Andrade Neves operando como infantaria. Nesse combate o general de cavalaria, além de sofrer uma séria contusão no joelho, perde o seu cavala predileto, cuja morte no campo de batalha lamenta nestes expressivos temos; “Foi uma perda sensível. E’ custoso achar outro igual. Tinha todos os combates desta guerra e nele havia eu saído de minha casa”.

A 4 de abril é a progressão para Parecué, na qual as forças de Triunfo tomaram posição nas proximidades do Estabelecimento.

Depois de uma longa e penosa demora em torno de Humaitá a 19 de agosto, né iniciado o movimento para a capital paraguaia, cuja vanguarda é confiada à perícia e à bravura de Andrade Neves no comando de uma força de três armas.

A 26 de agosto essa vanguarda desbarata forças inimigas no arroio Jacaré. Dois dias depois as mesmas tropas conquistam posição fortificada da margem esquerda do Tebicuari.

A 23 de setembro desenrola-se renhida peneja no arroio Surobi-i, na qual Andrade Neves conquista calorosos e juntos louvores do general em chefe.

A 1° de outubro é o reconhecimento à extensa linha do Pekyciri, no qual Triunfo toma de assalto forte trincheira escondida na mata.

A 1° de dezembro a cavalaria de Triunfo, com a do General João Manoel, ambas vindas do Chaco, desembarcam no porto de Ypané, onde fazem junção com o exército, que se prepara para grande batalha do Avahy.

A 11 de agosto é lançada uma das mais brilhantes cargas de cavalaria registradas nesta guerra. O Barão do Triunfo, à frente de sua divisão forte de 2.500 homens, fora no começo da ação encarregado de flanquear o inimigo pela esquerda, cortado-lhe a retaguarda. Igual evolução deveria executar pela direita o brigadeiro João Manoel, em uma divisão de 900 praças. O inimigo movendo-se em retirada, cercado por todos os lados, findou as pontas dos ferros dos nossos lanceiros, deixando no campo 3.00 mortos, 800 prisioneiros e 600 feridos. Essa vitória deu-nos a posse de Villeta, onde o exército brasileiro no mesmo dia entra triunfando.

A 21 de agosto prossegue o exército em sua marcha para o norte, Andrade Neves com a missão de explorar Potreiro Mármore, contornar Lomas Valentinas, bater qualquer força que encontre, arrebanhar gado e interceptar as comunicações entre Lopez e forças do interior do pais. No mesmo dia Andrade Neves comunica ao general em chefe os resultados obtidos com a maior precisão e o mais completo êxito.

Ainda nesse dia, às três horas da tarde, desencadeia-se o taque às posições inimigas de Lomas Valentinas.

O Barão do Triunfo comanda as tropas que atacaram pela esquerda e consegue levá-las ao interior da formidável posição fortificada. Mas, em meio da posição, uma bala veio produzir-lhe grave ferimento no pé, com dolorosa fratura de sua parte anterior.

Organismo já combalido por sofrimento anteriores, contando 64 anos de idade, a febre vem assaltá-lo e o ferimento agrava-se com rapidez.

Em seu leito de dor, “o bravo dos bravos do exército brasileiro”, assim cognominado por Caxias, ouvia o fogo das linhas, que vinha ecoar-lhe na alma, como um dobre de finados.

E é lenta e dolorosa agonia, enquanto outros dois bravos-Osório e Argolo- também gravemente feridos, repousam no leito da dor, que o general José Joaquim de Andrade Neves, Barão do Triunfo, nas vascas da agonia, procurando erguer o busto varonil, balbucia com esforço o seu último comando, que história perpetua, como um exemplo, às gerações que vieram depois dele:

– MAIS UMA CARGA, CAMARADAS!

(Fonte: www.decavalaria.com – Escrito por Leandro Sicorra Wilemberg – 28-nov-2010)

[Resumo da biografia escrita por Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo. Fonte: Sabre au Poing (Mais uma Carga Camaradas), de Marcel Dupont, 2ª Edição 1938.]

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