Jece Valadão, ator que ficou conhecido por seus papéis como cafajeste no cinema nacional.

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O ator era conhecido por interpretar papéis de “cafajeste” no cinema e na TV

Jece Valadão (Campos dos Goytacazes, 24 de julho de 1930 – São Paulo, 27 de novembro de 2006), ator que ficou conhecido por seus papéis como cafajeste no cinema nacional. Nascido Gecy Valadão em Murundu, no Rio de Janeiro, em 1930, um de seus últimos papéis na televisão foi interpretando o “machão” Joe Wayne, na novela da Globo Bang Bang (2005), escrita originalmente por Mário Prata, e concluída por Carlos Lombardi. Mas Valadão iniciou sua carreira no cinema, em Carnaval no Fogo de 1949, e recentemente protagonizou o documentário O Evangelho Segundo Jece Valadão.

Carreira do “cafajeste” do cinema nacional

Aos 18 anos, iniciou-se na vida artística, primeiro como radioator. As ondas do rádio o levaram a ampliar seus horizontes e ele foi trabalhar em Juiz de Fora e Campos, antes de desembarcar no Rio, na Rádio Tupi. Do rádio saltou para o cinema e, em 1949, já estava no elenco de Também Somos Irmãos, filme de José Carlos Burle na Atlântida. O filme era um drama e o personagem, um garçom, não tinha muita importância na trama.

Continuou figurante em Carnaval no Fogo, de Watson Macedo, outra produção de 1949, mas em Barnabé, Tu És Meu, de novo dirigido por Burle, de 1951, e Amei Um Bicheiro, de Jorge Ileli e Paulo Vanderlei, de 1952, os papéis já eram maiores.

A consagração veio com Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, de 1955, que lhe rendeu prêmio como melhor ator (no 1.º Festival do Rio). Ele ainda voltou à Atlântida e à chanchada, com Garotas e Samba, de Carlos Manga, mas logo Nelson Pereira dos Santos o convocou para Rio Zona Norte.

Em 1957, foi fazer teatro – A Mulher sem Pecado – e casou-se com a irmã do autor, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Do palco para o cinemas, voltou a encarnar um personagem rodriguiano em Boca de Ouro, com direção de Nelson Pereira, mais uma vez.

Em 1962, fez com Ruy Guerra Os Cafajestes, que consolidou sua imagem e marcou o cinema do País com o nu frontal de Norma Bengell. A partir daí, e por mais de 20 anos, nunca parou de filmar. Foram mais de cem filmes que ligaram seu nome a figuras fundamentais do cinema nacional – além de todos os cineastas citados, trabalhou com Glauber Rocha no último longa do polêmico autor, A Idade da Terra, e dirigiu os próprios filmes (na empresa Magum, que havia criado). Tendo feito tantos clássicos, não deixa de ser curioso assinalar que Jece tinha um carinho todo especial por Mineirinho, Vivo ou Morto, que Aurélio Teixeira dirigiu em 1967 (Leila Diniz estava no elenco), e por A Lei do Cão, que realizou no mesmo ano.

Atualmente, Valadão estava envolvido no projeto do novo filme de Zé do Caixão, diretor que estava 30 anos afastado do cinema, Encarnação do Demônio.

Este era seu 107.º filme. Há dez anos não pisava em um set de cinema. Seu último filme foi Tieta (1996), de Cacá Diegues, e a série Filhos do Carnaval (2006), da HBO, dirigida por Cao Hamburger (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias).

Cao Hamburger fala do trabalho do ator

Eu realmente estou muito triste. Ficamos muito amigos durante as filmagens de Filhos do Carnaval. E agora eu já estava preparando a segunda temporada da série, que teria, claro, ele como protagonista. Não sei como tudo vai ficar. Eu nunca esperava trabalhar com ele. E tive uma ótima surpresa. Ele, que é um ator tão importante para o cinema nacional, que, só por Os Cafajestes e Boca de Ouro já merecia todos os méritos, ainda tinha muito para contribuir. E percebi isso filmando Filhos do Carnaval. Tão experiente, sempre foi tão generoso comigo e com os atores mais jovens. Sempre tinha algo a ensinar. Fico feliz de ter podido dar a ele este retorno para a carreira dele, que voltou a se oxigenar depois da série.”

Última entrevista de Jece Valadão

Em sua última entrevista à repórter do Estado Flávia Guerra, publicada no último dia 6, o ator falou sobre sua participação no filme de Zé do Caixão: “Estou adorando. Só sofri quando tive de tirar um molde do rosto e quase morri com a sensação de sufocamento”, contou Valadão.

O ator comentou sua história no cinema: “sempre fui o Robin Wood do asfalto. Era o anti-herói, aquele que nunca perdia a briga e que no fim ficava com a mocinha. E sempre recebi muitas críticas. Mas aprendi a conviver com a opinião dos outros. Agora, com Filhos do Carnaval, em que faço um patriarca de uma família de bicheiros cariocas, pela primeira vez na vida virei unanimidade. É curioso”, comenta o ator, que nunca tinha feito terror. “É tudo novo. O terror está a um passo do ridículo. Não é tão fácil e óbvio quanto pode parecer.”

O duelo entre Valadão e Mojica deveria ganhar as telas no segundo semestre de 2007 e coincidiria com uma homenagem que o ator ganhou neste ano do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio: “É uma mostra de vários filmes que fiz. Foi inesquecível ser homenageado em vida”, comentou ele, que tinha contrato de exclusividade com a TV Record. “Estou contente. E mais ainda em saber que há diversidade nas novelas da TV. Ser contratado, seja da Globo seja da Record, é ótimo para qualquer ator. Todos têm contas a pagar.”

Produtor do filme lamenta sua morte

Ao saber da morte de Valadão, o produtor-executivo do filme, Caio Gullane disse não saber “exatamente o que vamos fazer. O Jece era um cara muito querido. Ele tem uma história incrível. Fez dezenas de filmes. E, além disso, estamos no meio das filmagens de A Encarnação do Demônio, no qual o Jece era o antagonista e tinha papel crucial. Começamos a filmar há três semanas. Ele já tinha feito várias seqüências. Este é um filme de baixo orçamento. Qualquer mudança significa muito para nós. Temos de pensar muito bem no que fazer. De qualquer forma, é um baque muito grande para todos”, concluiu Gullane.

Outro projeto

Valadão também participou de um dos episódios de Cinco Frações de uma Quase História, no papel de um juiz corrupto (A Liberdade de Akim, dirigido por Armando Mendz). A estréia está prevista para agosto de 2007.

Jece foi casado cinco vezes. Teve nove filhos. Sua segunda mulher foi a atriz Vera Gimenez.

O ator Jece Valadão, de 76 anos, morreu em 27 de novembro de 2006, no Hospital Panamericano, em São Paulo. Ele havia sido internado em estado grave, no Hospital e Maternidade Modelo, por conta de uma insuficiência respiratória, sendo transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Panamericano.

De acordo com o texto do boletim, “o paciente apresentou nesta segunda uma piora do quadro geral, com instabilidade hemodinâmica e comprometimento da função renal. Iniciou processo de hemodiálise e reintrodução de drogas vasoativas para manutenção da pressão arterial. Apresentou alteração do ritmo cardíaco (arritmia cardíaca). Foi realizada tentativa de reversão do quadro, sem sucesso”.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2006/not20061127p2965 – CADERNO 2 – CINEMA – 27 de Novembro de 2006)

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