José Gomes Pinheiro Machado, influente político brasileiro do início do século XX.

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8 de setembro de 1915 – Morre, no Rio de Janeiro, José Gomes Pinheiro Machado, influente político brasileiro do início do século XX. Pinheiro Machado nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, em 8 de maio de 1851.
(Fonte: www.correiodopovo.com.br – ANO 116 – Nº 343 – Cronologia – 8 de setembro)

José Gomes Pinheiro Machado
Dr. Antônio Gomes Pinheiro Machado, natural de Sorocaba, São Paulo, formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito da Capital bandeirante, em 1839. Tomando parte em movimento de protesto a certa lei que reduzia as prerrogativas dos juizes, estêve na iminência de ser prêso. Mas, logo depois, rebentando a revolução de 1842, chefiada por Diogo Feijó e Brigadeiro Tobias de Agular, o Dr. Antônio Gomes Pinheiro Machado a ela se incorporou. Vencida a revolução, então, graças ao Barão de Caxias, o bacharel paulista transferiu residência para o Rio Grande do Sul, instalando-se em Cruz Alta onde ficou trabalhando e casou com dona Maria Manuela Aires, irmã do Dr. Venâncio Aires. Pouco mais tarde adquiriu uma estância em São Luís Gonzaga dedicando-se à pecuária.

Contudo, não abandonou a propriedade de Cruz Alta, onde a 8 de maio de 1851 nascia seu terceiro filho, José, – José Gomes Pinheiro Machado.

Contando 14 anos levou-o seu pai ao Rio de Janeiro, matriculando-o na Escola Militar. Estava no auge a guerra contra o Paraguai. O jovem José Gomes Pinheiro Machado, cheio de ardor patriótico, não resistiu e, não conseguindo licença para incorporar-se às fôrças, resolveu fugir justamente nas vésperas de completar 15 anos. Incorporado, assim, anônimamente num batalhão de Voluntários nos próprios campos de batalha para onde se dirigira na sua fuga, estêve durante dois anos na estacada e trincheiras.

Doente, com a saúde seriamente abalada, foi desligado em 1868. Regressou então, à fazenda paterna onde, em contacto com a vida campeira em que se destacou, se refez completamente.

Aos 22 anos matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, concluindo o curso em 1878.

Conviveu, aí, por dois a três anos com os estudantes gaúchos daquela Faculdade, Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Adolfo Luís Osório, Alexandre Cassiano do Nascimento, com seus irmãos Angelo e Antônio Gomes Pinheiro Machado Filho, Antônio Lara da Fontoura Palmeiro, Artur Otaviano Braga, Boaventura Antônio da Costa, Ferreira Ramos, Eduardo Fernandes de Lima, Henrique Chaves, João Jacinto de Mendonça e João Jacinto de Mendonça Júnior, Vieira da Cunha, Marçal Escobar, Wenceslau Escobar, Oscar Paranhos Pederneiras, Plínio Severino de Freitas Prestes, Tito Prates, Vasco Pinto Bandeira Filho, e outros mais, todos formados entre 1877 e 1882, portanto contemporâneos dêle.

Formado, regressou ao Rio Grande do Sul, instalando-se em Cruz Alta e São Luís Gonzaga continuando a obra paterna na bela estância, advogando e cuidando de política, – o abolicionismo e a propaganda republicana.

Plácida, entretanto corria-lhe a vida, embora militando ativamente na política partidária, colaborando com os próceres da época, especialmente a partir de 1884, comos antigos companheiros de curso com a fundação do órgão republicano em Pôrto Alegre, – A FEDERAÇÃO, – do qual faziam parte seu cunhado Venâncio Aires e seus velhos amigos Júlio de Castilhos e Ernesto Alves.

Homem de princípios, de vontade férrea e notável senso de responsabilidade, desde logo se impôs e pela sua coragem, e intrepidez, já experimentadas nos campos do Paraguai e no episódio de uma fuga da Escola Militar em 1866 para o campo da luta, assumiu o comando, proclamada a República, das fôrças partidárias de Júlio de Castilhos.

A república era seu sonho e com ela sonhava também a maioria dos moços daquele tempo, quase todos já ultrapassando a casa dos trinta e Pinheiro Machado, mais velho com quarenta e oito anos, ao dar-se o magno evento.

Proclamada a República a 15 de novembro de 1889, Pinheiro Machado dela só teve conhecimento em viagem para São Paulo. Não titubeou, porém. Fêz-se de volta, e, de sua fazenda em São Luís Gonzaga, escreveu a seguinte carta a seu amigo e companheiro ideal: – Aparício Mariense da Silva.

“Aparício, Em viagem para São Paulo fui alcançado por sua carta, confirmando a notícia que eu recebera antes pela via de Cruz Alta, da Proclamação da República. Por isso v. deve calcular a enorme alegria que apoderou-se-me d”alma. Deixei da viagem e aqui vim esperar os acontecimentos. Tudo marcha em paz. Se não houver provocação, o que acredito, da parte dos caídos, a ordem será inalterável. Tenho perto de mil homens reunidos. Prontos para o que der e vier. Contem, pois, comigo, – certos de que haja o que houver não retrocedo. – Preciso de notícias circunstanciadas do movimento. Mande – mas por próprio, à proporção que as tenha. Se algures franquearem, o que não espero, não cedam, – iremos até o fim. Agora a República ou a Morte, – Um abraço a cada um dos amigos. Não calcule o desejo louco que tenho de estar com vocês – o que superabunda em minha alma preciso entornar na tua. – Adeus amigo, à la vie et à la mort.

Abraça-te o amigo J. G. PINHEIRO.

São Luís, 19 de novembro de 1889”.

Era o princípio de sua carreira ascensional pois, depois eleito senador pelo Rio Grande do Sul, dedicou tôda a sua vida à grandeza da Pátria, chegando a enfeixar em suas mãos o próprio destino do pais quando o punhal assassino o atingiu pelas costas a 8 de setembro de 1915.

Se Dantas Barreto chegou a dizer, como se afirmava, que deveria ser considerado benemérito da Pátria o que derrubasse Pinheiro Machado, – Manuel Bonfim sociólogo e filósofo, declarou quando lhe perguntaram, se a morte de Pinheiro fôra um bem ou um mal: – “No momento conturbado de nossa política nacional o desaparecimento violento de Pinheiro Machado foi prejudicial pois êle era, no Senado o poder moderador que punha ordem na desordem da Câmara”.

Pinheiro Machado era um autêntico homem sem mêdo. Mas, conta-nos Simão de Mântua, citando uma reportagem de “O Imparcial”, do Rio de Janeiro, “tinha muito mêdo de raio e de água”. E transcreve: – “À noite, começou a chover, a cerração tornou-se espêssa, relâmpagos e trovões multiplicavam-se. Era uma simples borrasca sem maior gravidade, mas impaciente, o general ordenou:

– Chame-me o Moisés.
Veio um velho pilôto, homem quase centenário.
– Quantas braças temos aqui, Moisés?
– Nesta altura e neste rumo, temos entre cem e trezentas, senhor general.
– E não há nenhuma pedra por aqui perto?
– Pedra por aqui, senhor general, só a de amolar faca na cozinha, – disse Moisés rindo-se com bom humor.

Neste momento fuzilou um relâmpago; a face do general destacou-se, lívida, com crispações de agonia. – Voilá l”homme!” (Simão de Mântua (pseudônimo do jornalista João Lage), in “Figurões Vistos por Dentro”, 1.” volume Edição da “Revista do Brasil”, Monteiro Lobato & Cia. Editôres., São Paulo, 1921 (págs. 149 a 189).)

Tipo perfeito de ditador porque tudo recaía sobre ele, Pinheiro Machado jamais recuou, vencendo sempre, o que aumentava, dia a dia, o ódio de seus rivais e antagonistas, que, salvo Rui Barbosa, nunca ousaram enfrentá-lo.

Rui, porém, não o odiava, porque o ódio não cabia na grande alma do imortal baiano. Respeitavam-se mutuamente e quando se degladiavam, era um prazer ouvi-los, serenos e nobres, ambos em defesa de suas ideias democráticas. Por isso ambos sofreram ataques cruéis não se lhes poupando sequer o recanto sagrado do lar.

Entretanto, seus detratores desapareceram sem deixar seus nomes gravados nas páginas de nossa História, enquanto Rui e Pinheiro são ainda hoje, – e sê-lo-ão sempre, – recordados, vivos exemplos eternos de aptidão, justiça e patriotismo.

Hermes da Fonseca Filho, em obra sôbre Pinheiro Machado, comentando o crime de Manso de Paiva na escadaria do Hotel dos Estrangeiros, a 8 de setembro de 1915, disse que aquêle fato fôra produto “da mentalidade anormalíssima da época”, daqueles “tempos de turbulenta insânia moral”, cheia de “ódios primitivos e injustificáveis da mais fútil política de campanário”.

A Europa sangrava com a crueza da primeira grande guerra mundial desencadeada em 1914 e a tensão de além Atlântico já estava refletindo em nosso Brasil, onde a política européia dos países conflagrados pretendia escorar-se, como mercado que era de primeira ordem.

Dai a turbulência do momento aproveitada habilmente pela demagogia partidária avêssa a Pinheiro, desencadeando contra êle a mais feroz e inominável campanha cujas raízes se alimentavam ainda nos campos ensanguentados do Rio Grande do Sul, onde os trucidados de há 20 anos. de parte a parte, clamavam justiça e vingança.

Pinheiro, soldado destemido, homem que jamais tremera, e cuja coragem individual era verdadeiramente admirável, procurava esquecer os velhos ódios de 1893. Procurava, mas. com suas atitudes políticas, férreas, criando em seu redor verdadeiras místicas, mais encarniçava os ódios velhos, açulando os demagogos e irresponsáveis que, na falta de prestígio pessoal, procuravam cartaz com o escândalo político na imprensa e na tribuna.

E foi aí que surgiu o débil mental Manso de Paiva que, fanatizado, não titubeou assumir a responsabilidade única pela morte do herói. E, numa tarde serena, enquanto Pinheiro, saindo do Senado, entrava no Hotel dos Estrangeiros, tendo um colega de cada lado segurando-lhe os braços em gesto amigo, Manso de Paiva, pelas costas., apunhalou-o.

Pinheiro, atrapalhado pelos próprios amigos que com êle seguiam, nem sequer pôde defender-se.

Morreu, assim, como profetizara a 17 de julho dêsse mesmo ano, em discurso pronunciado no Centro Acadêmico Republicano, do Rio de Janeiro:

“Tombaremos na arena, olhando a grandeza de nossa Pátria… não ocultaremos como César a face com a toga e, de frente, olharemos fito a treda e ignóbil figura do sicário”. E isto depois de ter dito ser possível “que o braço assassino, impelido pela eloqüência delirante das ruas” pudesse atingi-lo, não, porém, pela frente, mas pelas costas, como costumam fazer os bandidos e os cobardes.

Divergindo embora da doutrina política de Pinheiro Machado vemos nêle, mais do que o político da época, mais do que o chefe de um simples partido político, o homem representativo, forte, patriótico que, desde a mocidade tudo sacrificava em defesa de seus ideais e da Pátria.

Pinheiro Machado é um símbolo e um exemplo que o próprio Manso de Paiva, na prisão, anos mais tarde, em suas confissões apontava, arrependido do que fizera, como exemplo, chamando a atenção da mocidade para a grandeza dêsse homem de caráter que foi Pinheiro e para a miséria que sempre foi e será o estreito partidarismo político que, até hoje, em nossa Brasil só tem feito uma coisa: dividir as famílias e encher de rastilhos de pólvora o território nacional.

(Fonte: www.paginadogaucho.com.br)

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