João Antônio, escritor paulista. Um dos grandes “tacos” da melhor literatura urbana brasileira.

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João Antônio, escritor paulista. Nasceu numa família pobre, de pai operário. Queria ser escritor. As duras penas, enquanto pelejava em empregos sem futuro, escreveu seu primeiro livro de contos. A casa em que residia pegou fogo, e o incêndio queimou todos os originais. Teimoso, escreveu tudo de novo. Malagueta, Perus e Bacanaço, o livro reescrito, publicado em 1963, virou clássico da noite para o dia. Serviu até de inspiração para o filme O Jogo da Vida, de Maurice Capovilla.
Começou a jogar sinuca aos 16 anos de idade. Gostava de dizer que era “um taco” – na gíria dos salões, aquele que era mestre na arte de encaçapar. Sete anos depois, escreveu o conto “Malagueta, Perus e Bacanaço”, que narra o périplo de três jogadores de sinuca por salões de São Paulo. Os três malandros começam a jornada sem nenhum tostão, vão engrupindo “otários” aqui e ali, embolsam uma boa grana, até que encontram um malandro mais esperto e perdem todo o dinheiro.
Quando nasce o sol, não têm nem para o café. O jogo de sinuca está presente em mais da metade dos contos de João Antônio. Ele via no pano verde, com seus infinitos truques, um espelho da sociedade, do amor, uma metáfora da própria vida. Como os três malandros do conto, o escritor teve altos e baixos, ascensão e decadência.
João Antônio, divorciado, um filho, foi um magnífico cronista da vida no mundo pobre de São Paulo e depois do Rio de Janeiro, para onde acabou mudando. Tinha ouvido insuperável para as falas e gírias dos malandros, dos bêbados, das prostitutas. O crítico João Alexandre Barbosa o coloca na linhagem de João do Rio, Lima Barreto, Antônio de Alcântara Machado, Antônio Candido, o mestre no estudo da literatura brasileira, considera João Antônio um dos maiores constistas do país em todos os tempos.
João Antônio, que também foi repórter, trabalhou na extinta revista Realidade, da Editora Abril, que publica Veja. Ultimamente, o escritor não andava bem. Bebia muito. Viu muitos amigos se afastarem, em função de seu costume de pedir dinheiro emprestado e não pagar. Não que João Antônio estivesse quebrado. Apenas dava a impressão de que se divertia com esse comportamento. Morreu sozinho, em Copacabana, no Rio de Janeiro, aos 59 anos, de infarto. Boêmio até o fim, ele era dado a longos sumiços pelas madrugadas cariocas. Fim de partida para um dos grandes “tacos” da melhor literatura urbana brasileira. Craque do conto e da crônica.

(Fonte: Veja, 6 de novembro de 1996 – Edição 1469 – Datas – Memória/Arlete Salvador – Pág; 138)

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