Jairo Severiano, historiador que agregou generosidade à pesquisa e à música popular brasileira, maior pesquisador musical do Brasil
O pesquisador musical posa para foto com alguns discos de sua coleção – (Letícia Pontual – 27.nov.2011/Folhapress)
Jairo Severiano (20 de janeiro de 1927 – 27 de agosto de 2022), o maior pesquisador e historiador musical deste país tão rico em sons, compositores, instrumentistas, vozes e ritmos.
Cearense de Fortaleza, passou parte da infância e adolescência em Fortaleza, Natal e Recife. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1950, já funcionário concursado do Banco do Brasil.
Jairo Severiano, historiador, produtor e um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira, viveu longe dos holofotes e da fama.
Jairo começou a gostar de música ainda criança. Na época, acompanhava as transmissões de uma rádio no Ceará, sentado à janela da própria emissora.
A partir daí, Jairo começou a pesquisar e colecionar discos, recortes e matérias sobre música. Em 1970, decidiu catalogar os discos em 78 rpm (rotações por minuto) feitos no Brasil entre 1902 e 1964. O material, editado pela Funarte, deu origem ao livro “Discografia Brasileira em 78 rpm” (1982), de sua autoria. Também assinaram a publicação Miguel ngelo de Azevedo (Nirez), Gracio Barbalho e Alcino Santos.
Entre seus importantes trabalhos, consta a obra “Yes, Nós Temos Braguinha” (1987), biografia do compositor, cantor e produtor Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-2006, conhecido como João de Barro e Braguinha).
Jairo também produziu álbuns que entraram para a história da MPB, como os dois volumes da “Canção no Tempo – 85 anos de Músicas Brasileiras” (1997 e 1998), com Zuza Homem de Mello.
“Eles pegaram as músicas relevantes dessa fase e foram atrás das histórias delas. Jairo não se identificava com a música feita a partir de 86. Depois, resolveu fazer o próprio livro de história, ‘Uma História da Música Popular Brasileira – das Origens à Modernidade’ (2008)”, afirma o jornalista.
Também foi Jairo quem assinou a produção de três álbuns duplos, de Dorival Caymmi (1914-2018), Tom Jobim (1927-1994) e outro com a obra de Ary Barroso (1903-1964), com a participação de vários intérpretes. Os trabalhos datam de 1985, 1987 e 1992, respectivamente.
Ocorrida há quase um mês, mas noticiada somente em 21 de setembro nas redes sociais do também pesquisador musical Rodrigo Faour, discípulo assumido do mestre, a morte de Jairo Severiano, aos 95 anos, tinha que ter sido amplificada na mídia no mesmo volume da saída de cena de Zuza Homem de Mello (1933 – 2020) – com quem, aliás, Jairo escreveu os dois volumes do livro A canção no tempo (1997 / 1998) – 85 anos de músicas brasileiras, lançado originalmente há 25 anos e reposto no mercado em 2016, em edição ampliada.
Trabalhos referenciais na área da musicografia, esses dois volumes são fundamentais para se entender a gênese da música do Brasil, também contada (muito bem) por Jairo em outros livros de caráter enciclopédico como Uma história da música popular brasileira – Das origens à modernidade (2008).
Cearense nascido em Fortaleza (CE), Jairo Severiano fez história no Rio de Janeiro (RJ), cidade para onde migrou em 1950, após ter passado 23 anos entre a a Fortaleza natal (CE) e o Recife (PE). Foi no Rio que o pesquisador morreu de causas não reveladas, tendo vivido os últimos anos sozinho em apartamento na cidade, aos cuidados de enfermeira.
A obra de Jairo Severiano justifica a expressão-já-clichê legado inestimável. Basta citar a edição, em 1982, do livro Discografia Brasileira – 78 RPM – 1902 / 1964 (Funarte) – fruto de incansável pesquisa feita pelo historiador entre 1968 e 1979 com o intuito de inventariar e documentar dados sobre os primórdios da produção fonográfica brasileira – para se ter ideia da importância capital de Jairo Severiano na pesquisa musical do Brasil.
Biógrafo do compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 – 2006), devidamente dimensionado no livro Yes, nós temos Braguinha (1987), Jairo Severiano também produziu discos de caráter documental de gênios como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Dorival Caymmi (1914 – 2008).
A despeito dessa obra monumental, Jairo Severiano era também reconhecido pela simplicidade e generosidade com todos que o procuravam em busca de referências e dados confiáveis sobre a evolução da música brasileira.
(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Folha de S.Paulo / NOTÍCIAS / BRASIL / por PATRÍCIA PASQUINI – 28/09/2022)
(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/09/25 – POP ARTE / MÚSICA / Por Mauro Ferreira – 25/09/2022)
Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em ‘O Globo’ e ‘Bizz’. Faz um guia para todas as tribos